Chimpanzés são capazes de ato generoso, diz estudo

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Grupo da Alemanha demonstrou altruísmo sem nepotismo entre esses macacos

Cientistas compararam ações altruístas de bebês humanos de um ano e meio e de macacos; desempenho dos dois grupos foi parecido

CLAUDIO ANGELO

DA REDAÇÃO – FOLHA DE SÃO PAULO

Houve um período em que os antropólogos e estudiosos da evolução humana achavam que a capacidade de altruísmo desinteressado (ou, como diriam nossas avós, de "fazer o bem sem olhar a quem") fosse atributo exclusivo de uma espécie, o Homo sapiens. Essa crença acaba de cair por terra.

Cientistas do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, apresentam em um estudo publicado ontem a evidência mais forte até agora de que os chimpanzés, primos-irmãos dos humanos, são capazes de ajudar os outros sem ganhar nada em troca.

O estudo, que comparou a generosidade de crianças alemãs de 18 meses e a de chimpanzés semi-cativos de Uganda, sai na edição de julho do periódico científico "PLoS Biology" (www.plosbiology.org).

Desde Charles Darwin os estudiosos da evolução se batem em torno do altruísmo. Afinal, se a seleção natural beneficia o mais apto a sobreviver, não deveria haver motivo para a generosidade (que muitas vezes implica em custo ou risco de vida para quem a pratica) na natureza. Darwin chegou a confessar que o altruísmo era um mistério para ele.

Nos anos 1970, a ciência achou que tinha resolvido a questão: o altruísmo demonstrado pelos animais, inclusive os macacos, sempre beneficiava parentes (portanto, mesmo que houvesse prejuízo para o indivíduo, os genes da família se beneficiariam) ou tinha uma expectativa de retorno imediato ("uma mão lava a outra"). O altruísmo genuíno permanecia um bastião da humanidade.

Nos últimos anos, primatologistas têm observado aqui e ali evidências de altruísmo genuíno também entre os chimpanzés. Para tirar a teima, o grupo do Max Planck, liderado por Felix Warneken, bolou três experimentos bem criativos.

No primeiro, 36 chimpanzés e 36 bebês viam um humano desconhecido ter um objeto roubado por outro humano e colocado atrás de uma grade, ao alcance do altruísta em potencial. Mesmo sem ganhar nenhuma recompensa, bebês e macacos pareciam se apiedar do estranho ao vê-lo tentando pegar o bibelô e, na maioria das vezes, alcançavam-no para ele.

No segundo experimento, barreiras eram colocadas para dificultar o acesso ao objeto, criando, assim, um "custo" para o ato generoso. Mesmo assim, a boa ação era praticada.

Mas o terceiro experimento, feito só com chimpanzés, foi a prova dos noves: um macaco precisava abrir uma porta para que outro, sem nenhum parentesco, pudesse entrar numa jaula em busca de comida.

Mesmo sabendo que não iam ganhar nada, 80% dos animais ajudavam. "O resultado do experimento três surpreendeu até a mim, o maior crente em empatia e altruísmo entre os primatas", escreveu Frans De Waal, da Universidade Emory (EUA), famoso por seus estudos com chimpanzés.

Conclusão de Warneken e colegas: "As raízes do altruísmo humano podem ser mais profundas do que se imaginava, chegando até o ancestral comum entre humanos e chimpanzés". E mais: "Os grupos culturais humanos podem ter criado mecanismos sociais únicos para preservar e fomentar o altruísmo. Mas eles cultivaram essa propensão em vez de tê-la implantado na psique".

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