O oceano Austral absorve cada vez menos o CO2 atmosférico

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Com isso, mais de 8 milhões de toneladas de gases de efeito-estufa se acumularam anualmente na atmosfera entre 1981 e 2004, em vez de serem dissolvidas

Stéphane Foucart – Le Monde

Esta questão já se transformou numa das principais dúvidas dos climatólogos. De que maneira o aquecimento vai interferir na capacidade da biosfera e dos oceanos de absorverem o dióxido de carbono (CO2) atmosférico? Em artigo publicado nesta sexta-feira, 18 de maio, na revista "Science", uma equipe internacional de pesquisadores apresenta elementos de resposta bastante preocupantes a esta pergunta.

Segundo os dados experimentais que foram publicados por esta equipe - os quais são os primeiros desse tipo a serem apurados -, o oceano Austral (que cerca o continente antártico), conhecido por ser a principal "esponja para emanações de gás carbônico" do planeta, sofreu uma redução drástica da sua capacidade de absorção ao longo dos últimos trinta anos.

Em vez de aumentar nas mesmas proporções que a concentração atmosférica em CO2 - tal como era esperado -, a sua capacidade de absorver o principal responsável do efeito-estufa permaneceu estagnada. Assim, entre 1981 e 2004, mais de 8 milhões de toneladas de carbono foram se acumulando anualmente na atmosfera, em vez de serem dissolvidas, e acabaram sendo armazenadas de maneira duradoura nesta região oceânica.

Atualmente, cerca da metade das emissões humanas são absorvidas pelos oceanos e a biosfera. "E o oceano Austral representa por si só cerca de 15% de todos os poços de carbono naturais existentes no planeta", explica Corinne Le Quere, pesquisadora francesa do Instituto Max Planck de bioquímica e geoquímica, professora na Universidade de Anglia do Leste e a principal autora do estudo.

Para efeito de comparação, vale notar que o oceano Austral absorve anualmente o equivalente à metade das emissões de CO2 da União Européia.

Regime dos ventos modificado

As causas desta saturação em CO2 devem ser procuradas não só na acumulação de gases de efeito-estufa na atmosfera, como também na rarefação do ozônio estratosférico. De fato, estes dois fenômenos, que são conseqüências das atividades humanas, vêm modificando o regime dos ventos que predominava até então sobre o oceano Austral: nesta região, os ventos passaram a assoprar com maior violência e a misturar de modo mais eficaz as águas de superfície com as águas profundas. Ora, estas últimas são mais densas e o CO2 nelas se dissolve com menos facilidade.

"É difícil prever qual será a evolução do poço de carbono que é constituído pelo oceano Austral, mas é muito provável que a sua eficácia não consiga se recuperar ao longo dos próximos 25 anos", diz Corinne Le Quéré.

Os pesquisadores estimam que os poços de carbono naturais tendem globalmente a se reduzir por efeito do aquecimento. Por isso, a tarefa de medir e prever a sua evolução tem uma importância decisiva. "A maneira como eles irão reagir ao aquecimento é tão importante para as previsões da evolução do clima até o final deste século quanto os diferentes cenários de desenvolvimento econômico da humanidade", precisa Michel Ramonet, um pesquisador do Laboratório das ciências do clima e do meio-ambiente, co-autor desses estudos.

"O outro principal poço oceânico de carbono é o Atlântico Norte", acrescenta Michel Ramonet, "mas nós não dispomos de dados suficientes para determinar qual será a sua evolução".

Em outros lugares, no oceano Tropical, por exemplo, o aumento das temperaturas de superfície reduz a atividade do fito plâncton (algas microscópicas que povoam as camadas superficiais da água, até 80 m). Este último absorve, portanto, menos carbono atmosférico pelo processo de fotossíntese. Aqui, mais uma vez, este processo tende a reduzir a capacidade dos oceanos de absorver as emissões humanas de gases de efeito-estufa.
Tradução: Jean-Yves de Neufville

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