Campos: são mais de 5 mil vítimas da chuva Cidade é a sexta do estado a ter decretado situação de emergência. Em Rio Bonito, cinco casas desabaram

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Pâmela Oliveira

CAMPOS - A Defesa Civil Estadual decretou ontem situação de emergência em Campos, no Norte Fluminense, por causa da cheia do Rio Ururaí. Pelo menos cinco mil pessoas estão desabrigadas e desalojadas no município. Em Rio Bonito, na Baixada Litorânea, que também está em emergência desde quarta-feira, cinco casas foram parcialmente destruídas na manhã de ontem por desmoronamentos. Cerca de 1,3 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas, que causaram a morte de duas pessoas na cidade.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, choveu 526,5 mm em novembro em Campos, quando o esperado era 153 mm. O volume de chuvas foi o maior em 40 anos. Além de Rio Bonito e Campos, outros quatro municípios estão em emergência: Carapebus, Barra do Piraí, Paracambi e Silva Jardim.

O resgate das vítimas em Campos no fim de semana foi comandado pelo secretário estadual de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Côrtes. Ele chegou à cidade sábado com o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Pedro Machado. Dois helicópteros da Polícia Civil, inclusive o blindado ‘Caveirão do Ar’, foram usados nos resgates.

SITUAÇÃO DESOLADORA

“O que estamos vendo é desolador. Famílias perderam suas casas e o que construíram ao longo de suas vidas”, disse Côrtes. Ele contou que resgatou de helicóptero uma família de 11 pessoas, em Lagoa de Cima. “O pai, de 72 anos, operou o coração há duas semanas e não queria sair alegando que já tinha perdido tudo e não queria viver”, contou. Foi Côrtes quem decretou emergência em Campos, porque o prefeito Alexandre Mocaiber (PSB) não havia decretado.

Mocaiber não foi encontrado sábado para reunião com o secretário para discutir ações de resgate das vítimas. “O estado decretou emergência porque a medida facilita o socorro às vítimas”, explicou o comandante dos bombeiros.

As localidades de Ururaí, Brilhante, Imbé, Batatal, Aleluia e Lagoa de Cima foram as mais afetadas. O volume de chuvas ontem foi de 61,6 mm, o equivalente a 10 dias. O Rio Ururaí transbordou. Famílias foram vistas sobre os telhados das casas. Caminhões do Exércitro também foram usados nos resgates.

As vítimas foram alojadas em seis escolas. O Ciep João Borges Barreto, no bairro Brilhante, onde estão 260 famílias, porém, corria risco de também ser inundado. O prédio estava cercado pela água ontem. O acesso à escola só era feito por caminhões ou barcos. A Defesa Civil procurava outro local para abrigar as famílias, que poderiam ser transferidas para o galpão de uma empresa açucareira.

DEPOIMENTO: ‘NÃO DORMI VENDO A ÁGUA ENTRAR’

“A água estava subindo há muito tempo. No sábado chegou ao meu quintal. Me preocupei, mas achei que não iria chegar na casa. No entanto, hoje (ontem) ela invadiu tudo. Fiquei com água na cintura, só consegui salvar fogão, geladeira, estante e algumas roupas. É muito ruim perder tudo. Não dormi a noite toda vendo a água entrando em minha casa. Tentei tirar com um balde mas não consegui”.

Cremilda Cassiano, 60 anos

BR-101 é interditada a água e a fogo

Revoltados com os estragos provocados pelas chuvas que castigam Campos há três semanas e as dificuldades até para conseguir água potável, moradores, em protesto, interditaram a BR-101, que corta o município, por volta das 22h, incendiando pneus na rodovia.

Bombeiros foram acionados para debelar as chamas e agentes da Polícia Rodoviária Federal tentavam desbloquear a rodovia até o fim da noite. Durante o dia, a BR-101 chegou a ser interditada duas vezes por causa da ameaça das águas do Rio Ururaí à ponte no Km 75.

O maior problema para a distribuição de água potável, segundo autoridades, é a dificuldade de acesso aos locais alagados e às escolas onde estão as vítimas. A distribuição estava sendo feita ontem por helicópteros. Outra preocupação em Campos é com a possibilidade de doenças. “Ninguém foi vacinado até agora, porque as vacinas não chegam”, disse uma funcionária da Secretaria Municipal de Saúde, que atendia os alojados no Ciep João Borges Barreto.

RIO BONITO PRECISA DE DINHEIRO E PROFISSIONAIS

Cerca de duas mil casas estão ameaçadas de desabamento em Rio Bonito. Como a previsão é de mais chuvas, a Defesa Civil está em alerta, porque a precipitação pluviométrica no município está acima da média. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em novembro choveu 386,8 mm, quando a média esperada era de 204,5 mm. O maior índice foi de quarta-feira (60,9 mm). Ontem choveu 24,5 mm. Os bairros mais atingidos são Boqueirão, Bosque Clube, Rio Vermelho e Marajó.

Os desabrigados estão alojados na Escola Municipal Professor Honesto Carvalho de Almeida, na Mangueirinha. As vítimas estão precisando de doações de roupas de cama, roupas para crianças, alimentos, leite em pó e colchões. O Diretório Central de Estudantes (DCE) da Faculdade Cândido Mendes doou meia tonelada de alimentos. A prefeitura disponibilizou a conta corrente 15602-7 do Banco do Brasil (agência 0627-0) para que as pessoas possam fazer doações.

A Defesa Civil do município está convocando voluntários, desde médicos e enfermeiros, a qualquer pessoa que queira ajudar. Os interessados devem procurar o órgão ou ligar para (xx21) 2734-0199.

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