Transmissão de malária de macacos a humanos é confirmada no Rio

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Análises de casos de malária registrados em regiões de Mata Atlântica do Estado do Rio entre 2015 e 2016 confirmaram que uma espécie de parasita antes conhecida por só afetar macacos também pode provocar a doença em seres humanos.


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Segundo o estudo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e outras instituições brasileiras e estrangeiras, publicado ontem no periódico científico “The Lancet Global Health”, pelo menos 28 das 49 das infecções autóctones (locais) observadas foram causadas pelo Plasmodium simium.


Macacos
Macacos Foto: Divulgação/ Carla Possamai

Inicialmente, pensava-se que as infecções no estado do Rio tinham sido provocadas por outra espécie do parasita que sabe-se atingir humanos e é apontada como responsável pelos casos da doença na Amazônia, onde é endêmica, a Plasmodium vivax. De acordo com os pesquisadores, este é apenas o segundo relato no mundo da transmissão zoonótica — isto é, de animais para humanos — da malária. No Sudeste da Ásia, o Plasmodium knowlesi é transmitido por mosquitos do gênero Anopheles de macacos para humanos, respondendo por grande parte dos casos de malária na região.

Casos recentes despertaram a atenção no Rio

A maior prevalência dos casos de malária no país está na Amazônia, com mais de 99% de todo registro nacional. Mas a crescente constatação de infecções em áreas de Mata Atlântica do Estado do Rio — região cujos casos de malária em humanos foram considerados erradicados há cerca de 50 anos — despertou a atenção dos especialistas. Enquanto de 2006 a 2014 o estado registrava uma média de quatro casos autóctones de malária por ano, em 2015 e 2016 os números subiram para 33 e 16, respectivamente.

— Estamos diante de uma descoberta de relevante impacto para a saúde pública, por representar uma nova forma de infecção — afirma o coordenador do estudo, Cláudio Tadeu Daniel Ribeiro, chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e coordenador do Centro de Pesquisa, Diagnóstico e Treinamento em Malária da Fiocruz (CPD-Mal), centro de referência para diagnóstico da malária.

Estudos precisam ser aprofundados

Os pesquisadores ressaltam que não é possível determinar se o P. simium adquiriu a capacidade de infecção de seres humanos recentemente ou se a malária zoonótica já infectava humanos no local antes da eliminação da doença na região. Segundo eles, para dimensionar a ameaça apresentada pelo parasita será preciso aprofundar os estudos, com a análise de mais amostras para determinar a área de circulação da espécie. Também será preciso investigar se a transmissão do P. simium ocorre apenas a partir dos macacos ou se as pessoas doentes podem ter quantidade suficiente de parasitas para infectar os mosquitos durante a picada.

— A partir dos dados, é razoável supor que uma nova modalidade de transmissão, envolvendo macacos, mosquitos prevalentes na região e um parasita diferente do P. vivax está causando os casos nas regiões da Mata Atlântica do Rio e, possivelmente, em outros estados – diz Ribeiro.


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