Antonio Germano Gomes Pinto (*)
Durante séculos acreditávamos serem os oceanos as lixeira inesgotáveis e naturais do mundo, crença essa, até certo ponto, razoável, pois através das chuvas, os sais, nutrientes naturais do solo, os compostos de carbono e muitos outros resíduos vão se acumulando nos mares e oceanos, tornando suas águas cada vez mais saturada, mais salina.
Mas a realidade é bem outra, os mares e oceanos são tão ou mais vulneráveis à poluição que a crosta terrestre. Suas águas precisam de luz, transparência e de estar desintoxicadas para gerar a flora e a fauna marinha tão necessárias à vida na terra, nos mares e nos oceanos.
As águas, mesmo as salgadas, têm a capacidade de dissolver e incorporar em suas massa gases como oxigênio, o carbônico e outros. Essa capacidade aumenta com a pressão e as baixas temperaturas. Quanto maior for a pressão e menor a temperatura, maiores serão as concentrações daqueles gases.
Nas regiões profundas dos mares e oceanos, possivelmente devido a esses fenômenos, as quantidades de carbono “estocadas” chegaram a quantidades imensuráveis, a ponto de despertar o interesse das empresas petrolíferas na exploração destas “jazidas” de carbono. É interessante se notar o fato de que os depósitos, no caso do gás carbônico, não são mais deste gás, mas sim o metano cristalizado a que os especialistas deram um nome bastante sugestivo, os hidratos de carbono. O gelo que queima. Esta seria a primeira descrição da “combinação” cristalizada entre moléculas de metano e moléculas de água, encontrada em regiões profundas dos oceanos. Os hidratos de metano já são considerados, pelos cientistas, a principal fonte de energia para o século XXI. Entretanto, a exploração desta fonte de energia pode provocar o maior desastre ecológico de todos os tempos devido a liberação do gás metano pela rápida desidratação do mesmo. As chamadas regiões abissais oceânica detêm cinqüenta e cinco por cento de todo o carbono presente na crosta terrestre.
Daí vem-nos a idéia:
a) Se as regiões abissais oceânicas são os depósitos naturais do carbono, podemos aproveitar esses espaços gigantescos e ainda disponíveis para “aprisionarmos” o gás carbônico, o principal causador do efeito estufa, de forma indireta.
b) Usaremos, para esse fim, a energia solar, a fotossíntese e a água para cultivarmos gigantescas florestas, biomassa abundante que será enfardada em containeres de aço inoxidável, de concreto armado ou qualquer outro material resistente a corrosão e, com o auxilio de grandes embarcações, seriam transportados para aqueles locais e submersos por ação da gravidade. Os containeres ou invólucros da biomassa deverão possuir furos para entrada da água e equilíbrio das pressões internas e externas para prevenir possíveis esmagamentos dos containeres e facilitar a submersão dos mesmos.
c) A grande vantagem de se utilizar a biomassa para capturar o gás carbônico é o fato de que só será capturado o carbono, deixando-se livre o oxigênio. Cada átomo de carbono capturado, via biomassa, irá liberar dois átomos de oxigênio para atmosfera.
d) Serão, de certa forma, verdadeiros depósitos geológicos, tratam-se de fossas geológicas que se vierem a sofrer abalos sísmicos ou acomodação de camadas, iriam soterrar esses containeres, tornando-os ainda mais seguros com relação ao meio ambiente.
e) Em grandes profundidades abissais não há desenvolvimento de vida, capaz de gerar reações aeróbias ou anaeróbias, portando, não havendo degradação desta biomassa, não haverá geração de gases e a atmosfera estará livre da massa de gases que fatalmente seria gerado se aquela quantidade de biomassa continuasse sobre a superfície terrestre.
f) Se a cada “colheita” de biomassa se plantar outra, gradualmente, o gás carbônico irá sendo capturado e, indiretamente, depositado nestes depósitos geológicos sob a forma de carbono com uma conseqüente limpeza gradativa da atmosfera.
g) Se a captura direta do gás carbônico se torna inviável devido às suas condição de gás, capaz de ocupar grandes volumes, desenvolver grandes pressões, além de outros riscos óbvios que não enumeraremos, vamos aprisionar o carbono, “matéria prima” geradora do referido gás, cujo excesso na atmosfera se tornou “o inimigo implacável”, o principal gerador do Efeito Estufa.
h) A Mãe Natureza, via carbono, forneceu tanta riqueza ao homem durante o século passado, por que não devolver um pouco desta riqueza ao seu local de origem ao longo deste século? Só assim teremos as vidas, animal racional e irracional, salvas! Ou será que estaremos fadados à extinção por sermos irracionais?
* É bacharel e licenciado em Química, químico industrial, engenheiro químico, especialista em Recursos Naturais com ênfase em Geologia, especialista em Tecnologia e Gestão Ambiental, professor universitário e autor de duas patentes registradas no INPI e em grande número de países.
As fossas abissais oceânicas e o Efeito Estufa
junho 29, 2007
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