Desmatamento cai, mas 'puxadinho' preocupa

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Governo adverte que redução de 49% no desmate em11 meses não inclui abate em áreas pequenas, que não é detectado por satélite e vem crescendo


Marta Salomon/BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Com um novo padrão de desmatamento, concentrado em áreas menores e batizado de "puxadinho", o abate de árvores na floresta amazônica deverá somar este ano cerca de 5 mil km², segundo estimativa do governo. A área, superior a três vezes o tamanho da cidade de São Paulo, representará o menor desmatamento em 23 anos, desde que o corte de árvores passou a ser monitorado pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Faltando apenas um mês do período de apuração da taxa anual de desmatamento da Amazônia, dados do sistema Deter mostram uma queda de 49% no ritmo das motosserras entre agosto de 2009 e junho de 2010, comparado ao mesmo período do ano anterior. Esse sistema é mais rápido e menos preciso que o Prodes, responsável pela taxa oficial de desmatamento, divulgada ao final de cada ano.

"O desmatamento "puxadinho" tem crescido", observou ontem a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente), sobre o corte da vegetação em área inferior a 25 hectares, o equivalente a 25 campos de futebol. É uma área pequena demais para os satélites do Deter enxergarem, diferentemente das grandes frentes de corte. No ano passado, o desmatamento "puxadinho" representou 60% do total. O porcentual triplicou em sete anos.

Meta. "O desmatamento do ano deverá ficar em torno dos 5 mil km²", calculou o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia). O número é menor que os 7.464 km² registrados no ano anterior, cumprindo com folga a expectativa para 2010, destacou o presidente do Inpe, Gilberto Câmara. A meta oficial é reduzir em 80% o desmatamento da floresta em relação ao previsto para 2020.

O sistema de detecção do desmatamento em tempo real, criado para orientar a ação dos fiscais, captou o corte de 1.808 km² de floresta em 11 meses, contra 3.537 km² registrados entre agosto de 2008 e junho de 2009. Em junho, os satélites captaram o corte de 244 km², 58% a menos que o mesmo mês do ano passado. A redução é mais significativa porque não havia muitas nuvens para atrapalhar a visão dos satélites.

O Pará se mantém na liderança do desmatamento. "Não podemos afirmar se a causa é pecuária, abertura de estradas ou assentamentos. Temos de investigar", ponderou Izabella Teixeira. O governo analisa a hipótese de o desmatamento ser resultado de planos de manejo de floresta falsos no Estado.

O Estado do Amazonas foi o único que registrou aumento do desmatamento no período de 11 meses e também será objeto de análise mais aprofundada na divulgação da taxa oficial de 2010, no mês que vem.

A partir de 2012, o governo federal espera dispor de novos satélites, mais precisos, para monitorar o abate da floresta.

Destruição discreta

Desmate ocorre em área menor:

60% é quanto o "puxadinho" representou do total de desmatamento da floresta amazônica. Há sete anos, esse porcentual era de 20%.

1.808 km² de floresta foram derrubados entre agosto de 2009 e junho


Obra do PAC na Amazônia não consegue licença

Uma das mais polêmicas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Amazônia, o asfaltamento de 400 quilômetros da BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM), não deverá ter a licença ambiental concedida até o final do governo Lula. "Não é um licenciamento usual. Depende de informações complementares do Ministério dos Transportes que ainda não foram encaminhadas", relatou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

O licenciamento da pavimentação da rodovia foi objeto de disputa entre os ex-ministros Carlos Minc (Meio Ambiente) e Alfredo Nascimento (Transportes) desde 2008. Há pouco mais de um ano, a licença prévia foi negada por parecer do Ibama. O documento considerou o empreendimento "inviável ambientalmente", além de apontar falhas graves e cobrar medidas extras de proteção da floresta.

A obra do PAC, criticada por ambientalistas, atingirá uma área bastante preservada da floresta e poderá representar uma nova frente de desmatamento na região. Tradicionalmente, as estradas atraem a ocupação irregular e aceleram o desmatamento.

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