A forte onda de frio que tem castigado a América do Norte é resultado de um 'desvio' do ar do Ártico para o sul e o aquecimento global pode ser a causa deste evento incomum
AFP
Em Paris
A forte onda de frio que tem castigado a América do Norte é resultado de um 'desvio' do ar do Ártico para o sul e o aquecimento global pode ser a causa deste evento incomum, afirmou um especialista nesta segunda-feira (6).
O ar do Ártico costuma ficar confinado no topo do mundo devido a um potente vento circular chamado vórtice polar, explicou Dim Coumou, cientista sênior do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático (PIK), perto de Berlim.
Quando o vórtice perde força, o ar começa a se dirigir para o sul, levando neve e frio excepcionais para latitudes intermediárias.
A mudança climática também é impulsionada por mudanças em um vento de altitude elevada chamada corrente de jato.
Esta convecção, que costuma circundar o hemisfério norte de forma robusta e previsível, começa a oscilar, criando círculos de clima extremamente frio ou de um clima moderado fora de época, dependendo da localização.
"Nós vimos uma forte oscilação da corrente de jato e o ar frio associado ao vórtice polar se moveu na direção sul. Neste caso, sobre as regiões leste do Canadá e dos Estados Unidos, levando este clima frio extremo", afirmou Coumou.
Ele destacou que o fenômeno se repetiu nos últimos anos.
O que impulsiona o vórtex polar é a diferença de temperaturas entre o Ártico e as latitudes medianas, disse Coumou.
Antes agudo, este diferencial foi perdendo nitidez nos últimos anos à medida que o Ártico - onde as temperaturas estão subindo cerca de duas vezes acima da média mundial - aquece, explicou.
"Nós temos visto este tipo de onda de frio com mais frequência nos últimos invernos na Europa, mas também nos Estados Unidos", disse Coumou em entrevista por telefone.
"A razão pela qual nós vemos estas fortes oscilações ainda não é totalmente conhecida, mas está claro que o Ártico está esquentando muito rapidamente. Temos dados confiáveis sobre isto. As temperaturas no Ártico aumentaram muito mais do que em outras partes do globo", acrescentou.
No mês passado, cientistas europeus indicaram que o volume de gelo marinho em novembro tinha sido cerca de 50% maior do que há um ano.
Apesar dessa recuperação, o gelo marinho mantém baixas próximas do recorde documentado e a tendência geral é de recuo, afirmaram.
Coumou alertou que o gelo marinho do Ártico "é apenas um dos fatores importantes" por trás da disfunção do vórtice polar.
"Outros fatores incluem a cobertura de neve, eventos de aquecimento estratosférico ou outros fenômenos de curto prazo", afirmou.