A ingestão de lixo plástico é uma das maiores ameaças à vida a marinha na atualidade.
Exame
São Paulo – Quando plásticos chegam aos oceanos, eles se quebram em minúsculos pedaços, que são facilmente confundidos por alimentos pelos animais, acarretando em uma série de problemas de saúde – asfixia, ferimentos internos, desnutrição – podendo até levar à morte. Mas nem sempre a ingestão acidental é o problema.
Imagem da Duke University mostra um pólipo do coral com um pedaço de plástico | © Divulgação |
Pesquisadores da Duke University descobriram que, em se tratando dos corais, a ingestão de microplásticos pode se dar por outro motivo: eles “gostam” do sabor. Como os plásticos podem liberar centenas de compostos químicos em seus corpos e no ambiente circundante, a suspeita é de que os corais tenham um apetite especial por algumas dessas substâncias, mas os cientistas ainda não sabem dizer quais.
Os efeitos biológicos desse “fast-food” de compostos químicos para os corais ainda são desconhecidos, mas alguns, como os ftalatos, são conhecidos estrogênios e androgênios ambientais, hormônios que afetam a determinação do sexo. O estudo foi publicado no periódico Marine Pollution Bulletin.
Para o experimento, os pesquisadores coletaram corais na costa da Carolina do Norte, nos EUA, e os colocaram num tanque de água salgada. Na hora de alimentá-los, eles deixavam cair pedaços de plástico e de areia do mesmo tamanho perto dos pólipos, aquelas estruturas cilíndricas em forma de saco que formam o corpo do coral e em cuja extremidade superior se encontra a boca.
No primeiro experimento, eles usaram oito tipos diferentes de microplásticos e grãos de areia limpos. Quando reconheciam os grãos de areia, a boca dos pólipos se fechava. Já os plásticos… ”Descobrimos que os corais comeram todos os tipos de plástico que oferecemos e praticamente ignoraram a areia”, disse o pesquisador Austin S. Allen, em comunicado da universidade. “Isso sugere que o próprio plástico contém algo que o torne saboroso”.
O coral não tem olhos, o que significa que eles procuram alimentos usando sensores químicos, que seriam a versão da língua. Essencialmente, eles devem provar algo para decidir se é comida. O coral comeu 80% do plástico oferecido, mas comeu areia apenas uma vez em 10 tentativas, o que significa que eles podem perceber uma diferença entre os dois.
No segundo experimento, eles dividiram os corais em câmaras de alimentação separadas. A cada grupo foi oferecida a mesma quantidade de “alimentos” plásticos durante um período de 30 minutos, mas alguns grupos receberam apenas partículas microplásticas puras e limpas, enquanto outros receberam microplásticos cobertos por um biofilme bacteriano, que máscara o “sabor” do plástico.
Dessa vez, os pesquisadores verificaram que os corais comeram os dois tipos de plástico, mas preferiram o tipo puro por uma margem de três a um, talvez porque os plásticos novos possuem carga química mais alta do que aqueles que já estão em fases avançadas de degradação. Além disso, cerca de 8% do plástico ingerido ficava retido nos sistemas digestórios dos corais por 24h ou mais.
Os pesquisadores esperam que suas descobertas incentivem mais pesquisas para explorar o papel que o “gosto” do plástico desempenha e por que os organismos marinhos ingerem os microplásticos, procurando formas de contornar esse problema.