EUA entram na luta

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Obama viajará a Copenhague para apresentar meta de redução das emissões de gases do efeito estufa em 17% até 2020

Rodrigo Craveiro – Correio Braziliense

Foram oito anos de silêncio e de omissão absoluta. Uma época durante a qual George W. Bush se recusou a assumir compromissos para mitigar os efeitos do aquecimento global, enquanto o mundo vislumbrava sua própria destruição. A apenas duas semanas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a Casa Branca anunciou “uma contribuição importante a um problema que os Estados Unidos têm negligenciado por tanto tempo”. “O presidente (Barack) Obama viajará a Copenhague, em 9 de dezembro, para participar do encontro. Ele está ansioso para trabalhar com a comunidade internacional no sentido de um progresso rumo a um acordo compreensivo e global”, afirma o comunicado divulgado ontem pela Presidência dos Estados Unidos. “No contexto de um pacto geral que inclua contribuições para uma mitigação robusta, por parte da China e de outras economias emergentes, o presidente está preparado para colocar sobre a mesa uma meta de redução das emissões de 17% (em relação aos níveis de 2005) até 2020, e alinhado com a legislação dos EUA sobre clima e energia”, acrescenta o texto.

Obama viajará acompanhado dos secretários Ken Salazar (Interior), Tom Vilsack (Agricultura), Gary Locke (Comércio), Steven Chu (Energia) e Lisa Jackson (Meio Ambiente). “Pela primeira vez, a delegação norte-americana terá um Centro dos Estados Unidos na conferência, fornecendo um fórum único e interativo para compartilhar nossa história com o mundo”, reitera o comunicado da Casa Branca.

Cientistas e ambientalistas consultados pelo Correio receberam a notícia com um “otimismo reticente”.

Por telefone, Rajendra Kumar Pachauri, chefe do Paintel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, pela sigla em inglês) e Prêmio Nobel da Paz, considerou a atitude de Obama “um bom começo”.

“Obama está no poder há apenas um ano e depende muito do Congresso, que não tem se mostrado muito entusiástico com o assunto”, criticou. “Mas estou grato por ele ir a Copenhague. É um bom desenvolvimento.”

O dinamarquês Bjorn Lomborg faz jus ao apelido de “ambientalista cético”. Em entrevista por email, ele admitiu que a meta de redução de 17% até 2020 “soa como uma boa promessa, mas simplesmente não será alcançada”. Para o especialista, as análises mostram que será mais provável uma redução de 3% a 4% — o restante viria do mercado de carbono. “É como usar truques de contabilidade para fazer com que o balanço bancário pareça maior. Muitos políticos estão prometendo coisas que não serão capazes de cumprir”, opinou. Lomborg crê que o mandatário norte-americano prestigiará apenas a abertura da conferência. “Ele não estará lá quando decisões reais forem tomadas e transmitidas ao mundo”, atacou.

Por sua vez, o cientista neozelandês Kevin Trenberth — autor dos três últimos relatórios do IPCC (1995, 2001 e 2007) — acredita que o problema está no aumento das emissões, apesar de o Protocolo de Kyoto ainda teoricamente vigorar. “Os EUA estão planejando reduzir as emissões, mas a meta ainda não está clara e o modo como será cumprida é incerto. Apesar de os números em discussão serem muito pequenos, precisamos começar de algum ponto, fazer mudanças em incentivos e penalidades, para então progredir”, comentou. Na opinião dele, o governo Obama “é forte na intenção” em lidar de modo responsável com as mudanças climáticas, “mas o processo político norte-americano revela-se lento, atrasado pelo debate da reforma da saúde”.

De viagem a Caxias do Sul (RS), Carlos Nobre, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e também membro do IPCC, não vê grandes novidades no anúncio da Casa Branca.

“Pela nova proposta, em 2020, os Estados Unidos reduziriam suas emissões em 1,23 bilhão de tonelada de dióxido de carbono equivalente. O Brasil tem uma meta voluntária de reduzir até 1,1 bilhão. Ao compararmos o tamanho das emissões americanas e brasileiras, veremos que essa meta dos EUA é muito modesta”, disse, por telefone. De acordo com ele, os países em desenvolvimento e o IPCC indicaram que as nações desenvolvidas deveriam diminuir suas emissões em 40%, em relação a 1990. “Quando olhamos que o IPCC recomendou um corte muito rápido nas emissões, para que a temperatura não suba mais de dois graus Celsius, vemos que a promessa dos EUA é aquém do que o mundo está pedindo”, acrescentou.

Eu acho...

“É um bom começo, considerando que os Estados Unidos não têm feito muito na área. Se observamos desse ponto de vista, veremos que foi um passo adiante. Obama está no poder há apenas um ano e depende muito do Congresso. Sob essas circunstâncias, não estou certo de que ele conseguiria metas mais altas. Mas estou grato por ele ir a Copenhague. É um bom desenvolvimento” Rajendra Kumar Pachauri, chefe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e Nobel da Paz

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