Corrida para proteger pacientes não impediu caos em hospital após tornado nos EUA

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The New York Times
A.G. Sulzberger
Brian Stelter

Em Joplin, Missouri (EUA)

Quando o alerta –“Executar Condição Cinza!”– foi soado pelos corredores do St. John’s Regional Medical Center, enfermeiros começaram a empurrar os leitos dos pacientes para os corredores, como foram treinados a fazer repetidas vezes nesta região propensa a tornados.


Mas quando os funcionários estavam concluindo as medidas de precaução na noite de domingo, o prédio de nove andares foi atingido por um tornado. Cacos de vidro explodiram de todas as janelas, portas foram escancaradas e até mesmo as sondas foram arrancadas dos braços dos pacientes.


Assim que o tornado de 1,2 quilômetro de extensão – um dos mais mortíferos na história americana – passou, o hospital tinha se transformado em uma cena de caos. Quase todos os pacientes estavam respingados ou cobertos de sangue devido a tanto vidro, e pessoas que estavam no pronto-socorro no primeiro andar foram sugadas pelas janelas para o estacionamento. Até mesmo o gerador elétrico falhou, deixando ventiladores e outros equipamentos médicos sem força nas salas escuras.


Um enfermeiro em pânico, que estava na unidade de terapia intensiva, começou a implorar por ajuda quando as máquinas pararam de bombear ar para os pulmões de pacientes em estado crítico.


“Eu tenho pacientes morrendo aqui!” lembrou Robert Kuhn, um funcionário do hospital, sobre o enfermeiro gritando.


Os médicos o instruíram a voltar e bombear o ar manualmente.


“Você está por conta própria”, explicou Kuhn.


Pelo menos 116 pessoas morreram e centenas ficaram feridas, disseram autoridades municipais na segunda-feira, enquanto centenas de funcionários de emergência procuravam mais pessoas sob os escombros que cobrem esta cidade no sudoeste do Missouri. Os líderes disseram que esperam que o número de mortos continue subindo.


O tornado, que ocorreu por volta do horário do jantar, destruiu quase um terço da cidade. Ele arrasou quase 2 mil edificações, desativou o fornecimento de eletricidade e o serviço de telefonia móvel para muitos, e danificou as usinas de tratamento de água e esgoto. Os destroços de carros e caminhões estavam virados ou prensados contra prédios e árvores. Algumas quadras foram reduzidas a montes dentados de escombros, enquanto outras foram deixadas quase desertas: apenas fundações de casas e troncos de árvores – sem folhas, sem galhos, sem casca.


O tornado causou danos catastróficos a um Walmart, um colégio e um prédio de apartamentos de um asilo, e passou por lugares que existem para responder às emergências, como uma base do corpo de bombeiros, onde uma parede de tijolos ruiu sobre um caminhão, e o hospital, cuja placa foi avistada a quilômetros de Joplin.


Foi o tornado individual mais mortífero em mais de meio século e se soma a uma temporada particularmente mortal de tornados. As tempestades no Meio-Oeste e Sul mataram centenas de pessoas nos últimos dois meses e deixaram milhões de dólares em danos.


O mais recente tornado fazia parte de um sistema no qual uma frente fria se chocou com uma frente quente no meio do país, criando as condições que podem gerar tornados como o que ocorreu aqui.


Em viagem de Estado à Europa, o presidente Barack Obama expressou condolências, dizendo que as famílias de Joplin estavam em seus pensamentos e orações, e enviou autoridades de gestão de emergência ao Missouri.


Em Joplin, juntamente com centenas de funcionários estaduais e federais, pessoas comuns, exaustas e perturbadas devido aos seus próprios apuros durante a noite e armadas com ferramentas de suas próprias garagens, passaram grande parte da segunda-feira em busca de amigos, parentes e até mesmo estranhos. Aproximadamente 49 mil pessoas vivem aqui e poucas vidas não foram tocadas.


Cheyanna Padilla, 19 anos, disse que resistiu à tempestade agarrada a um mictório em uma loja do Walmart. Ela rezou, ela disse, enquanto o teto caía sobre ela, então escalou para fora, se perguntando quantas pessoas poderiam estar mortas sob ela.


A busca, que prosseguia na noite de segunda-feira, foi complicada pela chuva forte, tempestade e rajadas de ventos, juntamente com a preocupação constante de que outro tornado poderia varrer o que restou da comunidade.


O governador Jay Nixon disse que as equipes de resgate encontraram pelo menos cinco famílias ainda vivas sob os escombros.


