Ilha está prestes a restringir o plástico, mas ainda não tem coleta seletiva. Este é o 1º destino do Desafio Natureza, que vai abordar problemas ambientais em parques nacionais ao longo do ano.
Por Tatiana Coelho | G1 — Fernando de Noronha, PE
Fernando de Noronha é conhecida como paraíso. Mais recentemente, a ilha virou o refúgio queridinho dos famosos, que conjugam o verbo “noronhar-se” em legendas no Instagram. O que as fotos lindas não mostram é que, para se manter um "paraíso", é preciso muito trabalho e cuidado.
Fernando de Noronha é conhecida como paraíso. Mais recentemente, a ilha virou o refúgio queridinho dos famosos, que conjugam o verbo “noronhar-se” em legendas no Instagram. O que as fotos lindas não mostram é que, para se manter um "paraíso", é preciso muito trabalho e cuidado.
Área onde o lixo de Noronha é tratado: são 220 toneladas, em média, por mês — Foto: Fábio Tito/G1 |
Com 100 mil visitantes por ano – recorde alcançado em 2018 -, o arquipélago que pertence a Pernambuco tem de lidar com os impactos desse turismo. Um deles é o lixo.
Noronha, que é um parque nacional, marca a estreia da série "Desafio Natureza" do G1, que terá reportagens especiais sobre as questões ambientais que desafiam esses destinos e dará dicas de como cada um pode ajudar a amenizar esses problemas.
Apesar dos controles típicos de uma área de proteção ambiental, como a limitação do número de visitantes no parque por dia, Noronha ainda tem gargalos quando se trata do tratamento do lixo, assim como acontece em outros lugares do Brasil.
A prometida coleta seletiva ainda não começou por lá, mas o arquipélago se prepara para dar um passo ousado entre os destinos turísticos do país: vetar a entrada de plástico descartável.
Reciclagem parcial
Por mês, são coletadas, em média, 220 toneladas de lixo em Noronha, mas este número pode chegar a 280 toneladas em meses como dezembro, quando o número de visitantes aumenta. Só entre o último Natal e o Ano Novo, foram 65 toneladas.
Atualmente, a usina de resíduos sólidos local faz a separação e recicla só uma pequena parte no local: vidro e parte do lixo orgânico. O restante é mandado para Recife, de barco.
Guilherme Rocha, administrador de Noronha designado pelo governo de Pernambuco, afirma que não está nos planos criar uma estação de reciclagem na ilha.
Falta espaço e estrutura para lidar com esta quantidade de lixo, daí a necessidade de mandá-lo para o continente.
“Aqui a gente não tem condições de implantar um aterro. Pela situação de fragilidade da ilha, pela limitação de espaço, o lixo tem que sair daqui, não pode ficar", explica Silmara Erthal, gestora responsável substituta do ICMBio.
Esta é a sigla para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e que é responsável pela área de proteção ambiental de Noronha.
Segundo Silmara, atualmente o tratamento do lixo na ilha está organizado: "Tem alguns detalhes que precisam ser melhorados, está faltando a coleta seletiva”.
“A gente está tentando, e vai conseguir melhorar bastante em relação ao lixo. Nossa coleta seletiva está batendo na porta. Acredito que, no mais tardar, em março a gente comece", diz Edgar Amaro Júnior, responsável pelas operações da Universo Empreendimentos, que gerencia os resíduos no arquipélago.
Para dali a um mês, em 13 de abril, Noronha deve começar a restrição ao plástico descartável, mirando garrafas, copinhos, talheres e sacolas. O decreto prevê multa para quem descumprir as regras.
"A gente não quer impor a proibição na cabeça das pessoas, mas educar e conscientizar sobre o impacto positivo que será causado ao meio ambiente", disse Guilherme Rocha, atual administrador de Noronha.
O que vem do mar
E não é apenas o lixo produzido em Noronha que preocupa. O que é jogado no mar chega pelas correntes marítimas e ameaça uma das piscinas naturais mais famosas do lugar, o Atalaia.
Ali é possível ver pedaços de microplástico (plástico já em decomposição que diminui de tamanho conforme o tempo) espalhados pela areia e presos nas pedras. Um risco para a flora e fauna da ilha.
Os biólogos e voluntários do ICMBio costumam organizar mutirões para a coleta deste lixo que chega ali, mas não conseguem evitar o problema.
Problema nacional
Lidar com a crescente produção de lixo não é um desafio só de Noronha, mas uma questão nacional e global.
Veja dados sobre a produção de lixo no Brasil, segundo relatório das empresas de limpeza — Foto: Roberta Jaworski/G1 |
Em 2017, o Brasil produziu 78,4 milhões de toneladas de resíduos, segundo o relatório mais recente da associação das empresas de limpeza pública (Abrelpe). Mas quase 7 milhões de toneladas não foram coletadas.
Mesmo o que foi coletado não teve o destino ideal: só 59,1% desse volume foi para aterros sanitários. O restante - 29 toneladas - ficou nos aterros controlados ou nos chamados lixões - que deveriam ter sido fechados ainda em 2014, prazo dado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos- e não possuem os sistemas necessários para proteger o meio ambiente e a população.
Custo alto
O tratamento do lixo custa caro. A Abrelpe aponta que, em 2017, os municípios gastaram, em média, R$ 10,37 por habitante com tratamento do lixo, a cada mês.
Veja projeções de produção de lixo para próximas décadas — Foto: Alexandre Mauro/G1 |
Em Noronha, 40% do dinheiro recolhido com a Taxa de Preservação Ambiental- cobrada por dia de permanência na ilha- é destinado para os gastos com a coleta e o tratamento do lixo, segundo a administração da ilha.
“Para nenhum estado o lixo sai barato, mas a forma de você manusear ele, a forma de cuidar dele, vale seu investimento”, diz Edgar Amaro Júnior, da Universo, que gerencia o lixo em Fernando de Noronha.
O futuro do lixo
Segundo o relatório das empresas de limpeza, 98% dos brasileiros acham que a reciclagem é algo importante para o futuro do país, mas 75% não separa seus resíduos em casa e 66% revelou saber pouco ou nada sobre coleta seletiva.
A continuar no ritmo atual, o Brasil deverá gerar 96 milhões de toneladas por ano em 2030, uma alta de 22,4% em relação a 2017. Para 2050, a projeção salta para 114,3 milhões de toneladas. Os dados são do relatório “What a Waste 2.0” (“Que desperdício”, em tradução livre), do Banco Mundial, referência internacional no assunto.
No mundo, o banco estima que foram gerados 2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2016. Este número deverá crescer para 3,40 bilhões de toneladas até 2050.
Colaboraram: Carolina Dantas e G1 PE