Autoridade de Regulação Nuclear (ARN) japonesa deu essa semana o ok final para a operadora da usina nuclear danificada de Fukushima Daiichi remover os 1.300 bastões de energia gastos da piscina da altamente danificada unidade 4, iniciando um processo que o militante anti-nuclear Harvey Wasserman descreveu como "o momento mais perigoso para a humanidade desde a crise dos mísseis de Cuba".
De acordo com a Associated Press (AP), a Autoridade de Regulação Nuclear anunciou que o plano de remover manualmente os bastões radioativos a ser posto em prática pela operadora, a Tokyo Electric Power Company, ou TEPCO, é “apropriado” e a remoção “pode se iniciar em novembro, como havia sido planejado, seguida de uma inspeção local feita pelos reguladores”.
A TEPCO estima que o processo completo de decomposição vá levar décadas. Dando mais detalhes do processo, diz a AP:
“A TEPCO preparou uma estrutura massiva de aço com um guindaste operado por controle remoto para remover os bastões de combustível, que serão depositados em um tonel de proteção e transferidos para uma piscina de resfriamento localizada numa construção ao lado. Para abrir espaço para os bastões da unidade 4, a companhia tem transportado os que já estavam na piscina para um depósito mais seguro em tonéis secos, em um local separado.
O plano é esvaziar a piscina do reator 4 até o fim de 2014, e remover bastões de energia das piscinas de três outros reatores danificados ao longo de vários anos antes de cavar até os núcleos derretidos, por volta de 2020.”
No entanto, de acordo com o engenheiro nuclear Arnie Gundersen, os bastões de energia gastos da unidade 4 estão “vergados, danificados e fragilizados e ponto de se desmancharem”. E o presidente da ARN, Shunichi Tanaka, alertou que a remoção dos bastões poderia ser dificultada por conta do risco que representam os destroços que caíram na piscina durante as explosões provocadas pelo terremoto de 2011, pelo tsunami e pelos subsequentes três processos de fusão de reatores na usina.
“É completamente diferente de remover bastões de energia normais de uma piscina”, disse Tanaka durante uma coletiva de imprensa. “Elas precisam ser manipuladas com extrema cautela e devem ser monitoradas muito de perto. Não se pode apressar, ou forçar para que elas saiam, ou elas podem quebrar”.
Wasserman alerta que há cerca de “400 toneladas de combustível naquela piscina, que poderiam liberar mais de 15 mil vezes a radiação que foi detonada em Hiroshima”.
Wasserman, Gundersen e outros ativistas da questão nuclear têm alertado que nem a TEPCO nem o governo japonês têm “os recursos técnicos, científicos e financeiros” para lidar com essa tarefa e que essa situação demandaria um “esforço coordenado mundial dos melhores cientistas e engenheiros de nossa espécie”.
Mais de 100 mil pessoas já assinaram uma petição dando eco a essa demanda. “A remoção de enormes bastões radioativos a mais de 30 metros no ar representa um desafio científico e de engenharia sem precedentes”, dizem os signatários, que pedem ao presidente Barack Obama e ao secretário geral da ONU, Ban Ki-Moon, que intercedam junto às autoridades japonesas. “Pedimos que a comunidade mundial [...] tome controle dessa tarefa incrivelmente perigosa”.
Tradução de Rodrigo Mendes | Carta Capital