Washington Castilhos - Agência Fapesp
A descoberta de uma espécie de parasita tida como extinta evidencia que, além dos impactos ambientais mais conhecidos, as mudanças climáticas podem alterar a distribuição de diversas espécies de helmintos e, conseqüentemente, a ocorrência de doenças causadas por esses tipos de vermes.
Após análise feita com fezes fossilizadas de mocós (espécie de roedores) no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, um grupo de pesquisadores passou a suspeitar que uma forte mudança no clima da região há 10 mil anos teria sido a causa da extinção no local de uma espécie de parasita do gênero Trichuris, que pode infectar humanos.
A suspeita da equipe do Laboratório de Paleoparasitologia do Departamento de Endemias da Ensp - Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz), estava embasada no fato de as fezes dos mocós atuais não apresentar o helminto. Porém, ao analisar fezes de roedores da mesma espécie no Parque Nacional Serra das Confusões, também no Piauí, os pesquisadores encontraram o parasita. Com a descoberta, veio a certeza.
“Como hoje em dia o clima no Parque das Confusões é mais úmido, similar ao do Parque da Capivara há 10 mil anos, concluímos que aquela espécie de parasita se extinguiu por causa das mudanças climáticas ocorridas nesse último local. Como o clima no primeiro parque permaneceu úmido, ele conseguiu sobreviver por lá”, disse a paleoparasitologista Luciana Sianto à Agência Fapesp.
Luciana explica que os helmintos são encontrados nas fezes fossilizadas normalmente em ovos, envoltos em uma casca, o que permite a conservação por milhares de anos. “Os helmintos evoluem devagar. O homem moderno tem parasitas que estavam em nossos ancestrais e que não se transformaram em várias espécies, como ocorreu com o próprio homem durante sua evolução”, disse.
A pesquisa será um dos destaques da exposição Paleopatologia: O estudo da doença no passado, que o Museu da Vida da Fiocruz inaugurou nesta segunda-feira (14), no Rio de Janeiro.
Rodízio de parasitas - Segundo a pesquisadora da Ensp, o parasita desapareceu na Serra da Capivara porque, para completar seu ciclo, precisa passar pelo solo. “Se não passasse pelo solo, não se tornaria infectante”, explicou. Por poder sobreviver apenas em temperatura de até 20ºC, quando o clima se tornou mais quente a espécie não resistiu.
No entanto, existem parasitas de ciclos diferentes que, quando eliminados, podem infectar imediatamente, como é o caso do oxiúro, que atinge especialmente crianças. Nesse caso, a contaminação é direta. “Estamos falando de um tipo de parasita que resistiu a mudanças e que veio para o Brasil com as migrações pelo estreito de Bering. Encontramos espécies de oxiúros tanto em coprólitos de humanos pré-históricos como nas fezes da população atual”, disse a pesquisadora.
Além das análises de fezes fossilizadas de humanos e de animais, o Laboratório de Paleoparasitologia da Ensp faz também estudos de dieta de populações antigas. O objetivo é analisar as doenças do passado e avaliar se (e como) seus agentes causais se adaptaram às mudanças climáticas, se surgiram novas endemias ou se retornaram ainda mais freqüentes.
“Assim como achamos em outro local uma espécie de parasita que pensávamos que não existia mais por conta das mudanças climáticas do passado – período em que a caatinga se tornou como a conhecemos atualmente –, podemos encontrar outros parasitas com potencial para afetar humanos”, disse Luciana.
Segundo ela, a partir do momento que um parasita desaparece, pode haver o aparecimento de outro. “E, se não havia transmissão para o ser humano, pode passar a ter. É normal a população ter parasitas. O problema é que, quando se elimina o parasita comum a um indivíduo, abre-se uma porta para outro.”
Poder de adaptação - Segundo Luciana Sianto, com as mudanças climáticas é possível que o homem desapareça e o helminto não. “O parasitismo viveu todas as transformações pelas quais o mundo passou e contribuiu muito para a evolução. A paleoparasitologia estuda o passado para entender melhor o presente”, afirmou.
O material usado pelas análises na Ensp – que inclui, além dos coprólitos (fezes fossilizadas), sedimentos da área pélvica de esqueletos mumificados e latrinas de casas – é resultado de escavações feitas pela Fundação Museu do Homem Americano, no Piauí, que, junto com o Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, administra o Parque Nacional Serra da Capivara, onde se encontra o mais importante patrimônio pré-histórico do Brasil.
A exposição Paleopatologia: O estudo da doença no passado estará na sala de exposições temporárias do Museu da Vida até o dia 9 de setembro. A partir do dia 15, a exposição estará aberta ao público de terça a sexta-feira, das 9h às 16h30, e aos sábados, das 10h às 16h. Os helmintos poderão ser observados pelos visitantes por meio de microscópios com lâminas.
