Usina autuada por usar madeira ilegal

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Usina Vitória abriga serraria que utiliza toras de mata atlântica

Jornal do Commercio

Seis meses depois de denunciada pelo Ministério do Trabalho e Emprego por uso de mão de obra escrava, a Usina Vitória, em Palmares, a 120 quilômetros do Recife, na Zona da Mata sul, voltou ontem a ser alvo de uma ação do governo federal. Dessa vez foi o Ibama que autuou a empresa por abrigar no seu parque industrial uma serraria abastecida por madeira ilegal. As toras são de mata atlântica, que tem o corte proibido por lei federal.

“A serraria funciona no pátio da indústria e é abastecida com madeira de árvores de remanescentes florestais da região”, afirma o coordenador de operações do Ibama, Alberto Rodrigues. Segundo ele, a serraria pertence à usina ou é arrendada pela empresa, que pertence a José Bartolomeu de Almeida Melo, conhecido como Beto da Usina, também prefeito de Palmares.

Beto da Usina diz que o Ibama se enganou. “Tem uma serraria lá, mas fica num terreno vizinho. Sou dono da usina, mas a serraria não é minha”, garantiu. Alberto Rodrigues informou que as máquinas e as toras encontradas ontem no local foram recolhidas por integrantes do Exército que acompanharam a segunda etapa da Operação Sucupira, iniciada semana passada.

Na primeira etapa, concluída na última sexta-feira, o Ibama, a Agência Pernambucana de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) e a Polícia Rodoviária Federal fecharam 18 serrarias irregulares. A ação resultou ainda na aplicação de mais de R$ 1 milhão em multas e no recolhimento de máquinas e de cabos encontrados numa fábrica de vassoura. Mais de 300 toras de espécies da mata atlântica foram apreendidas.

A operação se estendeu, segundo Rodrigues, para que os fiscais finalizassem o trabalho e porque o Ibama recebeu novas denúncias. Ontem, seis fiscais atuaram em Gameleira, a 93 quilômetros do Recife, na mesma região, e cinco em Palmares. As empresas autuadas, segundo o Ibama, não têm cadastro técnico federal ou licença ambiental. Além da multa, os donos de serraria responderão por crime ambiental, ficando sujeitos a penas que podem chegar a três anos de prisão.

Na serraria da Usina Vitória, a equipe recolheu 100 toras de sucupira e 17 máquinas. Em Gameleira, os fiscais encontraram outra serraria no fundo de uma residência. No local havia dez toras de árvores nativas e duas máquinas. O material também está sendo retirado.

DEVASTAÇÃO

Os remanescentes de mata atlântica em Pernambuco estão reduzidos a menos de 5% da cobertura original. Essas ilhas de floresta cercadas por cidades ou canaviais formam o Centro Pernambuco, uma área rica em endemismos, ou seja, na ocorrência de espécies exclusivas. O centro abrange ainda as florestas de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte.

O Centro Pernambuco abriga dois terços das espécies de aves e 8% das plantas vasculares da mata atlântica brasileira. Além de reduzido, esse trecho da floresta atlântica é o que apresenta o mais crítico estado de conservação. Cientistas estimam a existência de mais de 2.250 espécies de plantas, 124 de mamíferos, 96 de répteis e anfíbios e 434 de aves na área.

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