Governo subestima propagação da doença

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Para estudiosos, foi precipitado restringir exames a casos graves

Diego Moraes – Correio Braziliense

A morte de uma menina de 11 anos em Osasco (SP) que contraiu influenza A, conhecida como gripe suína, levantou dúvidas sobre a circulação do vírus H1N1 no país. O governo nega que haja transmissão sustentada em território brasileiro, quando a doença é contraída no país. Mas especialistas ouvidos pelo Correio avaliam que não é possível assegurar isso com tanta certeza. E dizem que o Ministério da Saúde se precipitou ao determinar que os exames em laboratório para confirmar a infecção sejam feitos apenas em pacientes com sintomas graves ou por amostragem.

A garota, que morreu em 30 de junho por complicações da nova gripe, não viajou para o exterior.

A família diz que ela não conhecia ninguém que havia contraído a doença. Os pais e um irmão da garota também foram infectados pelo novo vírus.

A infectologista e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Nancy Bellei afirma que a situação precisa ser vista com cautela. “Concordo que não é o suficiente para dizer que temos transmissão sustentada. Mas não concordo que é possível garantir que não temos. Para assegurar isso, teríamos que ter dados laboratoriais mais consistentes. Precisaríamos estar coletando muito mais amostras, o que não estamos fazendo neste momento. Esse episódio pode sim ser a ponta de um iceberg”, avalia.

Integrante do comitê de acompanhamento da Influenza A da Sociedade Brasileira de Infectologia, Nancy diz que o Ministério da Saúde adotou cedo demais a estratégia de restringir os exames laboratoriais para confirmar a doença. No início do alerta para a epidemia, o teste era feito em todos os casos suspeitos. “É uma medida que iria acontecer num dado momento. Mas deveria ter passado por uma etapa intermediária: fazer em alguns casos leves para ter um quadro epidemiológico mais detalhado.”

O infectologista Stefan Cunha Ujvari vai além e afirma que o procedimento do ministério pode comprometer a constatação sobre a circulação sustentada do vírus ou não. “É preciso primeiro ter essa certeza para, aí sim, não fazer mais exames. Tudo leva a crer que o vírus começou a circular, como ocorre com qualquer outro vírus”, afirma.

O secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Gerson Penna, rebate as afirmações. Doutor em medicina tropical, ele diz que o órgão levou em conta critérios técnicos e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). “O mais importante é fazer os exames nos casos graves, em que pode haver mutação do vírus”, argumenta.

Em risco

Médicos afirmam que pessoas com obesidade mórbida podem ter complicações caso sejam contaminadas pelo vírus. De acordo com o infectologista Artur Timerman, o tratamento desses pacientes exige cuidados redobrados.

“Eles têm maior dificuldade do movimento respiratório. Qualquer processo que impeça o fluxo natural de ar e a eliminação de secreções certamente causa uma complicação maior”, afirma. A OMS está atenta a isso e analisando dados estatísticos na América do Norte e na Europa para avaliar se a obesidade pode ser um fator de risco para a gripe A.

Quem deve ficar atento

Pessoas com obesidade mórbida costumam ter menor capacidade de expansão pulmonar e podem ficar com a respiração ainda mais comprometida em caso de infecção pelo vírus A H1N1. O mesmo pode ocorrer com quem tem doenças respiratórias como asma, bronquite e enfisema pulmonar.

Quem está acima do peso e sofre de diabetes também deve estar no chamado grupo de risco para influenza, segundo os especialistas. A doença compromete o funcionamento do sistema imunológico — o que pode ser um complicador para infectados pela gripe A.

Doenças renais, distúrbios na tireoide, e tratamentos para o combate ao câncer comprometem as defesas do corpo e podem ser um fator de risco. O mesmo ocorre com portadores do vírus HIV, de problemas cardíacos ou de doenças hematológicas, como anemia crônica.

Idosos, gestantes e crianças menores de dois anos também estão mais suscetíveis à gripe, devido à condição de fragilidade no sistema imunológico.

Piora estado de saúde de paciente

O pai da menina de 11 anos que morreu em junho vítima da gripe suína está internado no Instituto de Infectologia Emílio Ribas para tratamento da doença. O quadro do paciente, que é hipertenso, evoluiu da gripe provocada pelo vírus para pneumonia. Também deram positivo para o influenza H1N1 os testes laboratoriais feitos na mãe e no irmão da menina. O garoto já está curado da gripe e a mãe faz tratamento em casa.

A menina morreu depois de apresentar sintomas como febre, vômito e dor abdominal. No entanto, o diagnóstico só foi confirmado depois da morte, quando pessoas da família começaram a apresentar os sintomas da gripe suína.

Em Belo Horizonte, os dois pacientes internados no Hospital das Clínicas (HC), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), continuam em estado grave. Eles não tiveram nenhuma melhora em seu quadro de saúde. Com o resultado positivo para a influenza A, o jovem de 27 anos, monitorado há 15 dias, respira com a ajuda de aparelhos, uma vez que seu quadro respiratório é considerado gravíssimo. Também respira com a ajuda de aparelhos, por causa de uma insuficiência respiratória, uma menina de seis meses.

Ontem, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, afirmou que não vai suspender as aulas das escolas municipais, mesmo diante do registro do primeiro caso de influenza A (H1N1) entre alunos da rede. “As autoridades de saúde, por enquanto, nos determinam e aconselham a seguir a vida normal”, disse Paes.

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