Secas prolongadas, inundações e pior qualidade das águas são alguns dos perigos mais prementes que as cidades deverão enfrentar perante a mudança climática, razão pela qual os especialistas dizem que é preciso continuar avançando na adaptação dos sistemas de gestão de água por conta destes fenômenos.
Paula Fernández | EFE
Lisboa - Embora nas últimas décadas tenham sido dados passos importantes para melhorar a gestão urbana da água, a mudança climática, que já começou a reduzir os recursos hídricos e a piorar sua qualidade, se transformou em uma das principais ameaças para as cidades e o fornecimento de água.
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Exatamente por essa razão é um dos temas centrais do X Congresso Ibérico de Gestão e Planejamento da Água realizado na cidade de Coimbra, onde especialistas de Espanha e Portugal aprofundaram a coordenação e colaboração destes dois países em matéria hídrica.
Fazer frente a problemas como a mudança climática é precisamente uma das debilidades que a comunidade científica identifica nos acordos e convênios assinados entre os dois países, como explicou à Agência Efe o catedrático em Geografia Humana da Universidade de Sevilla Leandro del Moral.
"É necessário avançar na materialização de coisas que já estão claras em nível técnico", defendeu o professor.
Os perigos também estão claros: a mudança climática vai reduzir a quantidade de recursos disponíveis; o aumento das temperaturas e a piora da poluição vai diminuir a qualidade da água, e os fenômenos meteorológicos extremos vão afetar cada vez mais o espaço urbano.
Para fazer frente a isso, Del Moral considera "fundamental" a incorporação das águas fluviais à gestão urbana e a adaptação da cidade a esses fenômenos extremos cada vez mais frequentes por meio de sistemas urbanos de drenagem sustentável.
"Até o momento, não pensávamos além de como tirar a água fluvial o mais rápido possível e hoje nos demos conta que é preciso integrá-la no conjunto da gestão do ciclo urbano", afirmou o catedrático, que disse que é necessário aproveitar a chuva como um recurso hídrico a mais.
A depuração das águas residuais é outra das questões pendentes dos municípios, que devem aprender a reutilizá-las e potencializar assim a economia circular, um dos princípios "mágicos" para enfrentar a mudança climática, segundo Del Moral.
Nesse sentido, Madri leva vantagem perante outras cidades ibéricas, já que a capital espanhola se transformou em um exemplo de como reutilizar as águas residuais para usos como a limpeza urbana e a irrigação.
Um ponto no qual houve avanços notáveis é na redução dos consumos, com casos chamativos como o de Sevilla, onde nos últimos 25 anos o consumo per capita diminuiu 40%.
A melhoria da eficiência das redes, a modernização dos encanamentos e dos eletrodomésticos, o aumento da progressividade nas contas de água - quanto mais consome, mais paga -, os contadores individuais e uma forte campanha de educação cidadã permitiram esta redução do consumo.
Mas, apesar de "as coisas estarem sendo feitas de uma maneira boa", existem "recursos e margem tecnológica, organizativa e educativa" para seguir melhorando a eficiência e reduzir os litros de água consumidos por cada cidadão, garantiu Del Moral.
A face preocupante desta redução é como afeta as empresas que abastecem as cidades, que viram reduzido seu faturamento e, nesse sentido, os participantes do Congresso, organizado pela Fundação Nova Cultura da Água, defendem a titularidade pública destas companhias.