Uma criatura que vive na lagoa de Araruama, no Rio de Janeiro, é tão diferente de tudo o que a ciência já viu que levou mais de 25 anos até que alguém entendesse o que ela era.
Agora que já se entendeu, o Magnetoglobus multicellularis (literalmente, "bola magnética multicelular") já pode ser devidamente apresentado. Ele vem preencher um hiato evolutivo que sempre separou os seres procariontes (seres sem núcleo celular definido) dos eucariontes (que têm núcleo definido).
"Descrevemos o organismo como sendo uma bactéria multicelular", explica Henrique Lins de Barros, físico do CBPF - Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e co-autor do estudo descrevendo a criatura.
O artigo é capa da edição de junho da revista "International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology".
Para o pesquisador, está claro que o organismo estudado por eles não é uma colônia, forma pela qual as bactérias também podem se organizar. "Não é uma por uma série de motivos. Quando uma das células é retirada, por exemplo, o organismo morre. Existe troca de informações entre as células, elas não são independentes."
No flagra - "Em média, os organismos estudados pelo nosso grupo, todo brasileiro, têm 20 ou 40 células", explica o físico. Esses dois tamanhos --um exatamente o dobro do outro - intrigaram os cientistas. O mistério só foi elucidado quando o ciclo de reprodução dessa nova espécie passou a ser entendido.
"As células vão crescendo em volume ao mesmo tempo. Em um determinado momento elas sofrem uma divisão, dando origem a seres de 20 células", afirma o pesquisador. Os Magnetoglobus de 40 células haviam sido, digamos, apanhados em pleno ato reprodutivo.
Uma das hipóteses defendidas pelo grupo brasileiro, formado também por pesquisadores da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro e da USP - Universidade de São Paulo, é que o Magnetoglobus possa ser uma forma de vida intermediária entre as bactérias e os demais seres vivos.
"Até hoje existe um dogma de que não pode haver bactérias multicelulares. Talvez porque até hoje nunca havia sido observada uma delas", afirma Lins de Barros.
O organismo fluminense tem uma outra característica por enquanto inédita na natureza. Ele produz ao mesmo tempo dois tipos de cristal com ferro, a magnetita e a greigita. Apesar de esses processos de biomineralização serem bastante conhecidos, a produção de ambos os cristais por um único organismo ainda não fora descrita.
Essas estruturas ajudam o Magnetoglobus a responder, e de forma bastante rápida, a campos magnéticos. Segundo Lins de Barros, esse fenômeno é usado pelo organismo para se mexer mais rapidamente, em busca de alimento na areia.
"Como cada uma das células responde ao campo magnético de forma independente, mas de maneira que uma colabora com a outra, é mais uma prova de que essa bactéria multicelular tem uma unidade biológica". O físico fez um modelo matemático para reproduzir o deslocamento do organismo.
O material genético da megabactéria também afasta a hipótese de que se trata de uma colônia, diz o grupo: ele não é igual em cada célula, como seria o esperado.
O desafio agora é dominar o metabolismo dessa criatura para que ela possa ser cultivada em laboratório - algo que não se consegue fazer desde a descoberta do ser, em 1982. Isso é importante para que a descrição científica feita do organismo pelos brasileiros seja confirmada por outros grupos.
Por enquanto, o nome da bactéria leva em si um grau de incerteza: Candidatus Magnetoglobus multicellularis. (Eduardo Geraque/ Folha Online)
Agora que já se entendeu, o Magnetoglobus multicellularis (literalmente, "bola magnética multicelular") já pode ser devidamente apresentado. Ele vem preencher um hiato evolutivo que sempre separou os seres procariontes (seres sem núcleo celular definido) dos eucariontes (que têm núcleo definido).
"Descrevemos o organismo como sendo uma bactéria multicelular", explica Henrique Lins de Barros, físico do CBPF - Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e co-autor do estudo descrevendo a criatura.
O artigo é capa da edição de junho da revista "International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology".
Para o pesquisador, está claro que o organismo estudado por eles não é uma colônia, forma pela qual as bactérias também podem se organizar. "Não é uma por uma série de motivos. Quando uma das células é retirada, por exemplo, o organismo morre. Existe troca de informações entre as células, elas não são independentes."
No flagra - "Em média, os organismos estudados pelo nosso grupo, todo brasileiro, têm 20 ou 40 células", explica o físico. Esses dois tamanhos --um exatamente o dobro do outro - intrigaram os cientistas. O mistério só foi elucidado quando o ciclo de reprodução dessa nova espécie passou a ser entendido.
"As células vão crescendo em volume ao mesmo tempo. Em um determinado momento elas sofrem uma divisão, dando origem a seres de 20 células", afirma o pesquisador. Os Magnetoglobus de 40 células haviam sido, digamos, apanhados em pleno ato reprodutivo.
Uma das hipóteses defendidas pelo grupo brasileiro, formado também por pesquisadores da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro e da USP - Universidade de São Paulo, é que o Magnetoglobus possa ser uma forma de vida intermediária entre as bactérias e os demais seres vivos.
"Até hoje existe um dogma de que não pode haver bactérias multicelulares. Talvez porque até hoje nunca havia sido observada uma delas", afirma Lins de Barros.
O organismo fluminense tem uma outra característica por enquanto inédita na natureza. Ele produz ao mesmo tempo dois tipos de cristal com ferro, a magnetita e a greigita. Apesar de esses processos de biomineralização serem bastante conhecidos, a produção de ambos os cristais por um único organismo ainda não fora descrita.
Essas estruturas ajudam o Magnetoglobus a responder, e de forma bastante rápida, a campos magnéticos. Segundo Lins de Barros, esse fenômeno é usado pelo organismo para se mexer mais rapidamente, em busca de alimento na areia.
"Como cada uma das células responde ao campo magnético de forma independente, mas de maneira que uma colabora com a outra, é mais uma prova de que essa bactéria multicelular tem uma unidade biológica". O físico fez um modelo matemático para reproduzir o deslocamento do organismo.
O material genético da megabactéria também afasta a hipótese de que se trata de uma colônia, diz o grupo: ele não é igual em cada célula, como seria o esperado.
O desafio agora é dominar o metabolismo dessa criatura para que ela possa ser cultivada em laboratório - algo que não se consegue fazer desde a descoberta do ser, em 1982. Isso é importante para que a descrição científica feita do organismo pelos brasileiros seja confirmada por outros grupos.
Por enquanto, o nome da bactéria leva em si um grau de incerteza: Candidatus Magnetoglobus multicellularis. (Eduardo Geraque/ Folha Online)