Solo da estação Comandante Ferraz, na Antártica, está contaminado

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Cientistas brasileiros registram níveis de chumbo, zinco e cobre dezenas de vezes acima do normal devido ao incêndio

Roberta Jansen - Enviada especial - O Globo


Ilha Rei George, Península Antártica - O solo na área onde se erguia a Estação Comandante Ferraz foi bastante afetado pelo incêndio que destruiu completamente a base brasileira em fevereiro passado. Cientistas da Universidade de Viçosa registraram níveis de chumbo, zinco e cobre dezenas de
vezes acima dos normais. Segundo eles, os mais altos já registrados numa contaminação antártica. E alertaram: se os contaminantes não forem removidos o mais rápido possível, podem alcançar o mar e os animais que lá vivem, causando danos permanentes o meio ambiente.


Técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, de São Paulo, estavam na Antártica na semana retrasada acompanhando os trabalhos de desmonte da antiga estação calcinada e a montagem dos módulos emergenciais. Eles tinham como incumbência também retirar amostras do solo para avaliar a ocorrência de possíveis contaminações. 


- Eles devem encontrar os mesmos valores que nós achamos, e que são bem altos - afirmou o geólogo Carlos Schaefer, um dos responsáveis pelo novo estudo, lembrando, entretanto, que os dados já estão disponíveis. 


Para o especialista, as substâncias encontradas são decorrentes das partes feitas de plástico e de ferro que compunham a estação e foram decompostas pelo fogo. Os cientistas recolheram amostras de solo de áreas de onde, quatro anos antes, já haviam medido a composição para comparação. Os resultados, publicados esta semana no "Microchemical Journal" e assinados também por pesquisadores da USP, da Universidade de São Carlos e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, revelaram uma contaminação intensa por metais pesados. 


Nas áreas testadas, as maiores concentrações encontradas foram de 34 mil partes por milhão (ppm) de cobre, 13,7 mil ppm de chumbo e 42 mil ppm de zinco - valores, respectivamente, 85, 46 e 42 vezes mais altos do que os recomendados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) para áreas residenciais. Tais valores máximos são definidos como a concentração da substância em solo ou água acima da qual há riscos potenciais, diretos ou indiretos, para a saúde humana. 


- Não sabemos qual é o efeito para a saúde de uma medusa, uma água-viva ou um peixe, baseamos-nos no que há na lei - afirma Schaefer. - Mas certamente deve ser pior. 


"Estas descobertas devem ser objeto de preocupação ambiental", recomenda o estudo, "porque a maior parte das amostras analisadas revelou sinais extremos de poluição por chumbo, um elemento reconhecidamente tóxico. No que diz respeito ao zinco, mais da metade das amostras analisadas se mostrou muito afetada". Estes dois elementos foram encontrados também em partes sujeitas a degelo. 


"Este ponto merece especial atenção por conta da possível contaminação da costa marinha adjacente e lagos próximos". 


- De fato, registramos contaminação nos canais de gelo, que levam água da parte interior da ilha para a praia, em áreas em que já haviam sido testadas poucos anos antes sem resultado algum - conta Schaefer. - Precisamos agir rapidamente ou, em um ou dois verões antárticos, esses poluentes vão alcançar o mar.

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