Especialista da Ufal alerta que a Lagoa Mundaú pode virar pântano

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O ser humano em geral tem uma tendência arriscada de ser imediatista, ou seja, pensar no problema quando ele já está diante dele. Por isso, quando se fala num processo que pode levar dezenas de anos, não parece nada urgente. Mas na natureza, um século é um tempo curto porque significa um impacto sobre milhares de vidas, com a possibilidade de extinção de espécies. Para o pesquisador Carlos Ruberto Fragoso Júnior, engenheiro civil e professor do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas, com pós-doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, a situação preocupa e exige medidas imediatas. "Comparando a batimetria realizada ano passado pela Agência Nacional de Águas com a que foi feita pela Portobrás, em 1985, percebemos que um processo que deveria levar milhões de anos, pode acontecer em um século", alerta o professor.

A batimetria é a medição da profundidade dos oceanos, lagos e rios. Os resultados são representados em imagens cartográficas que podem ser comparadas com medições periódicas, para saber a evolução do depósito de sedimentos no fundo desses ambientes. "É natural que os cursos de água carreiem sedimentos que são levados pelas correntes, mas parte deles acaba se depositando no fundo. Em todos os estuários, observamos essa dinâmica. Mas com a ação do homem, principalmente na bacia hidrográfica com atividades de agricultura, desmatando as matas ciliares e tornando a terra desprotegida, a quantidade de materiais que fica depositado é muito maior. Desta forma, rios, lagos e até oceanos vão se tornando cada vez mais rasos, provocando vários impactos no meio ambiente", explica o professor.

O professor questiona também o grande intervalo de tempo para realização de uma nova medição na Lagoa, entre 1985 e 2012. O estudo tem que ser meticuloso, exige a utilização de equipamentos específicos e o trabalho de especialistas qualificados, afinal o complexo estuarino Mundaú-Manguaba tem 12 km de extensão, além de ser alimentado por vários canais e de banhar 12 municípios alagoanos. O trabalho realizado ano passado pela ANA foi solicitado pelo Governo do Estado de Alagoas, pela necessidade de dados apontando os principais pontos de assoreamento. "O Governo sabe que é preciso definir ações de preservação da lagoa, que passam por educação ambiental, saneamento básico, revitalização das matas ciliares, manejo do solo e agricultura sustentável", aponta Carlos Ruberto.

Todo esse trabalho de medição e as pesquisas subsidiadas por esses dados são debatidos no Comitê da Bacia Hidrográfica do Complexo Estuarino das lagoas Mundaú-Manguaba, criado no final de 2006 e composto por 28 representantes de vários segmentos, incluindo ambientalistas, moradores da região e pesquisadores. "Precisamos avaliar a situação com prioridade, porque em alguns pontos, as condições são preocupantes, principalmente para quem sobrevive diretamente da pesca nas lagoas. Em Fernão Velho, por exemplo, quando a maré está baixa é possível observar vários bancos de areia. A tendência é que essa área vire um pântano. Isso se reflete na escassez de pescado, no mau cheiro de materiais orgânicos acumulados que incomoda moradores e outros problemas", ressalta Carlos Ruberto.

Com as duas batimetrias em mãos, a de 1985 e a de 2012, Carlos Ruberto fez vários cálculos da evolução do assoreamento. Segundo esse estudo, nestes últimos 27 anos, foram depositados cerca de 5 milhões de metros cúbicos de sedimentos na lagoa Mundaú. São mais de 280 mil toneladas de sedimentos por ano. "Esses estudos devem ser ampliados, porque o rio mundaú também está sofrendo um processo avançado de assoreamento. São vários os aspectos prejudiciais para o meio ambiente e para a economia. A salinidade reduzida na lagoa mundaú, por exemplo, já provoca a escassez de peixes como Curimã e Carapeba. Até mesmo o molusco que sustenta tantas famílias alagoanas, que é o sururu, começa a desaparecer da lagoa", lamenta o professor.

Mas é preciso planejar as soluções com cuidado. O professor Carlos Ruberto questiona, por exemplo, a proposta de dragar a lagoa, ou seja, utilizar dragas (tratores) que vão retirar a terra e os sedimentos do fundo da água. "Além de ser uma técnica muito cara e trabalhosa, ela não resolve de uma vez o assoreamento, porque a fonte do problema, a perda de solo na bacia, não foi atacada. O Estado poderia investir em, por exemplo, programas de revitalização de matas ciliares e de manejo de solo, combatendo de forma mais eficiente o problema", concluí o pesquisador.

por Ascom - UFAL



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