Assis Moreira, de Genebra – Valor
Uma pandemia da gripe A/H1N1 pode trazer deflação e retardar por um ou dois anos a recuperação da economia mundial, segundo diferentes estudos. Na Europa, governos e empresas se preparam para evitar um bloqueio brutal da economia se o vírus se propagar rapidamente.
Um estudo do Banco Mundial estima que o custo econômico da pandemia poderá variar de 0,7% a 4,8% do Produto Interno Bruto (PIB) global, dependendo da gravidade da doença. A cifra menor leva em conta um cenário de "catástrofe modesta", como a epidemia de gripe de Hong Kong, de 1968/69, que matou cerca de 1 milhão de pessoas no mundo. A estimativa maior se refere à gripe espanhola de 1918-1919, que teria feito pelo menos 30 milhões de mortos.
No caso de uma gripe séria, 70% dos custos econômicos resultarão do absenteísmo e do esforço individual para evitar a infecção, segundo o banco.
Até agora, o maior custo econômico da epidemia se concentrou no México, segundo o Banco Mundial. O tráfego Aéreo e a ocupação dos hotéis caíram 80% no país. A receita do turismo desabou 43%. Na capital mexicana, a menor atividade de hotéis, restaurantes e transportes poderá reduzir o PIB em 2,2% no segundo trimestre.
Baseada ainda na experiência de pandemias anteriores e na evolução da gripe A, a consultoria britânica Oxford Economics estima que 30% da população do mundo contrairá o vírus. Nesse caso, o PIB mundial pode cair 3,8%, representando perda de US$ 2,5 trilhões. Isso representa um choque duas vezes mais severo que a recessão prevista para este ano pelo FMI.
A gripe A poderá afetar a economia tanto por efeitos de oferta como de demanda, nota a consultoria britânica. A infecção e as mortes implicam que os empregados não serão capazes de ir para o trabalho, que as pessoas evitarão espaços públicos como aeroportos, estações de trem, restaurantes, cinema e shopping centers.
Na prática, a gripe A ameaça empurrar a economia mundial para a deflação, declínio geral de preços causado pela baixa da produção e da atividade em geral, alerta a consultoria. Quando as pessoas cortam suas despesas, ou hesitam em investir, as forças da deflação surgem mais fortemente e, entre as consequências, estão mais desemprego e menos consumo.
No Reino Unido, a combalida economia pode sofrer contração de 4,5% este ano, a maior queda desde 1945, segundo um centro de estudos, The Ernst & Young Item Club. Se o pior cenário da pandemia da gripe se concretizar, a contração pode ser 1,2 ponto percentual superior em 2010.
A inquietação sobre o impacto econômico da gripe A aumenta na Europa também. Governos criam "células de continuidade econômica" para garantir atividades centrais, como bancária e financeira, distribuição, comunicações eletrônicas, correios etc.
A France Telecom, por exemplo, prepara a encomenda de 40 milhões de máscaras para duas semanas de uso por seus funcionários. Outras empresas preparam um cenário em que trabalhadores terão de dormir nas fábricas. Na Suíça, a companhia ferroviária elabora um plano para não faltar condutores.
As autoridades sanitárias insistem que não há razões, por enquanto, para pânico. Mas há o temor de que a gripe volte firme agora no segundo semestre.
A Organização Mundial da Saude (OMS) contabiliza até agora 700 mortes de gripe A. Mas a gripe normal, que ocorre todo ano, mata entre 200 mil e 1,5 milhão de pessoas por ano. Em caso de pandemia séria, porém, a estimativa é que em muitos países 1 em cada 40 pessoas pode morrer.
Cientistas notam que as populações mais jovens e pessoas com doenças crônicas são as mais vulneráveis, em parte porque até 33% das pessoas com mais de 60 anos ou mais parecem ter alguma imunidade contra a gripe A.