A primeira morte no Rio

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Estado registra óbito por causa da gripe suína, que em todo o país já matou 11 pessoas

Carla Rocha, Célia Costa, Carolina Brígido e Carlos Souza – O Globo

O Rio de Janeiro teve ontem confirmada a sua primeira morte por gripe suína, a de uma mulher de 37 anos, moradora de Del Castilho. O óbito da dona de casa foi um dos sete revelados ontem pelo Ministério da Saúde, que admitiu pela primeira vez que o vírus H1N1 já circula em território nacional livremente e que a transmissão não se dá mais apenas pelo contato com pessoas que estiveram em áreas de risco no exterior. No total, o Brasil tem agora 11 mortes causadas pela doença. O Rio Grande do Sul tem o maior número de vítimas: sete, sendo que cinco tiveram os resultados dos exames divulgados ontem. Em São Paulo, que já tinha dois casos, foi registrada a terceira morte: foram duas em Osasco e uma em Botucatu.

A mulher que morreu no Rio vivia numa comunidade conhecida como Pedrosa, às margens da Linha Amarela. O local tem cerca de 200 casas e mais de mil moradores. Vizinhos disseram ontem que ela não trabalhava fora e que adoeceu subitamente. Segundo eles, a dona de casa passava por muitas dificuldades. Evangélica, ela não tinha filhos e se dividia entre os trabalhos de casa e os cuidados com o marido, deficiente físico, que se locomove em cadeira de rodas.

- Ela estava boazinha, de repente, ficou doente. Em pouco tempo, morreu - disse uma vizinha.

No dia em que foi internada, a mulher esteve em busca de balas de hortelã no armazém de José Roberto Rocha, próximo à casa dela, para tentar aliviar a dor de garganta.

- Ela tossiu e pôs a mão nas costas em sinal de dor. Eu a aconselhei a procurar um hospital - disse José.

O secretário municipal de Saúde, Hans Dohmann, informou que a mulher teve os primeiros sintomas no dia 3 passado. Ela procurou um posto de saúde e foi medicada. Dois dias depois, seu quadro de saúde se agravou para uma pneumonia e ela foi internada num hospital particular, morrendo na última segunda-feira. De acordo com a secretaria, a mulher não viajou para o exterior, nem teve contato com alguém que tenha viajado. Também não faria parte dos grupos de risco.

Ministro: vírus já circula pelo país

A moradora do Rio pode ter sido um caso de transmissão sustentada, mas não seria o primeiro.

Segundo o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ficou comprovado que o vírus já circula livremente pelo país - o oitavo a ter esse tipo de transmissão - a partir da análise de um caso de São Paulo. Lá, uma menina de 11 anos morreu em Osasco, no dia 30 de junho, sem ter viajado ou tido contato com quem havia estado no exterior.

- Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), existem sete países em que a transmissão do vírus é considerada sustentada. Agora, o oitavo país é o Brasil - afirmou o ministro, acrescentando que os outros sete são Estados Unidos, México, Canadá, Chile, Argentina, Austrália e Reino Unido.

A transmissão sustentada também estaria ocorrendo no Rio Grande do Sul, que teve ontem confirmadas cinco novas mortes: a de um caminhoneiro em Uruguaiana; a de um comerciante de 42 anos e a de um garçom de 30, em Passo Fundo, ambos com histórico de hipertensão; a de um homem de 36, diabético e hipertenso; e a de um vigilante, de 26, que não tinha problemas de saúde.

Segundo o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, Osmar Terra, o estado "é a porta de entrada" do vírus devido à vizinhança com a Argentina e o Uruguai, que registram grande número de casos, e também por ser corredor de passagem de chilenos. Além disso, ressaltou o secretário, outro fator que predispõe a população gaúcha é o frio, que neste inverno está rigoroso.

- Mas não há motivo para pânico. A taxa de mortalidade desta gripe não é diferente da causada pela gripe sazonal. Estamos tendo o mesmo número de internações e apenas um número maior de consultas nas emergências - disse o secretário. - As mortes por pneumonia no estado giram em torno de 2.500 por ano, mais concentradas no inverno.

Segundo Temporão, a concentração de casos no estado gaúcho já era esperada, pela proximidade com a Argentina, terceiro país a ter mais mortes. Ele declarou que o estado terá tratamento prioritário e que uma equipe do Ministério da Saúde já trabalha no local para reforçar as informações sobre precaução e tratamento da doença.

- Não há nenhum motivo para pânico, nem recomendação para que se mude radicalmente o comportamento das pessoas. O momento é de tranquilidade - disse. - No Brasil, a grande maioria dos casos notificados já está curada ou em processo de recuperação.

Preocupado com as duas mortes em seu município, o prefeito de Osasco, Emidio de Souza, decidiu montar tendas em hospitais da cidade para a triagem de casos suspeitos da nova gripe. Para a tarefa, o governo municipal pediu a ajuda do Exército. As tendas devem começar a ser montadas na próxima semana, nos estacionamentos de três hospitais. Os pacientes com sintomas da gripe suína passarão por um pré-atendimento.

- Assim, evitaremos uma aglomeração desnecessária dentro das unidades - afirmou o prefeito.

A Organização Mundial da Saúde anunciou ontem que não divulgará mais uma contagem do número de casos de gripe suína por país. A agência da ONU estava informando quantos infectados havia em cada nação e o número de mortos. Segundo o site da OMS, a velocidade com que a doença se espalhou está fazendo com que seja extremamente difícil para os países confirmarem os casos por testes laboratoriais. "Além disso, a contagem de casos individuais não é mais essencial para alguns países monitorarem tanto o nível e a natureza do risco da pandemia, quanto a implementação de medidas apropriadas", afirmou a OMS em nota.

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