Evento pretende discutir as relações entre aqüicultura e meio ambiente.
O 2º Workshop Internacional sobre Qualidade da Água e Boas Práticas de Manejo (BPMs) para a Aqüicultura será realizado em Manaus, AM de 22 a 25 de maio de 2007 na Universidade do Estado do Amazonas - UEA. Nesta segunda edição do evento, o primeiro aconteceu na Esalq//USP em Piracicaba, SP em 2006, a organização está a cargo do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e das Unidades da Embrapa: Amazônia Ocidental (Manaus, AM) e Meio Ambiente (Jaguariúna, SP).
De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, um dos organizadores do evento e também palestrante, Júlio Ferraz de Queiroz, o objetivo principal será repassar para os produtores e para todos aqueles envolvidos com cadeia produtiva da aqüicultura na região Amazônica os resultados e as experiências mais recentes sobre o desenvolvimento das Boas Práticas de Manejo (BPMs). “O evento vai permitir uma ampla discussão sobre as relações entre a aqüicultura e o meio ambiente, e também esclarecer porque a adoção destas BPMs é considerada por muitos aqüicultores e cientistas como a estratégia mais eficiente para o manejo ambiental da aqüicultura”, enfatiza Queiroz. Ainda segundo o pesquisador, os especialistas discutirão as implicações das restrições ambientais sobre o desenvolvimento da aqüicultura na Amazônia; os efeitos da nutrição e dos resíduos das rações sobre a qualidade da água e nos sedimentos do fundo dos viveiros e em reservatórios utilizados para o cultivo de peixes em tanques- rede; e a eficácia de diferentes práticas de manejo em função dos distintos sistemas de produção utilizados na criação de peixes. Vão discutir também questões referentes às metodologias existentes para avaliação ambiental e os procedimentos utilizados para o estabelecimento de indicadores de sustentabilidade, além de estabelecer as diretrizes para o desenvolvimento de BPMs para a aqüicultura na Amazônia.
Queiroz espera que este Workshop, assim como as experiências obtidas a partir dos eventos anteriores, venham contribuir não só para melhorar o nível de conscientização sobre os benefícios socioambientais que podem ser obtidos por meio da adoção das BPMs pelos aqüicultores e demais integrantes da cadeia produtiva da aqüicultura na região Amazônica, como também seja uma excelente oportunidade para o intercâmbio de informações entre os diversos pesquisadores de renome nacional e internacional e estudantes, oriundos de cursos de graduação e pós-graduação localizados na região Amazônica. Além deles, espera-se a presença de piscicultores, fabricantes de ração e outros insumos, pesquisadores e professores de diferentes universidades e instituições de pesquisa públicas e privadas.
O evento conta ainda com a parceria da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR), da Secretaria de Estado de Produção Rural do Amazonas (SEPROR/AM), do Pond Dynamics Aquaculture Collaborative Research Support Program (PD/A CRSP) e do Programa Cooperativo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Agrícola para os Trópicos Sul-Americanos (PROCITROPICOS). O financiamento do evento está a cargo da Secretaria de Estado de Ciência Tecnologia (SECT/AM), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Petrobras, além do apoio da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e da UEA.
As inscrições estão abertas e podem ser feitas no INPA pelos e-mails alzira@inpa.gov.br ou leem@inpa.gov.br. Os valores são de R$ 10,00 (estudantes de graduação), R$ 20,00 (estudantes de pós-graduação) e R$ 30,00 (profissionais). Informações complementares podem ser obtidas pelo telefone (92) 3643-3191.
Site do INPA: http://www.inpa.gov.br/noticia_sgno.php?codigo=432
Aqüicultura e sua contribuição para a produção de pescado
No decorrer dos últimos anos a aqüicultura vem contribuindo com uma parcela cada vez mais significativa para a produção de pescado mundial. De acordo com as estatísticas da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), 38% da produção de pescado mundial em 2004 foram oriundos da aqüicultura. A maioria das autoridades envolvidas com essas avaliações concorda que a aqüicultura continuará a crescer em relação à captura pesqueira. O uso da terra, água, energia, farinha de peixe e de outros recursos pela aqüicultura também está aumentando em um ritmo acelerado, o que poderá acarretar uma série de impactos ambientais.
Diante disso, confirma Queiroz, diversas ONGs ligadas ao meio ambiente têm demonstrado uma preocupação muito grande com relação à eficiência do uso dos recursos naturais pela aqüicultura, e também sobre os efeitos da aqüicultura sobre o meio ambiente .O pesquisador contrapõe dizendo que “há um consenso geral, mais evidente nos últimos anos, entre os especialistas que atuam na área de aqüicultura de que o cultivo da maioria das espécies aquáticas está sendo conduzido de uma forma mais responsável, sem causar muitos danos ao meio ambiente”. Entretanto, o pesquisador afirma que a maioria dos ambientalistas mantém a idéia de que os programas para a aqüicultura responsável estão apenas começando a ser adotados pelos produtores, e que ainda resta muito para ser feito.
