O Brasil não precisa de usinas nucleares

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Monitor Mercantil

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o potencial hidrelétrico brasileiro é de 268 GW, dos quais apenas 30% estão em aproveitamento. A Região Amazônica detém 65% do potencial não aproveitado. Admitamos que, por motivos de caráter social e ambiental, os planos de expansão do sistema elétrico sejam reformulados, para se limitar em 80% o potencial hidrelétrico a aproveitar na Amazônia. Mesmo assim o Brasil poderá adicionar uma capacidade hidrelétrica de 148,7 GW aos 79,3 GW já instalados.

 
Somando-se a isto os 17 GW das pequenas hidrelétricas, vê-se que, só com o potencial hidráulico, o Brasil pode ter uma capacidade de 245 GW.

 
Mas ainda há o potencial eólico: de acordo com um estudo feito em 2001 pelo Centro de Pesquisas em Energia Elétrica da Eletrobras, o potencial eólico brasileiro (com turbinas em torres de 50 metros) é de 143 GW. E estudos recentes, considerando torres mais altas, mostram que o potencial pode chegar a 300 GW.

 
O sistema hidro-eólico poderia operar em sinergia com usinas termelétricas a biomassa, pois a frota automotiva brasileira é em grande parte alimentada com etanol, forçando a produção do bagaço de cana em escala suficiente para alimentar termelétricas de pequeno e médio porte, totalizando, em conjunto, uma capacidade da ordem de 15 GW, segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única).

 
Assim, aproveitando apenas fontes primárias limpas e renováveis, o sistema interligado hidroeólico-biotérmico teria uma capacidade conjunta de 403 GW, podendo gerar 1.589 GW×hora firmes por ano, admitindo-se, conservadoramente, que o fator de capacidade do sistema integrado será igual à média ponderada dos fatores de capacidade de cada sistema isoladamente, que é 0,45.

 
Por outro lado, de acordo com o IBGE, a população brasileira deverá se estabilizar em 215 milhões de habitantes, por volta do ano 2040, de modo que o sistema integrado hidro-eólico-biotérmico teria um potencial suficiente para oferecer à população 7.390 kWh por habitante por ano, equiparando o Brasil a países de alto nível de qualidade de vida, tais como a França, a Alemanha e a Grã Bretanha.

 
A reserva de segurança do sistema hidro-eólico-biotérmico seria constituída pelas termelétricas a gás já existentes nas diversas regiões do país.

 
Portanto, ao contrário de alguns países europeus e do Japão, que, em médio prazo, não têm melhor alternativa, o Brasil não precisa correr o risco de gerar em centrais nucleares a energia elétrica de que precisa ou precisará.


Entretanto, num encontro realizado no Rio de Janeiro no dia 15 de setembro, o ministro de Minas e Energia, Sr. Edson Lobão, afirmou que, apesar do acidente de Fukushima, ocorrido no começo do ano, "o Brasil mantém a sua política de expansão da energia nuclear, prevendo para mais quatro usinas a curto prazo e a possibilidade de instalação de outras em todo o país."

 
E acrescentou o ministro que "não há perigo de um acidente nuclear no Brasil, pois o modelo de usina aqui construído é diferente de Fukushima e que gera "segurança absoluta"".

 
Ora, o fato de ser membro do "grupo Sarney" não confere ao Sr. Lobão conhecimentos técnicos para afirmar que existem usinas "absolutamente seguras". Apesar das conhecidas deficiências do sistema educacional brasileiro, qualquer estudante do primeiro ano de engenharia percebe que o que Sr. Lobão disse é discutível, para não dizer suspeito, sobretudo se considerarmos a história recente do Ministério de Minas e Energia.

 
Joaquim Francisco de Carvalho
Mestre em engenharia nuclear, ex-diretor da Nuclen (atual Eletronuclear).

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