P-33 teve 9 acidentes de trabalho este ano. Petrobras vai parar operações. Na P-35, início de incêndio
Cássia Almeida e Ramona Ordoñez - O Globo
Diante das denúncias publicadas no GLOBO da falta de condições de segurança na plataforma P-33, na Bacia de Campos, a Petrobras informou ontem que vai parar a plataforma, para reparos, em outubro. Essa parada já estava prometida para julho, mas não foi realizada segundo o auditor fiscal do trabalho José Roberto Aragão. Ontem, um princípio de incêndio ocorreu em uma das válvulas de vapor da plataforma P-35, uma das citadas pelo Sindicato do Petroleiros do Norte Fluminense como estando em pior estado de conservação, juntamente com a P-33 e a P-31, esta última apelidada pelos trabalhadores de sucatão.
Há um clima de medo entre os trabalhadores da P-33. Eles temem que acidentes graves ocorram provocados pelos vazamentos nas tubulações de óleo, gás e água:
- Há muitas tubulações com vazamentos. Grades de proteção mal conservadas, deterioradas. Sem grade de proteção e sem bote de resgate, se alguém cair no mar, só há o barco de apoio, a uma milha de distância para socorrer o operador - conta um petroleiro ao desembarcar da P-33.
Outro afirma que as tubulações estão cheias de reparos provisórios feitos com epox.
- As linhas estão há muito tempo sem manutenção.
Na Bacia de Campos, 539 acidentes
Desde o início do ano, já foram notificados 539 acidentes de trabalho nas 45 plataformas da Petrobras na Bacia de Campos, envolvendo funcionários próprios e terceirizados. Nove desses acidentes foram na P-33. Em todo 2009, foram registrados oficialmente 771 acidentes.
- Esse número deve ser três vezes maior. Há muita subnotificação - afirmou o coordenador do sindicato, José Maria Rangel.
Desde março, o sindicato vem denunciando a Petrobras ao Ministério Público do Trabalho (MPT), por descumprimento do termo de ajuste de conduta que a companhia assinou em 2006, comprometendo-se a registrar os acidentes e informá-los ao Sindicato.
Na P-33 - que teve três filtros de óleo lubrificante interditados por fiscais do trabalho e depois liberados por liminar da Justiça de Macaé - trabalhadores temem até caminhar pelos pisos da plataforma:
- Só andando pode acontecer um acidente naquela plataforma, os guarda-corpos estão apodrecendo. E se cair no mar, não tem bote para resgatar.
A companhia explicou que as fotos publicadas na edição de ontem do GLOBO de equipamentos deteriorados na plataforma se referem "a instalações que estão temporariamente desativadas, ou que não apresentam nenhum risco para as operações, e estão com os reparos devidamente programados".
Fiscais da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da Marinha estiveram ontem na P-33. Segundo a agência, os fiscais recolheram informações e avaliaram os equipamentos da plataforma. A ANP afirma que divulgará a avaliação dos fiscais assim que os estudos sejam concluídos.
Para justificar a corrosão em alguns equipamentos mostrados pelas fotos publicadas com exclusividade pelo GLOBO, a Petrobras disse que as plataformas em alto-mar são submetidas a uma atmosfera muito corrosiva.
A Petrobras explicou ainda que, caso se verifique uma corrosão prematura, uma inspeção verifica a urgência para a realização dos reparos. A companhia esclareceu que costuma realizar paradas programadas de plataformas a cada dois anos, e muitos reparos que não são urgentes ficam na lista para serem realizados nessas paralisações.
Para Petrobras, incêndio foi incidente
A companhia afirmou que um bote de resgate da P-33 que sofreu serviços de manutenção recente apresentou um defeito ao chegar a bordo. Para substituí-lo em caso de necessidade, a Petrobras solicitou autorização da marinha para manter nas proximidades dois rebocadores 24 horas por dia.
A empresa disse ainda lamentar "informações veiculadas sem qualquer embasamento técnico".
Inspetores da Marinha vão realizar uma perícia hoje na P-35, para preparar um laudo sobre o princípio de incêndio. A Petrobras afirmou que o foco de incêndio foi logo controlado e que foi considerado apenas um incidente.
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