Fruto da castanha do Brasil é alternativa para geração energia

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Pesquisa feita pelo Inpa demonstrou que os resíduos da castanha podem ser aproveitados pela indústria e pelo comércio

Luís Mansuêto, da Assessoria de Comunicação do Inpa

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) demonstrou que os resíduos do fruto da castanha do Brasil podem ser aproveitados pela indústria e pelo comércio.

O material pode ser utilizado na geração de energia tanto na forma in natura quanto na forma de subprodutos, ou seja, carvão, briquetes (pedaços de carvão em blocos menores e compactos), alcatrão (bio-óleo) e gases.

A pesquisa é o resultado do projeto “Fruto da Castanha do Brasil: Potencialidade de Uso como Fonte de Matéria-prima para a Rede Energética do Estado do Amazonas”.

O trabalho foi elaborado pelo técnico do Inpa, Paulo Roberto Guedes Moura, sob a orientação da pesquisadora da Coordenação de Pesquisas em Produtos Florestais (CPPF/ Inpa), Claudete Catanhede do Nascimento.

Moura explicou que o projeto foi apresentado ao curso de pós-graduação: “Agente de Inovação e Difusão Tecnológica”, promovido pelo Sebrae em parceria com a Fucapi.

Moura destacou que o projeto foi elaborado sob a ótica dos danos ambientais causados pela queima de combustíveis fósseis, principalmente, o petróleo.

Segundo ele, a humanidade, no decorrer das últimas décadas, tem buscado novas formas de promover o desenvolvimento sem prejudicar a natureza. Na Amazônia, a questão torna-se ainda mais grave, quando se pensa em levar desenvolvimento à comunidades distantes dos centros urbanos.

No caso, uma das alternativas é a utilização de energias renováveis provenientes de ciclos naturais, os quais são inesgotáveis e quase não alteram a temperatura do planeta, como, os resíduos da castanha do Brasil que teriam como destino o lixo.

A pesquisa demonstrou que os resíduos têm potencial para serem aproveitados como lenha nas usinas térmicas, caldeiras, olarias etc.

Na forma de subproduto (carvão e briquetes), os resíduos podem ser utilizados na indústria siderúrgica na fabricação de aço verde.

Os dados são fundamentados em seis características básicas para um produto ser considerado energético: a umidade; os materiais voláteis; o carbono fixo; o teor de cinzas; a densidade e o poder calorífico.

“Entre as vantagens de se utilizar os resíduos está sua elevada densidade energética. Ou seja, a quantidade de calor contida em um determinado volume de um combustível. Portanto, quanto maior a densidade energética, maior será a energia armazenada pelo mesmo. “Dessa forma, o material demorará mais tempo para ser queimado”, explicou.

Moura esclareceu que durante as análises comparativas da densidade básica do resíduo com outras espécies madeireiras, o mesmo comportou-se como madeira pesada.

“Isso quer dizer que o resíduo obteve um bom desempenho, ou seja, de 838,4 kg/m³, maior do que o Eucalipto grandis, o Eucalipto saligna, a Acácia Mangiun, que foi de 391 kg/m³; 476 kg/m³; 596,1 kg/m³, respectivamente. Essas três últimas espécies são plantadas para produção de energia e podem ser substituídas pelos resíduos do ouriço da castanha”, afirmou.

Ele também ressaltou que quando se comercializa produto madeireiro para fins energéticos, a característica mais importante é a densidade energética.

“O resíduo do fruto da castanha apresentou densidade energética de 3.620.211 kcal/m³, enquanto os outros exemplares apresentaram valores menores: Eucalipto grandis – 1.872.890kcal/m³; Eucalipto saligna - 2.327.164 kcal/m³ e Acácia mangiun – 2.868.433kcal/m³)”, ressaltou.

As aplicabilidades do uso do resíduo do ouriço da castanha não param por aí. Ele também é considerado um produto ecologicamente correta. Isso porque é classificado por ser resultante de plantações naturais ou oriundo de sistemas agroflorestais.

Ou seja, não há a necessidade de plantá-la e depois cortá-la, como acontece com outras espécies.

De acordo com Moura, deve-se dar atenção especial ao alcatrão, um subproduto do resíduo, pois ele é um tipo de bio-óleo de madeira utilizado para geração de energia, pela culinária para dar gosto aos produtos defumados.

Além disso, o óleo também é utilizado na composição da pavimentação de avenidas e para dar mais durabilidade à madeira. “Ele tem um alto valor no mercado consumidor”, enfatizou.

Em relação ao material volátil, a pesquisa concluiu que o carvão resultante dos resíduos apresentou a menor porcentagem, 9,22%, quando comparado com outras espécies: Eucalipto grandis – 19,08% e Acácia mangiun - 21,49%.

Isso quer dizer que quanto menor a porcentagem de material volátil, o carvão queimará mais lentamente durante o processo de produção de energia. O que garante um aproveitamento melhor do produto.

“Enquanto uma determinada amostra de carvão de uma das espécies queima em uma hora, o carvão resultante do material lenhoso do fruto da castanha levará cerca de duas horas para completar o mesmo ciclo”, comentou.

Segundo ele, nas análises do carbono fixo também foi verificado que o carvão resultante da castanha é superior as outras espécies. Enquanto a castanha obteve 88% de rendimento, as espécies Eucalipto grandis e Acácia mangiun obtiveram 80,34% e 73,30%, respectivamente.

Moura disse que quanto maior a quantidade de carbono fixo, maior será a quantidade de calor gerado, pois ele é o responsável pela geração de gás. Por tanto, o carvão da castanha demora mais para transformar-se em cinzas.

De acordo com o técnico, o trabalho que foi realizado demonstra que é possível agregar valor a resíduos que teriam como destino o lixo.

Ele disse que matéria-prima não faltará para alimentar a indústria e o comércio, pois somente em 2004 foi produzido no Amazonas cerca de 9 mil toneladas de castanha. Isso geraria aproximadamente 18 mil toneladas de resíduos do fruto.

“Com os resíduos o Estado teria um retorno de R$ 1 milhão. Na realidade, falta uma pessoa que queira, realmente, investir, ou seja, comprar as cascas de comercializá-las”, finalizou.

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