A descoberta de uma espécie de parasita tida como extinta evidencia que, além dos impactos ambientais mais conhecidos, as mudanças climáticas podem alterar a distribuição de diversas espécies de helmintos e, conseqüentemente, a ocorrência de doenças causadas por esses tipos de vermes.
Após análise feita com fezes fossilizadas de mocós (espécie de roedores) no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, um grupo de pesquisadores passou a suspeitar que uma forte mudança no clima da região há 10 mil anos teria sido a causa da extinção no local de uma espécie de parasita do gênero Trichuris, que pode infectar humanos.
A suspeita da equipe do Laboratório de Paleoparasitologia do Departamento de Endemias da Ensp - Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz), estava embasada no fato de as fezes dos mocós atuais não apresentar o helminto. Porém, ao analisar fezes de roedores da mesma espécie no Parque Nacional Serra das Confusões, também no Piauí, os pesquisadores encontraram o parasita. Com a descoberta, veio a certeza.
“Como hoje em dia o clima no Parque das Confusões é mais úmido, similar ao do Parque da Capivara há 10 mil anos, concluímos que aquela espécie de parasita se extinguiu por causa das mudanças climáticas ocorridas nesse último local. Como o clima no primeiro parque permaneceu úmido, ele conseguiu sobreviver por lá”, disse a paleoparasitologista Luciana Sianto à Agência Fapesp.
Luciana explica que os helmintos são encontrados nas fezes fossilizadas normalmente em ovos, envoltos em uma casca, o que permite a conservação por milhares de anos. “Os helmintos evoluem devagar. O homem moderno tem parasitas que estavam em nossos ancestrais e que não se transformaram em várias espécies, como ocorreu com o próprio homem durante sua evolução”, disse.
A pesquisa será um dos destaques da exposição Paleopatologia: O estudo da doença no passado, que o Museu da Vida da Fiocruz inaugurou nesta segunda-feira (14), no Rio de Janeiro.
Rodízio de parasitas - Segundo a pesquisadora da Ensp, o parasita desapareceu na Serra da Capivara porque, para completar seu ciclo, precisa passar pelo solo. “Se não passasse pelo solo, não se tornaria infectante”, explicou. Por poder sobreviver apenas em temperatura de até 20ºC, quando o clima se tornou mais quente a espécie não resistiu.
No entanto, existem parasitas de ciclos diferentes que, quando eliminados, podem infectar imediatamente, como é o caso do oxiúro, que atinge especialmente crianças. Nesse caso, a contaminação é direta. “Estamos falando de um tipo de parasita que resistiu a mudanças e que veio para o Brasil com as migrações pelo estreito de Bering. Encontramos espécies de oxiúros tanto em coprólitos de humanos pré-históricos como nas fezes da população atual”, disse a pesquisadora.
Além das análises de fezes fossilizadas de humanos e de animais, o Laboratório de Paleoparasitologia da Ensp faz também estudos de dieta de populações antigas. O objetivo é analisar as doenças do passado e avaliar se (e como) seus agentes causais se adaptaram às mudanças climáticas, se surgiram novas endemias ou se retornaram ainda mais freqüentes.
“Assim como achamos em outro local uma espécie de parasita que pensávamos que não existia mais por conta das mudanças climáticas do passado – período em que a caatinga se tornou como a conhecemos atualmente –, podemos encontrar outros parasitas com potencial para afetar humanos”, disse Luciana.
Segundo ela, a partir do momento que um parasita desaparece, pode haver o aparecimento de outro. “E, se não havia transmissão para o ser humano, pode passar a ter. É normal a população ter parasitas. O problema é que, quando se elimina o parasita comum a um indivíduo, abre-se uma porta para outro.”
Poder de adaptação - Segundo Luciana Sianto, com as mudanças climáticas é possível que o homem desapareça e o helminto não. “O parasitismo viveu todas as transformações pelas quais o mundo passou e contribuiu muito para a evolução. A paleoparasitologia estuda o passado para entender melhor o presente”, afirmou.
O material usado pelas análises na Ensp – que inclui, além dos coprólitos (fezes fossilizadas), sedimentos da área pélvica de esqueletos mumificados e latrinas de casas – é resultado de escavações feitas pela Fundação Museu do Homem Americano, no Piauí, que, junto com o Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, administra o Parque Nacional Serra da Capivara, onde se encontra o mais importante patrimônio pré-histórico do Brasil.
A exposição Paleopatologia: O estudo da doença no passado estará na sala de exposições temporárias do Museu da Vida até o dia 9 de setembro. A partir do dia 15, a exposição estará aberta ao público de terça a sexta-feira, das 9h às 16h30, e aos sábados, das 10h às 16h. Os helmintos poderão ser observados pelos visitantes por meio de microscópios com lâminas.