PF abre inquérito contra Chevron

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Delegado afirma que empresa mente e omite informações sobre vazamento de petróleo

Liana Melo e Ramona Ordoñez – O Globo 

Uma semana depois do início do vazamento de petróleo provocado pela gigante americana Chevron no litoral fluminense, a Polícia Federal anunciou ontem que vai instaurar um inquérito para apurar o acidente no campo de Frade, na Bacia de Campos. A decisão foi tomada pelo chefe da delegacia de Meio Ambiente da PF, Fábio Scliar, após vistoria feita por sua equipe, na última terça-feira, dia 15.

Scliar constatou, com base nos dados levantados pela delegacia, que a Chevron estaria "omitindo informações" e que "o acidente parece ser mais grave" do que vem sendo divulgado oficialmente pela empresa. Ontem, a Chevron informou que o volume vazado desde o início do acidente é de 400 a 650 barris. A estimativa da Agência Nacional de Petróleo (ANP) é bem maior: mil barris. A agência informou estar estudando as "medidas cabíveis" para o caso, mas não deu detalhes.

- Há muitas inconsistências e mentiras que vêm sendo ditas pela Chevron. O dano ambiental deste acidente é de proporções incalculáveis - denunciou Scliar, comentando que, durante a inspeção à plataforma, os funcionários da própria Chevron teriam informado não haver previsão para conter o vazamento. - A rachadura no solo de onde está vazando óleo, no fundo do mar, tem uma extensão de 280 metros a 300 metros.

Segundo informações do delegado, a Chevron, que opera o Campo de Frade em parceria com a Petrobras, teria perfurado o poço 500 metros além do que havia sido programado. 

Informações desencontradas 

É um acidente rodeado de informações desencontradas. A Chevron informou, no domingo, que o fechamento do poço começou naquele dia. Ontem, em nota oficial, nova informação da ANP: o fechamento do poço começou às 12h30m de ontem, e a cimentação deverá ser concluída num prazo de 20 horas. A incoerência de dados não para por aí:

- Nossa equipe viu só um barco dando apoio à operação e não uma frota de 17 navios, como anunciado pela Chevron - afirmou o delegado.

Oficialmente, a operação de contenção, segundo a Chevron, estaria sendo feita por 17 embarcações, "oito trabalhando na mancha, com seis embarcações trabalhando em duplas para conter e recuperar o óleo perto da cabeceira da mancha e dois barcos trabalhando na sua cauda para dispersão mecânica". E as "embarcações de apoio transportam equipamento de resposta a emergências, tais como barreiras de contenção e skimmers".

Se for comprovado crime ambiental, Scliar antecipou que os responsáveis podem cumprir pena de um ano a quatro anos de cadeia. Podem ser indiciados o chefe da perfuração do poço, os demais responsáveis da operação, assim com a própria empresa.

Ao ser questionada sobre o inquérito da PF, a Chevron, por email, respondeu que "respeita as leis dos países onde opera e está mantendo diálogo constante com as agências competentes do governo brasileiro".

O secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos Minc, vai sobrevoar a área afetada amanhã. O sobrevoo será feito a bordo de um helicóptero da Marinha, na companhia da presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos.

- Já temos a informação que, neste período do ano, a área atingida está na rota de migração de várias espécies, como as baleias jubarte, mink-anã e a baleia-de-brybe, além dos golfinhos-nariz-de garrafa e pintado-do-atlântico - disse Minc, acrescentando que há temor com um fenômeno natural conhecido como Rotor, que pode espalhar a mancha de óleo para a costa brasileira, nas praias de Rio das Ostras, Campos e Macaé. - Ainda não estamos correndo este risco, mas se os ventos mudarem...

O acidente da Chevron está, na avaliação de ambientalistas, rodeado de muitas perguntas sem respostas. Para a coordenadora da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Leandra Gonçalves, o acidente deveria estar servindo de alerta para o governo repensar as licitações para exploração de petróleo.

- O Campo de Frade é um dos maiores em produção de petróleo no Brasil desde 2009 e, se o vazamento se deu por uma falha geológica, essa falha deveria ter sido prevista no estudo de impacto ambiental. O governo está investindo muito dinheiro na exploração em alto-mar de petróleo com pouco ou quase nenhum plano de segurança. Essas operações são de altíssimo risco - denuncia.

A causa provável do acidente, segundo a Chevron, seria uma falha geológica localizada a cerca de 150 metros de um poço injetor que estava sendo perfurado. O Ibama ainda não confirmou ou rechaçou a versão apresentada pela empresa dos Estados Unidos. A empresa informou que a mancha segue em direção sudeste, afastando-se da costa.

Leandra chama atenção para o fato de que, apesar de a presidente Dilma Rousseff ter pedido, na última sexta-feira, "atenção redobrada e uma rigorosa investigação das causas do acidente". O Ibama informou que está acompanham o cumprimento do plano de emergência da petroleira e, na noite de ontem, divulgou um comunicado, assinado pelo presidente do órgão, Curt Trennepohl, em que esclarece que a "empresa será autuada assim que o vazamento for estancado, pois o valor da multa é proporcional ao dano ambiental causado".

- Nunca tivemos uma política ambiental transparente em nenhuma das esferas do governo, mas a situação piorou. Exploração de petróleo tem riscos sérios, e eles estão sendo tratados sem transparência - acrescentou o cientista político Sérgio Abranches, especialista na área ambiental.

A plataforma usada pela Chevron, a Sedco706, é da empresa Transocean, que esteve no centro do acidente da BP, no Golfo do México, em 2010.

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