Seca de rios amazônicos deixa 4 cidades isoladas e sob risco de desabastecimento; cerca de 70 comunidades rurais estão sem água potável. Em Mato Grosso, a 3ª maior baía do País em volume de água está com o nível mais baixo dos últimos 40 anos
Liège Albuquerque
CORRESPONDENTE / MANAUS,
Fátima Lessa
ESPECIAL PARA O ESTADO / CUIABÁ - O Estado de S.Paulo
Duas regiões que abrigam importantes biomas do País - a Floresta Amazônica e o Pantanal - sofrem com a estiagem. A seca do Rio Solimões e seus afluentes Purus e Juruá deixou quatro municípios do Amazonas isolados por via fluvial. Em Mato Grosso, a ação do homem aliada à seca prolongada afetam a Baía de Chacororé, a 130 km de Cuiabá.
No Amazonas, quatro municípios - Envira, Benjamim Constant, Itamarati e Canutama, na região oeste do Estado - têm estoque de alimentos, água e gasolina para só mais 15 dias. Mas pelo menos 70 comunidades rurais desses municípios se encontram sem água potável - e sem chuvas - desde o mês passado.
Esses municípios decretaram estado de emergência. A Defesa Civil estadual, contudo, emitiu um estado de alerta para a seca que atinge severamente, além desses 4, outros 25 municípios. O governo deve iniciar nesta semana o envio de alimentos e água para as cidades atingidas.
"Nós temos 36 comunidades rurais já completamente isoladas; a água e a comida estão sendo levadas pela prefeitura a pé, pela mata", explicou a coordenadora da Defesa Civil de Benjamim Constant (a 1.118 quilômetros de Manaus), Gleissimar Castelo Branco.
De acordo com o superintendente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Marco Oliveira, ainda é cedo para dizer se essa pode ser uma estiagem igual à de 2005. "A vazante dos rios é expressiva, mas ainda está a pelo menos 6 metros acima do mesmo nível atingido pelos rios no início de setembro daquele ano", disse.
O prefeito de Itamarati (a 987 quilômetros de Manaus), João Campelo, afirmou que as embarcações de baixo calado não estão parando no porto. "Também sofremos muito com as queimadas", completou.
Pantanal. Em Mato Grosso, além da seca, a ação do homem ameaça provocar um desastre ecológico na Baía de Chacororé. O volume de água nunca esteve tão baixo. A medição que vem sendo realizada desde 1969 mostra que na pior seca, registrada em novembro de 1973, o nível chegou a 1,33 metro na régua linimétrica. Desde agosto, o volume está em torno de 85 centímetros.
Para Rubem Mauro Palma de Moura, professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a situação estava prevista desde 1997, quando foi feita a primeira denúncia. "Naquela época, houve um aprofundamento do canal que liga Chacororé à Baia de Siá Mariana, provocando a seca", disse. Em 2000, foi construída uma barragem.
A Baia de Chacororé - a terceira em volume de água do País - espalha-se, na seca, por 11 mil hectares. Na cheia, junta-se à baía vizinha de Siá Mariana e atinge 45 mil hectares, superando em tamanho a Baía de Guanabara, no Rio.
A situação crítica sensibilizou a Promotoria de Justiça da Comarca de Santo Antonio do Leverger, que entrou com uma ação civil de responsabilidade por danos ambientais contra a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e a prefeitura de Barão do Melgaço, com pedido de liminar para que fossem adotadas medidas urgentes para evitar danos irreparáveis.
Segundo o professor Palma de Moura, os problemas se agravaram nos últimos anos, quando foram erguidas barreiras às margens do Rio Cuiabá. Além disso, houve o entupimento de cinco corixos - canais naturais que ligam o rio à baía.
O especialista afirma que os corixos têm importância fundamental na regulação dos períodos de cheia e de seca da planície pantaneira. "Impedir essa inundação natural é matar o Pantanal, pois todo o bioma pantaneiro é vinculado a esse ciclo."
Várias medidas equivocadas das autoridades ajudaram a complicar a situação. Uma delas foi a construção de uma estrada para conter a inundação. Em vez do uso de manilhas ou pontes, foi adotado o aterramento, que acabou por entupir os corixos.
Na ação proposta pelo Ministério Público Estadual, a promotora Julieta do Nascimento requer a desobstrução dos corixos tampados pela construção da estrada que liga Barão de Melgaço à comunidade de Estirão Comprido e Porto Brandão; reconstrução da barragem do Corixo do Mato e remoção do material usado como aterro na obstrução do Rio Chacororé e dois corixos.
Ela pleiteia ainda a realização de limpeza dentro das baías e elaboração de estudo técnico para subsidiar a abertura das bocas dos corixos da Uva e Caiçara, no Rio Cuiabá.
Na quarta-feira, num acordo entre a promotoria e o governo do Estado, ficou decidido que a Secretaria do Meio Ambiente recuperaria a barragem e desentupiria os corixos.
Falta de chuva isola municípios na Floresta Amazônica e castiga Pantanal
setembro 06, 2010
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