Malária ameaça etnias

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Quase todos os índios aldeados da região enfrentam epidemia da doença. Hepatite B também preocupa Ministério da Saúde

Ullisses Campbell

A Fundação Nacional da Saúde (Funasa) pediu ontem ao Ministério da Defesa que sejam abertas três pistas no Vale do Javari, no Amazonas, para facilitar o tratamento de comunidades indígenas que estão enfrentando epidemia de hepatite B e malária. A instituição, que é encarregada da saúde indígena, pediu ainda ao Ministério da Justiça que seis pistas clandestinas não sejam implodidas porque são utilizadas por aviões alugados pelo governo para levar médicos às aldeias mais distantes.

O último boletim epidemiológico divulgado pela Funasa revela que dos 3.704 índios aldeados no Vale do Javari, 2.666 têm malária. “É quase a totalidade”, frisa Josenir Nascimento, presidente em exercício da Funasa. Outros 2,3 mil fizeram exames para hepatite B e os resultados apontaram que 7,8% têm a doença. A Organização Mundial de Saúde (OMS) sugere que a taxa nunca ultrapasse 2%. “Nós pegamos o bonde andando, mas queremos resolver o problema”, ressaltou Nascimento.

A etnia do Vale do Javari que mais sofre com hepatite B é a dos culimas, com 11,1% dos índios infectados. O diretor do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, Wanderley Guenka, diz que entre a população não-índia que mora no Vale do Javari a taxa de hepatite B é bem mais alta (13%). “Temos quase certeza de que os índios estão sendo contaminados pelos não-índios que vivem nas proximidades”, sustenta. Ele disse ainda que a Funasa está preocupada com a situação dos índios isolados, que podem estar desenvolvendo a doença.

Barco hospitalar

Segundo Josenir Nascimento, a nova administração encontrou o órgão tão sucateado que será impossível dar continuidade aos trabalhos sem a ajuda das Forças Armadas. Ontem, Nascimento protocolou um ofício no Ministério da Defesa pedindo aviões e helicópteros para auxiliar no tratamento de seis comunidades indígenas. “Sem parceria, não poderá ser feita muita coisa”, disse.

A Funasa também pediu emprestado do Exército um barco hospitalar com capacidade de realizar até pequenas cirurgias. Segundo Josenir Nascimento, o órgão precisa também de apoio logístico, pessoal, infra-estrutura e barracas de lona para abrigar os agentes de saúde. “Muitos agentes da Funasa vão para as comunidades indígenas e voltam doentes porque as acomodações são péssimas”, conta o presidente em exercício.

Na semana passada, a Funasa descobriu que a falta de assistência está levando os índios brasileiros a procurar atendimento médico no Peru. Pelas contas do órgão, cerca de 700 índios do Vale do Javari atravessaram a fronteira em busca de cura para a malária. Desde 3 de dezembro, nove indígenas morreram com a doença, sendo cinco crianças.

No ano passado, 39 índios morreram com malária, tuberculose, meningite e hepatites tipo B e D.

De acordo com o coordenador do Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja), Clóvis Marubo, os índios estão recorrendo às autoridades estrangeiras para pedir assistência por causa da precariedade da saúde na região. “Aqui os índios vivem no esquecimento”, denunciou Marubo.

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