Qualidade do ar na cidade de São Paulo é a pior dos últimos oito anos

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Larissa Leiros Baroni Do UOL Notícias
Em São Paulo

Mesmo com a implantação da inspeção veicular e chuvas mais constantes neste ano, a qualidade do ar na cidade de São Paulo é a pior nos sete primeiros meses do ano desde 2004. Especialistas ouvidos pelo UOL Notícias apontam o aumento da frota de carro da cidade e os frequentes congestionamentos, que obrigam os carros a trafegarem cada vez mais lentos, como os principais fatores desta piora.

O número de dias em que a qualidade do ar ficou imprópria na cidade de São Paulo aumentou 146% nos primeiros sete meses de 2011 na comparação com o mesmo período de 2008 - um ano antes da obrigatoriedade da inspeção veicular da região. Segundo os dados da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), 37 dias dos últimos sete meses atingiram níveis de poluição acima do padrão aceitável. Em contrapartida, em 2008, apenas 15 dias foram classificados como impróprios.

O nível médio de chuva em São Paulo, que ajuda a diminuir a poluição, cresceu de 103,08 milímetros, em 2008, para 129,1 milímetros, em 2011, conforme informou a CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências de São Paulo).


"Ainda que a umidade tenda a melhorar a qualidade do ar, o aumento no número de veículos minimiza esses efeitos", relata Maria Lúcia Pereira Antunes, professora do curso de Engenharia Ambiental da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), especialista em poluição atmosférica.

Enquanto em julho de 2008 a frota de São Paulo, de acordo com o Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), era composta por 6.228.382 veículos, em 2011, o número de carros na região pulou para 7.081.778, o que representa um aumento de aproximadamente 12%.


Ainda que a expansão seja inferior ao crescimento da poluição, Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), enfatiza a necessidade de incluir nesse levantamento a velocidade média dos meios de transporte.


"O crescimento da frota entope as ruas e as rodovias da cidade, diminui a velocidade média dos veículos e, consequentemente, aumenta a queima dos combustíveis e a emissão de gases poluentes", explica ele, que estima que a velocidade média dos automóveis na cidade seja de 10 a 12 km/hora.

Inspeção veicular


Como medida contra a piora na qualidade do ar, a Prefeitura de São Paulo adotou a inspeção veicular, obrigatória desde 2009. A iniciativa, que inclui 100% da frota registrada na cidade, exceto os veículos fabricados no ano em exercício, prevê os ajustes dos limites máximos de monóxido de carbono (CO) e de hidrocarbonetos (HC).

O motorista só pode fazer o licenciamento de seu automóvel uma vez que ele tenha sido aprovado na inspeção. "Atualmente, os principais responsáveis pela poluição do ar são os veículos - com importante repercussão na saúde pública e no aquecimento global. Não dava, portanto, para ficar de braços fechados", afirma Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho, secretário do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo.

Segundo ele, a inspeção veicular é uma recomendação antiga do governo federal. "Como o brasileiro - e o paulistano - não fazia a revisão recomendada, decidimos implantar aos poucos a obrigatoriedade", conta Sobrinho, que comemora os resultados do programa. "Pesquisas revelam que é como se tivéssemos reduzido virtualmente 25% da frota de veículos da cidade de São Paulo."


A partir da inspeção veicular na capital paulista, uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP apontou a redução de 5% dos poluentes emitidos pelo diesel.

"Na saúde, o ganho está na prevenção da morte precoce de 250 pessoas por ano", afirma Paulo Saldiva. Segundo ele, a poluição do ar provoca a morte de 12 a 14 paulistanos por dia. Com a inspeção, é possível reduzir aproximadamente uma morte por dia.

Os efeitos da inspeção na qualidade do ar, no entanto, são pequenos, segundo a professora Maria Lúcia Pereira Antunes.

"A medida é muito mais preventiva, além de servir como educativa, já que a partir da obrigatoriedade as pessoas passam a obter mais informações sobre suas responsabilidades no controle das emissões de gases poluentes", opina ela.

A inspeção veicular, segundo Saldiva, não deve ser encarada como a solução para a poluição de uma forma estrutural. Para ele, assim como para Maria Lúcia, a solução é criar meios de transportes públicos com baixa emissão de poluentes, de qualidade e em quantidade suficiente para atender a demanda. "Enquanto não houver como diminuir a dependência do transporte individual, os veículos devem emitir gases poluentes o menos possível."

A medida da Prefeitura de São Paulo, que também é realizada no Estado do Rio de Janeiro, poderá se tornar nacional. O Ministério do Meio Ambiente solicitou que os governos estaduais enviassem planos de ação para ampliar a inspeção veicular em seus respectivos Estados.

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