Carnívoro anterior aos dinossauros é achado no Brasil

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Cientistas encontraram, no Rio Grande do Sul, o crânio do bicho, que recebeu o nome de "matador dos pampas"

Dinocefálio viveu há cerca de 260 milhões de anos; descoberta mostra que a presença do animal era global 


RICARDO BONALUME NETO - FOLHA DE SP
DE SÃO PAULO

Ele não era um leão, mas pesava mais do que um; não era um jacaré, mas tinha uma cabeça coberta por rugosidades parecidas; e não era um lobo, mas tinha grandes dentes caninos feitos para dilacerar suas presas.


Era um bicho estranho, primordial e original. E viveu no Brasil - felizmente, para os seres humanos, sem deixar descendentes.

Sua descoberta agora no Rio Grande do Sul está demonstrando que, há 260 milhões de anos, a Europa era bem mais perto do Brasil do que se imaginava.

Nem réptil nem mamífero, não se sabe se amamentava as crias ou se colocava ovos.

A certeza é que ele é uma uma das mais importantes descobertas paleontológicas dos últimos tempos no país. Seu nome científico é Pampaphoneus biccai - o "matador dos pampas" - e ele foi achado na fazenda de José Bicca, em São Gabriel (RS).

O estudo que descreve a nova espécie foi publicado ontem na versão on-line na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS) por uma equipe internacional coordenada pelo salvadorenho radicado no Brasil Juan Carlos Cisneros, da Universidade Federal do Piauí, e Cesar Schultz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O Pampaphoneus biccai é um terápsido, animal que antes se imaginava ser um "réptil mamaliforme". Hoje, ele é visto como um parente distante dos mamíferos atuais.

PELO GOOGLE

O fóssil foi achado graças à análise de imagens de satélite por meio do site Google Earth. Os pesquisadores procuraram regiões onde se encontrariam rochas do período Permiano (de 299 milhões a 260 milhões de anos atrás).

"Em 2008 e 2009, visitamos 50 locais durante três meses no Rio Grande do Sul", disse Cisneros à Folha. E deram sorte: em uma fazenda na formação do rio do Rasto, na bacia do Paraná, acharam um crânio em boas condições da nova espécie.

"A descoberta é importante por duas razões. Em primeiro lugar, é o primeiro achado de um carnívoro terrestre da Era Paleozoica na América do Sul", afirma Cisneros. Ele se soma a achados prévios de herbívoros do período Permiano na região, como os pareiassauros e o anomodonte Tiarajudens eccentricus, e contribui para um melhor conhecimento dos ecossistemas durante esse período geológico, diz o artigo na "PNAS".

O segundo motivo para destacar a pesquisa é que as características do animal sugerem que a nova espécie é parente dos dinocefálios carnívoros encontrados na Rússia e na África do Sul.

Isso prova que as faunas terrestres do supercontinente Pangeia tinham uma distribuição global já durante o Permiano Médio. Em geral, explicam os pesquisadores, é aceito que as faunas terrestres tinham uma distribuição cosmopolita no Triássico, período posterior ao Permiano em que surgem os primeiros dinossauros.

Mas a nova descoberta e os trabalhos anteriores com anfíbios primitivos mostram que essa distribuição cosmopolita era bem anterior. Os bichos antigos eram certamente peripatéticos.

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