Amostras de solo da lagoa Playa Grande,
Franziska Badenschier - Der Spiegel
A primeira vista, as amostras de solo coletadas pelo geofísico Jeffrey Donnelly na lagoa Playa Grande,
As amostras permitiram que Donnelly, analista da história dos furacões da Instituição Oceanográfica Woods Hole (WHOI, na sigla em inglês), analisasse mais de 5.000 anos do passado do nosso planeta. E aquilo que ele descobriu pode ter profundas implicações para o nosso entendimento dos efeitos do aquecimento global sobre tempestades violentas. A freqüência das tempestades ferozes que varrem o Caribe e a ilha de Vieques,
Donnelly e o seu colega Johnathan Woodruff publicaram os resultados encontrados em uma edição recente do periódico científico "Nature". No artigo eles afirmam que os furacões atingiram regularmente a lagoa em um período compreendido entre 5.450 e 3.650 anos atrás. Esse período de intensa atividade de furacões só contou com uma breve interrupção de 150 anos. E depois dessa época de intensa atividade houve apenas poucos furacões - até cerca de 2.550 anos atrás, quando teve início um intervalo marcado por um número relativamente elevado de furacões, que continuou até a próxima fase de trégua, que começou há cerca de 1.050 anos. Mas durante os últimos 300 anos, a lagoa ficou novamente exposta a uma grande quantidade de furacões violentos - no momento em que essas tempestades desagradáveis também se multiplicavam por outras partes.
Responsabilidade humana?
O aumento do número de furacões superintensos de categorias quatro e cinco - o nível máximo alcançado pelas tempestades - tem sido difícil de ignorar nos últimos anos. Eles deixaram atrás de si uma trilha de morte, destruição e um prejuízo de bilhões de dólares. A destruição de Nova Orleans pelo furacão Katrina foi talvez o episódio mais devastador, mas tempestades como Wilma (2005) e Ivan (2004) não ficaram muito atrás.
O aparente aumento do número de furacões violentos, de acordo com o que se tem ouvido repetidamente nos últimos anos, seria causado pelo aquecimento global. Segundo essa hipótese, a mudança climática aumenta as temperaturas da superfície do oceano, o que faz com que ventos fracos se transformem em poderosos furacões. Pesquisadores anunciaram no verão passado que os seres humanos - devido às emissões de carbono que provocam o aquecimento global - têm pelo menos uma parcela da culpa pelo número recorde de furacões em 2005.
Donnelly disse a "Spiegel Online" que a temperatura superficial dos oceanos está de fato aumentando. "Mas isso apenas favorece o desenvolvimento de furacões", diz ele. Em outras palavras, este fato não explica integralmente os vários furacões registrados nos últimos anos.
"Estamos vivendo em uma fase ativa de furacões", afirma friamente o geólogo, exibindo na enorme tela do seu computador as recentes tempestades tropicais que atingiram a costa leste dos Estados Unidos.
Os cientistas só passaram a acompanhar atentamente a variação das temperaturas superficiais dos oceanos e os furacões na década de 1960, lembra Donnelly. "Isso é um período muito curto e não confiável para realmente revelar as tendências referentes às atividades das fortes tempestades tropicais". A análise de amostras de solo que ele descreve no seu artigo publicado na "Nature" pode se constituir em um fator muito mais confiável.
Separação em vez de união de forças
Donnelly também acredita que sabe o motivo pelo qual a intensidade dos furacões variou tão drasticamente durante os últimos 5.000 anos. Mudanças na monção do oeste da África - um processo de circulação de ar que ocorre em uma vasta área - e no El Nino seriam, em sua opinião, a razão. Esse fenômeno climático é causado por um aumento da temperatura das águas do Oceano Pacífico a cada período que varia de três a oito anos. As correntes quentes resultantes acabam com o padrão harmônico dos ventos nas camadas superiores da atmosfera, resultando em secas e tempestades severas em todo o globo.
Nos períodos durante os quais o El Nino ocorre mais freqüentemente, o número de furacões diminui drasticamente, explica Donnelly. O motivo? O fenômeno climático faz com que as massas de ar acima do oceano se dirijam para direções diferentes. Elas se separam em vez de juntarem forças para criar uma tempestade - os temidos colapsos afunilados. Segundo Donnelly, os dados de Porto Rico também mostram algo mais: "Quando o El Nino diminui de intensidade, os furacões retornam". É isso o que parece ocorrer atualmente.
Os meteorolositas alertaram recentemente para o fato de que os Estados Unidos enfrentarão uma ativa temporada de furacões neste ano. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) amenizou um pouco este alerta, mas os especialistas em clima dos Estados Unidos ainda estão assumindo que há uma probabilidade de 75% de uma temporada de furacões acima da média. De acordo com os meteorologistas, o El Nino só atingiu intensidades fracas e médias no Pacífico tropical em dezembro e janeiro últimos, de forma que a atividade de furacões no Atlântico norte está atualmente aumentando. Tempestades mais poderosas, mais furacões e mais contatos destes com a terra estão previstos para este ano. De fato, a primeira tempestade tropical do ano surgiu com uma antecedência incomum.
O aquecimento global também parece afetar o El Nino. Mas a pergunta é: que tipo de efeito o aquecimento global tem sobre o El Nino? "Temos que admitir que não sabemos ao certo se a alteração climática causará mais El Ninos ou mais furacões", afirma Donnelly. Ele acrescenta que a previsão apropriada das mudanças de intensidade dos furacões exige um exame mais detalhado e um melhor entendimento do El Nino, bem como dos efeitos do aquecimento global sobre as monções do oeste da África.
Tradução: UOL