Braselco também acredita que energia eólica dificilmente terá novas quedas de preço no País
Por Milton Leal - Jornal da Energia
Nada de sombra e calmaria. O português Armando Abreu quer muito sol e vendaval. À frente da Braselco, consultoria especializada no desenvolvimento de projetos de geração de energias renováveis, o executivo que se considera um dos pioneiros da energia eólica em Portugal, onde implantou em 1992 a primeira usina desse tipo no país europeu, veio para o Ceará na metade da década de 90. Por aqui, ele pôde participar de momentos-chave da evolução da fonte, passando pela instalação das primeiras torres de medição de vento no Nordeste, a criação do Proinfa e chegando aos leilões específicos, que contrataram 3.852MW de novos projetos eólicos nos últimos 11 meses.
Agora que o setor eólico caminha a passos largos e vivencia expressivo crescimento, ele afirma que é hora de esperar a explosão do segmento de energia solar. Abreu estima que já em 2011 algumas novidades podem surgir no setor solar. "Estamos assessorando cinco ou seis players nessa área. Estamos fazendo muita consultoria para empresas que querem abrir fábricas de painéis solares e investidores interessados em produzir células de silício", disse o CEO, por telefone, de seu escritório em Fortaleza, onde funciona a Braselco Serviços, que foi a primeira empresa da holding Grupo Braselco.
Além de Abreu, o grupo, que tem ainda como sócio o diretor e engenheiro mecânico Gustavo Silva, detém também a Braselco Sul, consultoria focada no mercado de energias renováveis do Rio Grande do Sul e a Braselco Equipamentos, que produz torres de medição de vento e importa sensores de alta tecnologia para a realização desse tipo de serviço aos clientes. O executivo garante que investir em usinas não faz parte do escopo das empresas. "Somos claramente uma empresa de serviços. Não queremos investir", afirma.
Em 2010, o grupo espera atingir R$16 milhões em faturamento, número 33% maior que aquele verificado no ano anterior. Os projetos eólicos são o carro-chefe da empresa, que possui atualmente 360,2MW de projetos que foram assessorados em operação e mais420,3MW que devem entrar em operação nos próximos três anos, sem contar um portfólio em desenvolvimento da ordem de 1.830MW.
No último primeiro certame exclusivo para energia eólica, promovido em dezembro passado, a Braselco viabilizou 285,3MW de onze parques a um preço médio de R$131 por MWh. No último leilão de reserva e de fontes alternativas, realizado em agosto deste ano, a companhia acabou não negociando energia de nenhuma usina. Abreu explica que o valor médio da energia negociada no último certame, que foi 7% menor quando comparado ao da primeira licitação da fonte, só foi possível porque os fornecedores de turbinas e aerogeradores baixaram os preços em até 15%, pois possuíam muitos equipamentos em estoque devido à retração do mercado ocasionada pela crise econômica internacional de 2008/2009. "Cerca de 70% a 80% do capex de um parque eólico corresponde ao custo das máquinas. A redução do preço por parte dos fabricantes foi um dos motivos para atingirmos patamares de tarifa nunca antes pensados", opina.
Além desse fator, ele afirma que os investidores que optaram por grandes complexos eólicos tiveram vantagem na hora de negociar os equipamentos com os fornecedores devido ao ganho de escala. "Se analisarmos o resultado dos leilões, perceberemos que um pequeno projeto de 30MW não é mais competitivo. Aqueles que apostaram em vários parques que formavam um complexo de 100MW ou 150MW conseguiram negociar melhor os contratos de equipamento, obras civis e elétricas", resume o especialista, que acredita que essa tendência continuará em voga no mercado.
Os investidores dos projetos eólicos também precisaram reduzir suas expectativas de retorno sobre o capital próprio investido para reduzir as tarifas ofertadas nos certames . Segundo Abreu, as margens de 20% que eram usuais caíram para no máximo 13%. Contudo, o executivo é cético com relação à curva de descenso do preço da energia eólica. Ele acredita que os fornecedores a margem dos fabricantes de aerogeradores já chegou ao fundo do poço e que somente algumas otimizações na parte civil, elétrica e logística dos parques é que podem ser feitas.
O que pode contribuir significativamente para o setor eólico, na opinião de Abreu, seria uma reforma tributária que desonerasse a cadeia produtiva nacional. Este pleito já foi apresentando ao governo pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Na parte regulatória, ele acredita que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve dar mais atenção para a questão que envolve o sombreamento de parques, ou seja, a interferência de parques sobre outras usinas próximas. "Tivemos a Resolução 391 sobre o assunto, mas ainda há muito trabalho a ser feito", conclui.