Cientistas independentes se mobilizam para estudar impactos da lama tóxica no Rio Doce

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Mais de quatro mil brasileiros estão se voluntariando no Grupo Independente para Análise do Impacto Ambiental (GIAIA): ideia é mensurar a real dimensão da tragédia


Isabela Moreira | Galileu

No dia 5 de novembro ocorreu o rompimento das barragens da mineradora Samarco, joint venture da BHP e da Vale, que deixou a cidade de Mariana, em Minas Gerais, em estado de calamidade pública e causou um desastre ambiental sem precedentes no Brasil.

 (Foto: Reprodução/Facebook)

Na última segunda-feira (16), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF-MG) anunciaram que a Samarco pagará R$ 1 bilhão por conta dos prejuízos causados pelo rompimento das barragens.

Desde a ocorrência, imagens do desastre têm aparecido nas redes sociais: grandes quantidades de lama, peixes e outras espécies mortas, sem contar a situação de centenas de pessoas que perderam suas casas em meio ao desastre. Muito do que um dia foi o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, desapareceu.

Está em andamento a Operação Arca de Noé, na qual as autoridades pretendem transferir os peixes das regiões da bacia hidrográfica do Rio Doce que ainda não foram atingidas para lagoas de água limpa. Ainda não se sabe, no entanto, qual é a real dimensão dos impactos causados pela tragédia.

Ao acompanhar as notícias, um grupo de pesquisadores brasileiros começou a se mobilizar virtualmente para realizar um estudo independente sobre os impactos do rompimento das barragens. “Vimos alguns órgãos falando que não havia contaminação na água, outros que sim. Decidimos fazer uma iniciativa independente, realizada por meio de crowndfunding, com a maior precisão possível”, conta Alexandre Camargo Martensen, graduado na Universidade de São Paulo e doutorando em ecologia na Universidade de Toronto, no Canadá.

Assim nasceu o Grupo Independente para Análise do Impacto Ambiental (GIAIA) – Samarco/Rio Doce. O objetivo da iniciativa é, além de tudo, criar um relatório completo e transparente para a sociedade. “Poucas vezes a comunidade diretamente afetada é contatada sobre o que está ocorrendo”, diz Martensen. “Entendemos que isso não deveria ser feito dessa maneira. Queremos entender os impactos diretos desse acidente.”

O que começou com um grupo de dez pesquisadores acadêmicos se tornou uma comunidade com mais de quatro mil adeptos - entre eles cientistas e voluntários. O GIAIA está aberto à ajuda de quem puder prestá-la: desde quem tem a possibilidade de ir a campo coletar amostras até quem mora na região e tem disponibilidade para hospedar os pesquisadores.

Os primeiros cientistas que foram a campo foram por conta própria ou com a ajuda de suas universidades. Por isso o grupo criou uma campanha de crowndfunding para arrecadar recursos para enviar mais pessoas a campo e fazer as devidas análises. A meta era de R$ 50 mil em trinta dias - até a publicação dessa matéria, foram doados R$ 51,6 mil.

Ainda é possível doar e, com o crescimento da rede, foi iniciada uma série de grupos de trabalho. Entre elas, análises de amostras da água antes e depois da passagem da lama; das espécies do meio biótico; das aquáticas e das plantações. O apoio vem de diferentes partes do mundo: gente do Espírito Santo até a Austrália já se disponibilizou a ajudar. Um pouquinho de luz e solidariedade em tempos tão difíceis.

É possível realizar doações para a campanha do GIAIA, participar do grupo de voluntários e acompanhar as atualizações da equipe na página do Facebook.


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