Prevenção demorou a decolar

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Especialista critica atuação do governo no combate ao avanço da doença. Anvisa anuncia reforço em portos e aeroportos

Diego Moraes – Correio Braziliense

O governo demorou para reforçar as ações de vigilância contra a gripe A H1N1 com passageiros que vêm do Mercosul para o Brasil. A avaliação é de especialistas ouvidos pelo Correio. De sexta-feira para cá, foram confirmados 109 novos casos da doença no país. Somente no Distrito Federal, o número de infectados pelo vírus saltou de três para 13 desde a semana passada.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou ontem que vai intensificar a prevenção nas áreas de fronteira, portos e aeroportos brasileiros, especialmente com passageiros que desembarcam da Argentina e do Chile.

Pelas novas regras, os passageiros terão de preencher um formulário, chamado de Declaração de Saúde do Viajante (DSV). A ideia é ampliar o monitoramento dos passageiros que entram no país. O documento será obrigatório para a entrada no território brasileiro, no caso dos passageiros que vêm do Mercosul.

O formulário será entregue dentro do avião e deverá ser apresentado no desembarque. A Anvisa vai colocar ao todo 500 mil formulários nos locais com grande fluxo de passageiros. As empresas aéreas terão ainda que fornecer a lista de passageiros no desembarque. O governo também deve remanejar funcionários para reforçar o efetivo no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e em pontos de fronteira.

O infectologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) César Carranza avalia que o governo devia ter anunciado essa decisão antes, logo após a constatação do aumento de casos confirmados da doença nos países da América do Sul. “Esse cuidado deve ser tomado para ter maior controle da propagação da doença”, afirma.

O especialista disse que viajou para o Peru há duas semanas e preencheu formulários de controle no país para declarar se estava ou não com sintomas da doença. Mas, na volta ao Brasil, o procedimento não foi adotado. “Mais de 80% dos casos da gripe suína confirmados entre os brasileiros são de pessoas que vieram do exterior. Por isso, temos que buscar esse tipo de prevenção”, afirma.

O infectologista Artur Timerman atendeu ontem em seu consultório, em São Paulo, dois pacientes com sintomas da nova gripe. Eles retornaram da Argentina recentemente — um na sexta-feira e o outro no domingo. “Acho que as medidas anunciadas pelo governo hoje (ontem) poderiam ter vindo antes e são necessárias para conter o avanço da doença.”

O Ministério da Saúde informou que não havia nenhuma justificativa para reforçar a vigilância nas fronteiras do Mercosul antes. E que todas as medidas adotadas seguem critérios técnicos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o ministério, a medida anunciada ontem ocorreu devido ao aumento no número de casos, principalmente na Argentina e no Chile.

Na Argentina, sete pessoas já morreram por causa da gripe A. O número de casos confirmados passa de 1.100. No Chile, houve menos mortes — quatro. Mas o número de infectados supera a marca de 4 mil.

Desde sexta-feira, o número de casos de gripe A H1N1 confirmados no país aumentou de 131 para 240, segundo o Ministério da Saúde. No Distrito Federal, as confirmações saltaram de três na semana passada para 13, conforme o boletim divulgado ontem pela Secretaria de Saúde. O órgão informou que boa parte dos infectados esteve na Argentina no último feriado, o que explicaria o aumento repentino.

O infectologista David Uip afirma que a chegada do inverno também é um fator que contribui para a propagação do novo vírus — assim como acontece com a gripe comum. “O aumento era esperado.

Com o inverno, as pessoas ficam mais aglomeradas e a imunidade diminui, o que é favorável ao vírus.

Também acredito que as viagens no último feriado possam ser um dos motivos para o aumento no número de casos”, afirma Uip. Ele avalia que as medidas do governo em relação aos passageiros do Mercosul são uma maneira eficaz de manter a doença sob controle. “Até porque não adianta restringir viagens”, avalia.

A preocupação dos especialistas é quanto à propagação. Embora o H1N1 tenha demonstrado baixo grau de letalidade, eles afirmam que a proliferação ajuda a fortalecer o vírus. “Parece ser um de rápida mutação, que vem da mesma linha do que causou a gripe espanhola”, avalia o infectologista Cesar Carranza.

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