Se, num passeio por Boa Viagem ou Itaipu, encontrar grupinhos de pessoas olhando, hipnotizados, para o mar, não se espante. Provavelmente eles estão contemplando uma das atrações desse verão niteroiense: as tartarugas marinhas estão tomando as águas costeiras da cidade, dentro e fora da Baía de Guanabara.
Tartarugas encantam os visitantes das praias de Itaipu e Boa Viagem, em Niterói Foto: divulgação |
— De uns cinco meses para cá eu tenho visto muitas delas. Eu acho lindas. Acredito que elas estão crescendo para ganhar o mar, porque vejo muitas que parecem ser filhotes — diz a jornalista Maria Isabel Baptista, moradora de Boa Viagem: — Estou muito feliz com as novas vizinhas. Já são o sucesso do verão.
As tartarugas mais comuns são da espécie Chelonia mydas, conhecidas como tartarugas-verdes, e chegam muito perto do quebra-mar de Boa Viagem. Elas gostam do local por conta das pedras. Nelas e nos costões rochosos que crescem os principais alimento delas, as algas.
— São muitas mesmo. Eu já pesco aqui em Boa Viagem há anos e via algumas, mas agora encontro com mais facilidade — garante Felipe Hassan, de 32 anos, enquanto tenta tirar algum peixe do mar.
Para o professor de oceanografia da Uerj David Zee, as aparições mais frequentes das tartarugas em Boa Viagem têm explicação:
— É a época delas, primavera e verão. Também tivemos alterações nas correntes na costa do Rio, e esses animais utilizam as correntes para migrar. A baía, com muita matéria orgânica, tem muitas algas e água quente.
A bióloga marinha Larissa Araujo, do Projeto Aruanã, vinculado à UFF, que monitora os animais, confirma que a baía é reduto delas.
— As pessoas estão mais alertas, reparam mais — avalia: — Elas também são muito resistentes à poluição.
Proteção garantida
O Projeto Aruanã, do Laboratório Ecopesca da Universidade Federal Fluminense (UFF), estuda os animais. Segundo os pesquisadores, as tartarugas que frequentam as praias da região são indivíduos juvenis que utilizam nosso litoral como área de alimentação até atingirem a idade reprodutiva, que começa quando elas atingem 90 centímetros de casco.
— Realizamos um trabalho de captura intencional na Praia de Itaipu, no qual acompanhamos há anos o desenvolvimento das tartarugas que utilizam aquela região. É a oportunidade de a população ver esses animais de perto e aprenderem um pouco mais sobre sua biologia — conta Larissa Araujo: — E as pessoas ficam admiradas de descobrir que existem tartarugas em nossas praias!
Quem quiser observar (sem tocar, claro) os animais de perto, mas sem entrar na água, pode ir até a Pedra de Itapuca, além do quebra-mar de Boa Viagem. Elas costumam aparecer com frequência por lá também.
Já quem quiser ajudar a manter o trabalho de pesquisa e preservação das tartarugas pode fazer sua contribuição para o Aruanã. O projeto recebe doações de qualquer valor através da conta no Banco do Brasil: agência 3010-4, conta corrente 53.785-3, em nome de Amanda V. Wanderley.