Caio de Menezes e Fernanda Prates - Jornal do Brasil
Com 557 mortes confirmadas oficialmente ontem pelo Ministério da Saúde, o Brasil agora é o líder mundial em mortes por gripe suína. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com 522 óbitos, e a Argentina vem em terceiro lugar, com 439.
O vizinho sul-americano também possui a maior taxa de mortalidade por 100 mil/hab (1,08), contra 0,29 do Brasil, que está em sétimo lugar.
Mesmo assim, o governo enviou ao Congresso medida provisória que libera R$ 2,1 bilhões para compra de 73 milhões de doses da vacina e de 11,2 milhões em medicamentos.
De acordo com o relatório do Ministério da Saúde, os países com as maiores taxas de mortalidade estão no Hemisfério Sul – com exceção da Costa Rica – pois o inverno provoca maior impacto da doença. Nos países do Hemisfério Norte, é verão.
Segundo o ministério, foram notificados, no período entre 25 de abril e 22 de agosto, 30.854 casos graves no Brasil. Do total, 5.206 tiveram confirmação laboratorial para o vírus da gripe suína.
O relatório também apontou que 480 gestantes foram infectadas pelo vírus H1N1 e, dessas, 58 morreram.
A nota também apontou uma tendência de diminuição dos casos no Brasil.
O professor de doenças infectocontagiosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimílson Migowski, avaliou o acompanhamento do crescimento de casos da chamada gripe A feito pelo governo federal: – O Ministério da Saúde começou muito bem. Inicialmente, o (medicamento) Tamiflu era distribuído para todos. Mas, depois, só os casos mais graves passaram a ser tratados com o remédio, que no Rio de Janeiro era distribuído em apenas dois pontos. Essa medida não foi adequada, pois atrapalhou o tratamento e ajudou a propagar a doença, já que aumentou a circulação de contaminados pela cidade.
Segundo Migowski, esses erros de logística são responsáveis por "50% dos óbitos serem de pessoas de fora do grupo de risco".
Migowski disse ainda que o país não estava preparado para a epidemia mundial.
– Não houve velocidade de ação. O Ministério não acreditou no tamanho do problema, e ele não foi controlado, daí as mortes.
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Juvêncio Furtado, tem visão semelhante: – O único fator que pode ser considerado é o de termos concentrado o tratamento somente aos casos graves. Penso que esse foi o único momento em que houve indefinição do Ministério da Saúde quanto ao combate ao vírus.
O defensor público federal, titular do ofício de direitos humanos e tutela coletiva, André Ordacgy, culpou o Ministério pelo número de mortes.
– Encaro como principal responsável pelo número de mortes o Ministério da Saúde, que pecou no atendimento aos infectados e na distribuição dos medicamentos.
Todos os países disponibilizaram o Tamiflu para uso público. Aqui, o laboratório que produz o remédio foi orientado a não vender o medicamento em farmácias. Em outubro, impetraremos ação responsabilizando a União, o estado o município do Rio pelas mortes.