Última expedição foi em abril. De lá para cá, condições ambientais mudaram.
O rompimento da barragem em Mariana já completou 11 meses.
Mário Bonella | TV Gazeta
Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) estão sem receber amostras da água do Rio Doce há cerca de seis meses. A última expedição ocorreu em abril. De lá para cá, as condições ambientais mudaram e a falta de materiais tem prejudicado o avanço nos estudos.
Amostras de água do Rio Doce das expedições feitas até abril deste ano (Foto: Reprodução/ TV Gazeta) |
O rompimento da barragem em Mariana já completou 11 meses. Uma lama de rejeitos de minério vazou, arrasou vilas, matou pessoas e chegou até o Rio Doce, que percorre cidades mineiras e também capixabas. No Espírito Santo, as cidades afetadas foram Baixo Guandu, Colatina e Linhares, onde fica a foz do rio.
Assim que a lama chegou ao Rio, aumentou muito a quantidade de metais na água, mas depois o sedimento se concentrou no fundo e a água começou a voltar aos padrões normais. Esse foi o resultado da análise em amostras dos dois navios que percorreram a área afetada, colhendo amostras. Um era da Marinha e o outro do Instituto Chico Mendes.
Mas depois dessas expedições, nenhuma outra foi feita. Segundo o geólogo Alex Bastos, as condições do rio mudaram em seis meses, principalmente com a chegada de frentes frias.
"Você vai ter uma lacuna da evolução do problema. Então se a gente agora coleta uma amostra e dá um resultado completamente diferente de abril, como é que a gente vai explicar essa diferença? Pode ser qualquer coisa. Essa lacuna é muito ruim, agora ela existiu e a gente precisa continuar daqui para frente, a gente precisa volta", disse.
Bastos ainda explicou que essa é uma pesquisa que não pode ser feita com um barco pequeno. E também não basta colher água ou lama em qualquer ponto do rio ou da praia e levar para o laboratório. As amostras que eles analisam precisam ser colhidas em pontos específicos, profundidades determinadas e com equipamentos adequados. Só assim eles conseguem fazer uma comparação para saber de que maneira a lama está interferindo no meio ambiente.
"É um trabalho de campo de oito dias e você tem que embarcar sete ou oito pessoas. A gente precisa de verba e a verba é limitada no caso da pesquisa", desabafou.
A lama de rejeitos de minério é um material bem mais fino do que a areia natural do Rio Doce, segundo especialistas. Depositada no fundo do rio, ela não se compacta, fica como um gel e isso interfere na dinâmica do rio e na dinâmica da costa.
Interferência no mar de Regência
O geólogo ainda explicou que a lama pode ter alterado a força do mar na praia de Regência. No ano passado, antes da lama, o Rio Doce estava fraco por causa da seca, não conseguia nem desaguar no oceano. O mar é que invadia o rio e deslocava a areia da praia, formando uma barreira que fechava a foz do rio.
Depois da lama, a estiagem continuou e o nível do rio baixou ainda mais, mas dessa vez a foz não foi fechada, as ondas não empurram mais tanta areia. "Com essa lama fluida, é como se ela amortecesse a onda. Ao invés de a onda continuar, ela é amortecida pela lama", explicou.
Outro lado
- Fundação Renova
A Fundação Renova, criada para analisar os impactos da lama, informou que monitora a qualidade da água e dos sedimentos. No mar são 31 pontos analisados e, segundo a fundação, os resultados estão dentro dos limites do Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Já análise dos seres vivos perto da foz do rio e dos oceano só deve começar em dezembro deste ano. Até que não se tenha uma conclusão sobre as consequências da lama na qualidade da água e dos peixe, a pesca continua proibida no mar de Regência.
A Fundação foi criada depois do Termo de Transação de Ajustamento de Conduta assinado pela Samarco e suas acionistas, governo federal, governo do Espírito santo e de Minas gerais, entre outras instituições.
- Instituto Chico Mendes
O Instituto Chico Mendes informou que está em busca de recursos para que as expedições continuem sendo feitas. Mas ainda não tem uma data para isso acontecer.