China rouba a cena em Copenhague

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Gigante asiático ofusca meta dos EUA com corte de emissão de 40%

Paulo Marcio Vaz- Jornal do Brasil

Rio - Um dia depois de os Estados Unidos chamarem a atenção do mundo ao anunciar uma meta de redução de CO2 – considerada baixa, mas importante, por especialistas – de 17%, a China não perdeu tempo e roubou a cena ontem. Sem ter a obrigação de se comprometer com uma meta de redução – por ser um país e em desenvolvimento – a nação mais poluidora do planeta comprometeu-se a reduzir entre 40% e 45% sua emissão de dióxido de carbono por cada unidade do PIB, índice mais conhecido como intensidade energética. O anúncio consolida uma reversão na tendência pessimista que ameaçava o sucesso da conferência do clima de Copenhague, entre 7 e 18 de dezembro, que alguns chegaram a considerar “enterrada”. Pequim também informou que o presidente chinês, Hu Jintao, vai comparecer ao encontro.

O anúncio chinês deixa mais otimista a comunidade internacional a respeito de resultados significativos a serem alcançados em Copenhague. Em números absolutos, não é possível mensurar o quanto a redução chinesa vai representar em emissão de CO2, pois isso dependerá do crescimento do PIB chinês. Mas o coordenador do do Programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, Carlos Rittl, fez uma projeção considerando um avanço anual de 10% do PIB da China até 2020.

Números absolutos

Segundo Rittl, se a China não adotasse qualquer medida de redução de CO2, o país emitiria, até 2020, 19,5 gigatoneladas de dióxido de carbono. Com a redução de 45% (o índice mais otimista), a emissão seria de 10,7 gigatoneladas, ou seja, 8,8 gigatoneladas a menos.

– A China tem tomado medidas importantes de eficiência energética – elogia Rittl.

O coordenador da WWF disse que o anúncio feito pela China, um dia depois de o presidente americano, Barack Obama, anunciar também a meta americana, começa a criar um ambiente mais favorável para um acordo significativo de redução de emissões a partir de 2012. Apesar das dificuldades de se conseguir consenso, principalmente entre países industrializados e em desenvolvimento, Rittl se coloca do lado de quem sempre acreditou na possibilidade de sucesso da conferência de Copenhague.

– Sempre acreditei que era possível. Espero acordar, depois de Copenhague, podendo comemorar a existência de um acordo, com força de lei, que garanta uma redução substancial de CO2.

Cautela e fiscalização

Já a professora do Instituto de Geoquímica da UFF, Cátia Fernandes Barbosa, é mais cautelosa, e lembra de uma questão que a faz desconfiar da consolidação da meta chinesa, apesar de também saudar o anúncio de Pequim:

– Há um fator que diferencia o grau de credibilidade que podemos ter em relação à China. A falta de liberdade de expressão naquele país obriga a nós, cientistas. a ficarmos mais vigilantes sobre o

cumprimento real dessa meta – analisa.

A professora pondera que, nos EUA, por exemplo, cientistas são capazes de criar órgãos independentes de reivindicação e fiscalização, o que, segundo ela, não ocorreria na China.

-–Uma coisa é dizer, outra é fazer. Precisamos ser vigilantes e ficar atentos – completa. Cátia se mostra mais animada a respeito da confirmação da presença, na cúpula de Copenhague, de Jintao e Obama, líderes dos países mais poluentes no mundo.

- É fundamental que as barreiras políticas sejam vencidas nessa questão. Afinal de contas, a atmosfera é de todo mundo. É preciso que a questão das emissões de CO² alcance a mesma maturidade que outras questões já alcançaram, como, por exemplo, a do CFC (componente químico que afeta a camada de ozônio e tem sido substituído pela indústria mundial).

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