Desmate na Amazônia volta a crescer e governo cria "gabinete de crise"

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Mauro Zanatta - Valor | De Brasília

O desmatamento da Amazônia Legal voltou a crescer nos últimos nove meses encerrados em abril de 2011. Uma área do tamanho do município do Rio de Janeiro foi derrubada. Foram exatos 1.849 quilômetros quadrados de vegetação devastada entre agosto de 2010 e abril, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O resultado é 26% superior aos 1.454 km2 registrados no período anterior.


Depois de alguns meses longe do foco principal dos desmatamentos, Mato Grosso voltou a ser apontado como vilão. O Estado respondeu por 40% da devastação registrada pelo sistema de detecção do Inpe. 


As derrubadas no maior produtor de grãos e fibras do país cresceram 43% na comparação entre os períodos - de 505 km2 para 730 km. Os campeões da derrubada foram os municípios de Alto Boa Vista, Nova Ubiratã, Bom Jesus do Araguaia, Cláudia, Santa Carmem, Porto dos Gaúchos e Peixoto de Azevedo e Marcelândia. 

A corrida pelo aumento da produção de soja e milho, cujas altas cotações internacionais têm estimulado os produtores, e a expectativa de alterações nas regras do novo Código Florestal são parte da explicação. 

"A expectativa de impunidade e a demora na votação do Código Florestal foram ruins para nós", admite o secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Alexander Maia. Ele diz que alguns resolveram "botar abaixo" a floresta antes da aprovação de uma eventual lei de "desmatamento zero" no Congresso. "A gente tinha medo disso."

O secretário, um oficial da Polícia Militar que comandou a Casa Civil na gestão Blairo Maggi (PR), afirma que tem combatido a devastação com 275 homens há mais de 30 dias. "Quem fez isso está sendo sancionado. Tenho 16 pessoas identificadas, com licenciamentos suspensos e sem benefícios. Vão para o Ministério Público. Nós agimos para evitar um mal maior. Não queremos que a detecção se concretize em aumento real do desmatamento no fim do ano", disse. Alexander Maia deu como exemplo um produtor de Nova Ubiratã, cuja residência oficial é no Paraná: "Ele derrubou 1.500 hectares de uma vez. Fomos lá e paramos tudo."

O sistema do Inpe detectou uma forte aceleração do desmatamento entre março e abril. O total passou de 103,5 km2 em 2010 para 593 km2 em 2011.

Diante disso, o governo federal anunciou ontem a criação de um "gabinete de crise" para ampliar as operações de combate ao desmatamento na região. Os ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Aloízio Mercadante (Ciência e Tecnologia) anunciaram o reforço do monitoramento com três novos satélites até 2014. "Quem tiver apostando no desmatamento para abrir novos pastos, vai ter o boi apreendido e doado para o Programa Fome Zero", afirmou Izabella.

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) informou que o desmatamento na Amazônia Legal será "sufocado" com o embargo de todas as áreas desflorestadas. As áreas embargadas terão ampla divulgação, o que impedirá a comercialização de gado ou grãos ali produzidos. Os compradores desses produtos também serão responsabilizados por crime ambiental.

Principais interessados na conservação da floresta, os produtores rurais defendem medidas fortes do governo. "Se for desmatamento ilegal, tem que ir para cadeia", diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Glauber Silveira. "Precisamos de um Estado forte, de fiscalização e lei para obrigar a cumprir, punir e multar". 


Silveira afirma que a "sensação de impunidade" acaba por estimular o crime ambiental. "No campo e nas cidades", ressalva. A Aprosoja, segundo ele, tem trabalhado "intensamente" para levar a mensagem de preservação das florestas a todos os produtores do país. "O interesse de uma minoria que desmata não pode atrapalhar aqueles que querem fazer a coisa certa. Tem que aprovar o Código Florestal no Congresso e ninguém mais vai poder dizer que não sabia das regras."

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