Número de focos de incêndio cresce 159% no Rio de Janeiro, aponta Climatempo

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Entre janeiro e agosto deste ano, órgão registrou 396 focos de fogo ativos no estado, contra 153 no mesmo período de 2018. Número de ocorrências do Corpo de Bombeiros e de denúncias da Linha Verde triplicaram.


Por Cristina Boeckel, Daniel Silveira e Raoni Alves | G1 Rio

O número de incêndios florestais no Rio de Janeiro disparou nos oito primeiros meses de 2019 em comparação com o ano passado.

Arte mostra evolução do registro de focos de incêndio no Rio de Janeiro — Foto: Rodrigo Sanches/G1
Arte mostra evolução do registro de focos de incêndio no Rio de Janeiro — Foto: Rodrigo Sanches/G1

De acordo com o Climatempo, entre 1º de janeiro e 22 agosto deste ano, foram observados 396 focos de fogo ativo no estado, 159% a mais que o registrado no mesmo período de 2018, quando foram observados 153 focos.

Clima severo e falta de fiscalização

Nos registros do Corpo de Bombeiros e da Linha Verde do Disque Denúncia, os dados mostram que os registros são até três vezes maiores este ano.

O aumento foi observado em quase todos os primeiros meses do ano, mas com salto significativo entre junho e agosto.

Especialistas ouvidos pelo G1 apontam como causas a influência climática e o desmonte dos órgãos de fiscalização sob influência da política ambiental do governo federal.

“Em quase todos os meses, até agora, o número de focos de fogo foi maior em 2019 em relação a 2018. Em março, o número de focos foi ligeiramente menor do que em 2018 e abril de 2019 não foi detectado nenhum foco de fogo”, destacou a meteorologista do Climatempo Josélia Pegorim.

A especialista observou que o maior número de focos de incêndio em 2019 foi registrado entre julho e agosto.

“Os dois meses juntos, até o dia 22 de agosto, somam 271 focos, o que representa 68% do total dos registrados este ano”, ressaltou.

Entre julho e agosto do ano passado, o Climatempo havia registrado 103 ocorrências, o que indica uma alta de 163% no número de casos.

Josélia Pegorim apontou, ainda, que a ocorrência de chuva no Rio de Janeiro em julho e agosto deste ano foi um pouco menor que em 2018. Mas ela não crê que isso possa ser apontado como a causa do aumento no número de incêndios no estado.

“Do ponto de vista meteorológico, a menor quantidade de chuva em julho e em agosto facilita o surgimento e alastramento de focos de fogo, pois o solo fica mais seco. Mesmo assim, só este fator não consegue explicar as diferenças do número de focos de fogo de 2018 para 2019”, explicou.

Incêndios em áreas de proteção ambiental

As ocorrências de incêndios em áreas protegidas do Rio de Janeiro, como parques, reservas e Áreas de Proteção Ambiental (APAs), triplicaram, de acordo com o registro de Corpo de Bombeiros. Entre janeiro e julho de 2019, foram 1.190 registros, contra 372 no mesmo período do ano passado – uma alta de 220%.

Em áreas não protegidas, como terrenos baldios e vegetação em geral, o aumento no número de casos foi de 63% no mesmo período – entre janeiro e julho de 2018 foram 5.286 ocorrências. Nos sete primeiros meses de 2019, o número saltou para 8.649.

Os registros do Corpo de Bombeiros mostram que houve aumento mensal no número de incêndios florestais no Rio de Janeiro, com salto expressivo principalmente nos meses de janeiro, junho e julho, cujo total de ocorrências mais que dobrou na comparação com o ano passado.

O registro de denúncias recebidas pelo Linha Verde, serviço do Disque Denúncia voltado a crimes ambientais, bateu recorde dos últimos seis anos.

Enquanto nos sete primeiros meses de 2018 foram registradas 49 denúncias ao Linha Verde, no mesmo período de 2019 foram feitas 132 – uma alta de 169%.

O G1 questionou o Ibama sobre o crescimento de queimadas em áreas de proteção no estado do Rio, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Desmonte da fiscalização ambiental

Ambientalistas ouvidos pelo G1 apontaram que há influência climática no aumento de incêndios florestais, mas avaliam haver relação direta com a política ambiental desenvolvida pelo governo federal.

"Esse quadro é causado pelos efeitos das mudanças climáticas no mundo e, é claro, também o desmonte da fiscalização ambiental ocorrido a partir deste ano", criticou o ambientalista Sérgio Ricardo, do Movimento Baía Viva.

Para Sérgio Ricardo, os responsáveis por incêndios criminosos em áreas classificadas como protegidas estão se sentindo mais "livres". Ele acredita que incendiários passaram a ter a percepção de que não serão punidos por atear fogo nesses locais.

O biólogo Mário Moscatelli acompanha a crítica. Para ele, as falas de autoridades públicas e a desarticulação de ações de combate ao desmatamento têm reforçado a ação de criminosos.

"Os corpos técnicos de órgãos ambientais estão sendo expostos. É um conjunto de fatores que acaba gerando esse tipo de reação das pessoas que são favoráveis ao desmatamento. Nada é fortuito", disse o biólogo.

Moscatelli lembrou, ainda, que há aspectos climáticos que favorecem a proliferação de queimadas.

"O aumento das queimadas é sazonal, mas com o agravamento da situação climática, o aquecimento global, junto com a sinalização do governo federal, a situação atual é preocupante", alertou o ambientalista.

Queimadas no Brasil

Em todo o Brasil, o número de incêndios florestais também subiu. Segundo levantamento do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o índice entre janeiro e agosto deste ano é o maior para o período em 7 anos.

Dados deste domingo apontam que o número de focos de queimadas supera a média histórica de agosto, segundo o Inpe.

Para ajudar no combate às chamas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) abriu contratação para brigadistas temporários para atuar em incêndios florestais no Distrito Federal e outros 17 estados do país.


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