Grande ideia: Botiá, fibra de coco para embalagem biodegradável

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Felipe van Deursen - SuperInteressante

A primeira edição do Movimento HotSpot chegou ao fim em julho, após um ano e meio de festivais por todo o Brasil, oficinas, shows e horas e horas de conversas e reuniões com curadores das 11 áreas abordadas. O projeto, que teve a SUPER como parceira, buscou promover e revelar jovens talentos com grandes ideias em arquitetura, design, fotografia e música, entre outros. Agora, os vencedores podem usar o dinheiro que ganharam para investir em seus projetos.

Quem ganhou o prêmio principal, de R$ 200 mil, foi a designer Manuela Yamada, que, com o apoio do programa, desenvolveu um antigo projeto de faculdade, o Botiá. Trata-se de um material biodegradável, à base de fibra de coco, que pode ser usado para embalagens de alimentos. Agora, com o dinheiro, ela quer ir além. “A ideia não é parar nas embalagens, mas fazer outros projetos com o material”, diz. Leia a entrevista:


botiá
Embalagem para frutas feita com o material Botiá. (foto: Manuela Yamada)


De onde veio a ideia de usar fibra de coco para desenvolver um material novo?

A ideia surgiu quando eu e a Natalia Bruno éramos alunas da PUC [Rio], quando criamos o tema para um projeto de “feira livre de alimentos”. Após visitas sistemáticas a diversas feiras, uma das coisas que mais nos chamou atenção foi a quantidade de lixo gerado no final de todas elas. O coco verde nos chamou particularmente atenção devido ao volume gerado. Começamos a pesquisar e vimos que a Embrapa, em parceria com uma empresa privada, havia desenvolvido uma máquina capaz de extrair a fibra do coco verde – e essa fibra estava sendo utilizada para alguns projetos.

Em quase todos os projetos encontrados, a fibra era usada com uma resina à base de mamona, que na época (era 2009) era muito cara e difícil de achar se comparada com outros tipos de resina. Além disso, queríamos algo 100% natural e orgânico. Optamos então por buscar desenvolver umcompósito à base de fibra de coco que fosse 100% natural, biodegradável e biocompatível. Além disso, queríamos que seu processo de produção fosse muito simples e barato. Assim chegamos ao compósito Botiá.

Como você entrou no Movimento Hotspot?

Eu fiquei sabendo dessa oportunidade em uma conversa em sala de aula com um amigo de faculdade que me falou que eles teriam um investimento de até 200 mil para o projeto vencedor. Na hora eu vi uma grande oportunidade de investimento no projeto e fui atrás. Desde 2009 estive trabalhando no projeto. No início foi o desenvolvimento do material em si e em 2011,2012, foi o desenvolvimento das embalagens. Durante o processo do movimento o trabalho continuou.

O processo de seleção foi muito bacana e completo, todas as bancas de apresentação do Projeto Botiá eram um estímulo para estruturar cada vez mais o projeto. A fase de Tanque de Ideia foi especialmente interessante, foi uma oportunidade incrível de conviver com as mais diversas pessoas, de todos os cantos do País e todas muito brilhantes em seus trabalhos. Além disso, participar da metodologia Mesa & Cadeira foi muito enriquecedor para mim, não só como pessoa mas como profissional.

O Botiá foi desenvolvido para ser embalagem de alimentos. Mas quais as outras aplicações possíveis?

Ele foi desenvolvido para ser um material, no começo não tinha uma aplicação específica. Foi depois do desenvolvimento que surgiu a ideia de fazer uma embalagem, por ser um objeto de grande uso e descarte rápido – o que por si só requer uma grande atenção de quem a projeta. Atualmente estamos envolvidas em um projeto com outras duas empresas para fazer um projeto ligado à área de reflorestamento, utilizando o material. Chegamos a fazer assentos de cadeira, entre outras coisas. Ele pode ser usado basicamente para qualquer coisa.

Como você pretende usar o dinheiro do prêmio? Qual é o próximo passo?

O dinheiro do prêmio será usado inteiramente para viabilizar uma produção do material e das embalagens Botiá. Já tivemos interesses de diversas pessoas, projetos e empresas que não pudemos atender devido ao alto custo de produção atual, pois o processo é inteiramente artesanal e não temos infra-estrutura para produzir. Com o investimento, pretendemos comprar maquinário, investir em moldes, aprimorar o processo de produção e arrumar um lugar para de fato instalar o nosso trabalho.

A ideia não é parar nas embalagens, mas desenvolver diversos projetos para clientes usando o material. E desenvolver projetos próprios também. Devido a nossa enorme paixão por pesquisa, queremos que a “minifábrica” sirva também de laboratório de experimentação. O próximo passo é contar com a assessoria do Sebrae e da Luminosidade [empresa de Paulo Borges, idealizador do Movimento HotSpot] para estruturar um bom plano de negócios que faça esse investimento e o nosso trabalho gerarem cada vez mais trabalhos para que, num futuro próximo, possamos caminhar com as próprias pernas.


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