Julien Bouissou – Le Monde
Correspondente
O aquecimento climático está acelerando o derretimento das geleiras do Himalaia. Quarenta e nove postos de observação do clima, espalhados pela cadeia montanhosa, registraram desde meados dos anos 1970 um aumento da temperatura média de 1,2 ºC, ou seja, o dobro do aumento que havia sido registrado anteriormente, ao longo de um período equivalente, nesta latitude.
As geleiras que encobrem o Himalaia, numa superfície de
Os cientistas encontraram evidências deste fenômeno utilizando fotografias feitas por satélites. Efetuadas pela organização indiana de pesquisa espacial, essas fotos mostram uma diminuição das geleiras numa proporção de 21% nas bacias de Chenab, de Parbati e de Baspa, ao norte do Himachal Pradesh. "As geleiras de menos de
O aquecimento das temperaturas não se limita apenas a provocar o derretimento das geleiras. Ele encurta os períodos durante os quais estas últimas se formam. "Por causa da ocorrência cada vez mais tardia do inverno, os flocos de neve não mais dispõem do tempo necessário para se transformarem em gelo", explica Syed Iqbal Hasnain, um especialista indiano em gelologia. "Além disso, durante as monções, as precipitações que nós registramos não são mais de neve, e sim de chuva, numa determinada altitude", prossegue.
"No decorrer de uma primeira etapa, o derretimento vai aumentar a vazão dos rios", explica Rajesh Kumar, do Instituto tecnológico Birla,
Uma vez que as geleiras tiverem derretido, o Ganges, o Brahmaputra e o Indus não serão mais alimentados. Ora, 80% dos recursos em água do Ganges, por exemplo, provêm do derretimento das geleiras. Num relatório que foi publicado em 6 de abril, o Grupo Internacional de Especialistas para o Estudo do Clima (Giec) emitiu a hipótese segundo a qual os rios indianos poderiam ficar cheios apenas durante uma determinada temporada do ano. Secos durante o inverno, eles seriam tomados pelas águas somente durante as monções, no verão.
A queda do nível das águas dos rios poderia ter conseqüências desastrosas para os habitantes das planícies do norte da Índia. A irrigação, a produção de energia hidrelétrica e os recursos de água potável seriam duramente atingidos. O WWF (sigla em inglês para Fundo Mundial para a Natureza) já está se preparando para uma tal eventualidade.
"Em breve, nós iremos experimentar programas em duas aldeias situadas à beira do Ganges, com o objetivo de ajudar os camponeses a adaptarem os seus métodos de cultura, em caso de enchente seguida por uma queda abrupta do nível da água do rio", explica Prakash Rao, um pesquisador encarregado do programa de luta contra o aquecimento climático. A queda de nível do rio Ganges poderia vitimar cerca de 40 milhões de pessoas que vivem nos seus arredores até Nova Déli, isso porque este rio sagrado alimenta a capital indiana através de canais.
Para substituir as geleiras naturais que se encontram em processo de desaparecimento, um engenheiro começou a construir geleiras artificiais nos planaltos os mais elevados do Ladakh, desviando as águas dos rios. A água desviada é armazenada em reservatórios construídos no flanco da montanha, a mais de
"Mas, será que o trabalho do homem pode mesmo substituir o da natureza?", se pergunta Syed Iqbal Hasnain, com certo ceticismo. "Se não houver uma redução sensível das emissões de gases geradores do efeito-estufa, nós estaremos caminhando de modo irresistível rumo à catástrofe", prossegue, "e vale acrescentar que o subcontinente indiano é diretamente responsável por esta situação, pois sabemos que as geleiras do Himalaia são particularmente sensíveis aos gases geradores do efeito-estufa emitidos na região".
Em 16 de maio, vários ministros do governo indiano se reuniram para elaborar uma estratégia de luta contra o aquecimento climático. "Aquela foi mais uma reunião, não mais, já que não houve decisão alguma e que nós seguimos sem nenhuma medida no curto ou médio prazo", conclui, com amargura, Syed Iqbal Hasnain.
Os três grandes rios indianos
O Ganges: com
O Brahmaputra: com
O Indus: com extensão de
Tradução: Jean-Yves de Neufville