Água utilizada contra incêndio pode ter contaminado córregos e Rio Mogi

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Fogo começou em uma correia e atingiu armazéns da Vale Fertilizantes.Ministério Público, Estadual e Federal, investigará as causas e danos.


Do G1 Santos

A água utilizada no combate ao incêndio que atingiu armazéns de uma unidade da Vale Fertilizantes, nesta quinta-feira (5), em Cubatão (SP), pode ter contaminado córregos da cidade, o Estuário e o Rio Mogi. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) iniciou, nesta sexta-feira (6), os trabalhos de avaliação e investigação dos danos ambientais causados pelo incidente. O Ministério Público, Estadual e Federal, também pediu a abertura de inquérito para apurar as causas e consequências do incêndio.

Segundo informou empresa, incêndio atingiu correia transportadora (Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros)
Segundo informou empresa, incêndio atingiu correia transportadora (Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros)

Segundo a Cetesb, as unidades não afetadas devem retomar a operação após revisão, provavelmente no fim de semana. Já a licença ambiental de operação para as unidades afetadas foi suspensa. A reforma foi condicionada à obtenção da autorização.

O trabalho de rescaldo feito pelo Corpo de Bombeiros terminou no início da manhã desta sexta-feira. Segundo Geraldo do Amaral, diretor de controle ambiental da Cetesb, não há risco de novos incêndios na área. Agora, iniciou-se o período de investigações, para verificar os danos ambientais.

"Estamos trabalhando em duas frentes de ação. Numa primeira frente, investigamos o motivo do acidente, para que o funcionamento da empresa seja possível, dentro da segurança necessária. Também estamos trabalhando com a avaliação dos ambientes aquáticos e aéreos. Estamos monitorando o Rio Mogi, verificando eventuais impactos que o lançamento dos efluentes possa ter causado nesse corpo d'agua, e avaliando também a qualidade do ar", explica.

Ainda segundo Amaral, por enquanto não foi detectada qualquer alteração da qualidade do ar, nem mortandade de peixes, mas a qualidade da água ainda está sendo analisada. A preocupação é que a água utilizada no combate às chamas tenha atingido rios e córregos.

"O volume utilizado para o combate ao incêndio foi muito grande, não pode ser contido nas bacias de contenção que a empresa tem para isso. Houve um extravasamento, que atingiu a condição hídrica local, e nós estamos investigando isso, no córrego adjacente, no Rio Mogi e na entrada do Estuário, para ver se há algum impacto", relata.

Herbert Passos, presidente do Sindicato dos Químicos, também visitou o local na manhã desta sexta-feira. Segundo ele, o incêndio foi motivado por falta de manutenção na correia. "Não foi dado o devido valor a um problema de manutenção que estava ocorrendo em uma esteira transportadora. Isso causou o incêndio, as explosões e toda a ocorrência que nós tivemos, com um impacto muito grande na região. Esse é um problema que já acontecia há uns dois ou três dias, a correia estava aquecendo, mas não foi tomada nenhuma providência", afirma.

O gerente de produção das unidades de Cubatão da Vale Fertilizantes, Christian Barge, rebate a acusação. Ele diz que a empresa tem padrões elevados, que comprovam a manutenção periódica e preventiva. "O próprio sindicato participa de auditorias periódicas dentro da empresa. Não procede a informação de falta de manutenção como causa do incêndio", diz.

Segundo Barge, o fogo iniciou em uma esteira e se alastrou para dois armazéns com fertilizantes. "Um armazém com 10 mil toneladas de nitrato de amônio foi atingido. No caso do outro, a extensão foi mais na parte do telhado. Esse tinha 8 mil toneladas de MAP, também um fertilizante, mas não foi atingido pelo fogo", explica.

O Ministério Público Federal em Santos determinou a instauração urgente de um inquérito para investigar o incêndio e o vazamento dos produtos químicos na Vale Fertilizantes. O procurador da República, Tiago Lacerda Nobre, destaca entre os motivos a possibilidade real de risco à saúde da população e dos trabalhadores da região, e os prováveis danos ao meio ambiente.

O Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (GAEMA), do Ministério Público Estadual (MPE), também vai abrir uma investigação para apurar a responsabilidade pelos danos ambientais causados pelo incêndio. "Formalizaremos a instauração do inquérito a partir de segunda-feira. Como providências preliminares, requisitaremos à Cetesb, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros um relatório completo do atendimento a essa diligência", revela Flávia Maria Gonçalves, promotora do MPE.

Incêndio

Uma forte explosão foi registrada na tarde de quinta-feira na Vale Fertilizantes, em Cubatão, às margens da Rodovia Cônego Domênico Rangoni. O incidente foi ocasionado por um incêndio na Unidade 2 da empresa, iniciado em uma correia transportadora. Um dos armazéns, com nitrato de amônio, pegou fogo. A estrutura de outro armazém também foi atingida.

Segundo o Corpo de Bombeiros, houve vazamento de nitrato de amônio e ácido sulfúrico na atmosfera, produtos considerados altamente tóxicos. Ao todo, 15 equipes do Corpo de Bombeiros da Baixada Santista e 20 da Grande São Paulo foram deslocadas ao local para atenderem a ocorrência, além da Brigada de Incêndio da empresa.

Seguindo as diretrizes de segurança da empresa, houve evacuação imediata e paralisação da produção da unidade e empresas vizinhas. Dois bombeiros, durante o combate, passaram mal e foram imediatamente atendidos. Ainda segundo a Vale, os bombeiros passam bem.

As famílias que moram próximas ao local do incêndio foram evacuadas e retornaram ao seus lares por volta das 21h de quinta-feira. Elas precisaram ser removidas de suas residências por conta da fumaça tóxica jogada na atmosfera, que poderia causar danos aos moradores.

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