Do outro lado da questão, os consumidores também estão ficando cada vez mais atentos, e muitos deles estão procurando alimentos produzidos por meio de métodos ambientalmente mais responsáveis. Segundo o professor Claude E. Boyd, da Universidade de Auburn, no Alabama, um dos participantes do Workshop, “em resposta a estas preocupações os EUA e muitos países aumentaram a quantidade de regulamentações ambientais para a instalação e funcionamento de diversos projetos de aqüicultura, a tal ponto que alguns produtores estão voluntariamente adotando práticas consideradas ambientalmente mais responsáveis e algumas organizações já estão testando programas de certificação com vistas à emissão de rótulos verdes, os chamados eco-labels”, explica ele.
O Pond Dynamics Aquaculture Collaborative Research Support Program – PD/A CRSP, é um Projeto Internacional, coordenado pela Universidade de Oregon, que estuda a dinâmica dos viveiros de aqüicultura, e tem liderado esse tipo de atividade a fim de promover o desenvolvimento da aqüicultura de forma ambientalmente responsável e sustentável. Pensando nisso, o professor Boyd conduz vários projetos com a intenção de melhorar o desempenho ambiental da aqüicultura por meio de estudos sobre o manejo dos sedimentos do fundo de viveiros e da qualidade da água em diversos países, como por exemplo, na Tailândia, na África do Sul, e também no Brasil, além de participar de várias pesquisas relacionadas com o manejo alimentar no cultivo de peixes e no desenvolvimento de diretrizes gerais para preparação das Boas Práticas de Manejo.
“Nesse sentido, um dos objetivos principais deste Workshop Internacional é repassar os conhecimentos adquiridos pelo professor Boyd e seus colaboradores nacionais, como Embrapa, INPA, Unesp, USP/Esalq, etc. e internacionais sobre o desenvolvimento de BPMs para pesquisadores, extensionistas, estudantes, piscicultores e para todos aqueles envolvidos com a cadeia produtiva da aqüicultura praticada na região Amazônica”, enfatiza Queiroz. Ele destaca que esses conhecimentos podem ser formatados como um conjunto de BPMs para facilitar a sua apresentação e implementação pelos produtores locais.
BPMs já estão sendo adotadas
Segundo pesquisas já realizadas, os efluentes e outros tipos de descarga gerados pelos sistemas de produção aqüícola podem causar poluição nos corpos de água receptores. Queiroz diz que os problemas mais comuns são a eutrofização, fenômeno causado pelo excesso de nutrientes que leva à proliferação excessiva de algas, que ao entrarem em decomposição comprometem diretamente a qualidade da água; e o aumento da turbidez, devido ao acúmulo e à sedimentação de sólidos em suspensão. “A adoção das Boas Práticas melhora a qualidade da água e dos sedimentos do fundo, reduzindo dessa forma o potencial de poluição dos viveiros”, salienta o pesquisador.
Como boas práticas os produtores devem, na medida do possível, segundo ele, reutilizar a água dos viveiros de produção de modo a diminuir as drenagens. Além disso, os efluentes também podem passar através de uma bacia de sedimentação para remover as partículas mais grosseiras contidas nos sólidos em suspensão de forma a evitar o acúmulo desse material nos corpos de água adjacentes aos viveiros de produção. “A adoção das BPMs também se constituí em uma ação pró-ativa que demonstra que o produtor está agindo com responsabilidade ambiental. Pode ser considerada ainda como uma forma de atender as regulamentações ambientais e os padrões de certificação”, salienta Queiroz.
De acordo com vários especialistas e gerentes de alguns projetos localizados na região amazônica acredita-se que a adoção das BPMs poderá melhorar não só percepção do consumidor com relação ao aprimoramento do manejo sócio ambiental dos seus sistemas de produção, como também, poderá agregar valor aos peixes produzidos pelos diversos sistemas de produção localizados na região. “Com a presença praticamente certa de alguns líderes da cadeia produtiva da aqüicultura no Workshop, eles terão um papel fundamental para transferir essas informações para o setor privado”, reafirma Queiroz. Segundo ele, a disseminação da informação deverá aumentar em grande escala as perspectivas para o desenvolvimento de um conjunto de BPMs para adoção em escala internacional na bacia Amazônica.
O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente salienta que nos últimos anos vários esforços têm sido feitos pelos pesquisadores do PD/A CRSP em todo o mundo para otimizar o desempenho sócio ambiental da aqüicultura, “de forma que o Workshop será uma oportunidade única para os pesquisadores e produtores locais tomarem conhecimento dos últimos avanços nessa área”, diz ele. Além disso, como conseqüência desse Workshop, o interesse para elaborar um conjunto de BPMs para toda a região Amazônica será bem maior, sendo que os professores Claude Boyd e Chhorn Lim já sinalizaram que terão grande interesse em colaborar nesse sentido, assim como, a direção das instituições envolvidas na organização do evento.
Eliana Lima
Embrapa Meio Ambiente