Mas muitos tinham histórias mais terríveis. Mark Stepp, cuja casa foi destruída, passou o dia removendo escombros de outras. Sob uma, ele disse, ele encontrou o corpo de uma menina – uma descoberta que o fez vomitar no meio-fio da rua.


“Eu encontrei uma garotinha”, ele disse, andando de um lado para outro e fumando de modo frenético. “Eu estou transtornado.”


Dos 183 pacientes no St. John’s na noite de domingo, cinco morreram em consequência do tornado, disse um representante do hospital. Todos estavam em condições críticas antes da tempestade, ele disse.


O restante – alguns feridos pela tempestade, se somando aos problemas que os levaram ao hospital – foram enviados para outros hospitais em três Estados. Na confusão do dia, alguns parentes dos pacientes os procuraram de um hospital a outro, preocupados.


“Eles têm uma lista? Eles têm uma lista?” perguntou Kimberly Cain, quando ela e seu filho chegaram a um posto de comando de emergência.


Ela estava à procura de seu marido, que estava no quinto andar do St. John’s quando teve notícias dele pela última vez. Ela foi informada que não existiam listas, ou pelo menos nenhuma da qual tivessem conhecimento. Não houve tempo.


Um alerta de tornado foi emitido em Joplin, disseram as autoridades, relativamente longos 24 minutos antes dele atingir a cidade, apesar dos funcionários do St. John’s Regional Medical Center terem dito que o sistema de alerta do prédio ter dado bem menos tempo. Do momento em que o alarme foi dado, eles disseram que passaram a realizar os procedimentos para proteção dos pacientes e deles mesmos. Mas foram rapidamente sobrepujados pela força do tornado.


“Nós praticamos muito essas coisas, mas este nos atingiu tão duramente que a reação foi instintiva”, disse Gary Pulsipher, o presidente-executivo do hospital, que está no centro de traumatismos.


Enquanto enfermeiros e médicos finalizavam o deslocamento de móveis, o fechamento de persianas e a colocação dos pacientes nos corredores, o tornado chegou. Tracy Merrill, um funcionário do hospital, disse que mergulhou sobre uma paciente idosa com câncer para protegê-las dos cacos de vidro e das paredes que começaram a ceder.


Tim Randolph, 48 anos, estava no pronto-socorro para tratamento de uma costela fraturada quando o teto começou a balançar, as janelas quebraram e o tornado invadiu o prédio.


“Ele me deixou sem ar”, disse Randolph, que posteriormente ganhou duas costelas fraturadas adicionais.


“O prédio inteiro balançou”, disse Misty Hicks, uma enfermeira, que sentiu a pressão em seus ouvidos, o barulho do tornado e então viu um paciente que ficou preso contra a parede pelo leito. “Foi a coisa mais assustadora que já enfrentei.”


De repente, as luzes apagaram. Funcionários e pacientes estavam espalhados por todo andar, e sondas, medicamentos e cacos de vidro estavam por toda parte.


“Todo mundo estava ensanguentado”, disse Hicks, lembrando de ter passado por cada um dos pacientes com sua lanterna.


Celulares e telefones não funcionaram, assim como os rádios do hospital. Pessoas levavam os pacientes para fora; aqueles que podiam andar o fizeram, às vezes descalços sobre cacos de vidro. Uma pessoa com fratura na bacia cedeu sua cadeira de rodas para o transporte de pacientes mais doentes.


Durante a noite, os funcionários do hospital empregaram todos os métodos que podiam para cuidar dos pacientes. Alguns trabalharam apesar de seus próprios cortes; outros se afastaram em choque. As traseiras de algumas picapes e um ônibus escolar foram usados para levar pacientes para outros hospitais até que ambulâncias pudessem chegar.


“Foi um caos em massa a remoção dos pacientes”, disse o sargento Rodney Rodebush, um soldado da Guarda Nacional que serviu no Iraque e no Afeganistão, que seu viu ajudando no St. John’s. Rodebush disse que removeu 25 pacientes. Ele também encontrou uma mulher morta, vestindo pijama, na entrada do hospital.


Na segunda-feira, tudo o que restava era um esqueleto de hospital, com seu helicóptero de emergência, sem as hélices, caído em meio a uma pilha de escombros e enrolado em uma cerca de arame com vários carros e uma árvore.


Enquanto um médico e um técnico permaneciam do lado de fora da entrada do pronto-socorro, ajudando a recuperar equipamento para um hospital improvisado em um prédio público próximo, um policial os alertou.


“Cuidado. O teto está prestes a ceder”, disse o policial.


Monica Davey, em Chicago, contribuiu com reportagem.

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