Renato Grandelle - O Globo
RIO - O planeta perdeu 2,3 milhões de km² de área verde original entre 2000 e 2012, algo equivalente ao tamanho da Argentina, segundo estudo publicado na “Science”. O trabalho mostrou também que, ao longo do mesmo período, 800 mil km² foram replantados. A preservação de florestas é um exemplo de como a comunidade internacional, reunida na Conferência do Clima (COP-19), em Varsóvia, pode controlar as emissões de gases-estufa.
O estudo exalta o Brasil por ter reduzido pela metade as taxas de desmatamento da Amazônia entre 2000 e 2012. O desmatamento brasileiro caiu de 40 mil km² para 20 mil km² anuais em 12 anos. Ontem à tarde, no entanto, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou que o desflorestamento amazônico foi maior que o previsto. Estimava-se que, entre agosto de 2012 e julho deste ano, a supressão de área verde aumentaria 20% em relação ao período anterior. O desmatamento, porém, aumentou 28%. É a primeira vez que este índice cresce desde 2008.
Diretora de relações institucionais da ONG Conservação Internacional, Patrícia Baião avalia que as bordas da floresta ainda são frágeis, mas que houve um progresso significativo no monitoramento do bioma nas últimas décadas.
— Somos um exemplo para o mundo, mas a taxa divulgada pelo Inpe mostra que ainda temos muito trabalho pela frente — destaca Patrícia Baião. — Falta investir na implementação das áreas protegidas e fortalecer a gestão ambiental, inclusive nos estados e nos municípios.
Ameaças em regiões tropicais
Segundo o estudo da Universidade de Maryland (UMD, na sigla em inglês), a Indonésia foi o país que mais aumentou o desmatamento entre 2000 e 2012 — em cerca de mil km² anuais, saindo de menos de 10 mil km² de florestas derrubados por ano entre 2000 e 2003 para mais de 20 mil km² anuais em 2011 e 2012. A perda de áreas verdes também foi proporcionalmente alta em outras nações em desenvolvimento, como Costa do Marfim, Malásia, Paraguai, Zâmbia e Angola.
— As perdas ou os ganhos da cobertura florestal estão relacionados a diversos aspectos do ecossistema, como a regulação do clima, a biodiversidade e o abastecimento de água — lembra Matthew Hansen, autor do estudo e professor de Ciências Geográficas da UMD. — Mas, até agora, não havia um modo de obter por satélite informações detalhadas de todo o planeta.
Hansen lembra que a preservação das áreas verdes é importante para que os pesquisadores avaliem o estoque de carbono absorvido pelas florestas — e que, desta forma, impediria a elevação da temperatura global. Também é possível observar ameaças à biodiversidade.
As florestas tropicais exibiram os maiores índices de aumento devastação. Foram 2,1 mil km² de cobertura vegetal a mais perdida a cada ano.
O monitoramento foi feito com base em informações capturadas pelo programa Satélite de Observação dos Recursos da Terra (Eros) entre 1999 e 2012 e a colaboração de cientistas do Google Earth Engines. O modelo implementado pela equipe permitiu o processamento de 650 mil dados geoespaciais em poucos dias. Até então, a análise de todas as imagens consideradas pelo estudo poderia durar até 15 anos.
Fundo Verde ainda no papel
O combate ao desmatamento é um ponto sensível na agenda de encontros internacionais.
Na Conferência do Clima de Copenhague, em 2009, os países desenvolvidos se comprometeram a repassar US$ 100 bilhões para que as nações em desenvolvimento criassem programas de adaptação às mudanças climáticas. O Fundo Verde do Clima, como foi chamado, seria a principal fonte de capital para garantir a preservação das florestas. Até julho, porém, o programa havia captado apenas US$ 9 milhões, depositados principalmente por Coreia do Sul, Alemanha, Reino Unido e Suécia.