Mudanças climáticas devem reduzir áreas de cultivo no Brasil

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Da Agência Fapesp

O aumento das temperaturas e as mudanças no regime de chuvas previstos para ocorrer nas várias regiões do Brasil em decorrência do aquecimento global poderão afetar bastante a agricultura do país. Culturas como feijão, soja, trigo e milho serão especialmente impactadas, apontam estudos da Rede Brasileira de Pesquisa e Mudanças Climáticas Globais, a Rede Clima.

A partir do cruzamento de modelos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) e de modelos regionais brasileiros, pesquisadores da Rede Clima analisam o impacto das mudanças climáticas sobre as áreas de cultivo nacionais.

Tomando como base os hectares cultivados em 2009 e, se mantidas as atuais condições de produção, as projeções para 2030 apontam grandes reduções de área, tanto nos prognósticos pessimistas como nos cenários mais otimistas.

Para o feijão, a queda vai de 54,5% a 69,7%. Para a soja, a redução é estimada de 15% a 28%; para o trigo, de 20% a 31,2%; para o milho, de 7% a 22%; para o arroz, de 9,1% a 9,9%; e para o algodão, de 4,6% a 4,9%.

As diferentes variedades do feijão necessitam de condições climáticas particulares. Com isso, o cultivo, feito em até quatro safras por ano, é mais suscetível às variações de temperatura e precipitação. Contornar tal redução dependerá, portanto, de modificações em termos de produção e do investimento em variedades capazes de se adaptar às novas condições de cada local.

"O café, por exemplo, precisa de 18 ºC a 22 ºC de média anual. Fora dessa janela, a cultura não se desenvolve. Passamos essas informações para o computador e simulamos diferentes cenários", disse Hilton Silveira Pinto, coordenador da sub-rede Agricultura e pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Os números foram apresentados durante a 1ª Conclima (Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais), que ocorre até a próxima sexta-feira (13), em São Paulo.

"Com o estudo sobre áreas cultivadas, temos agora uma lista de municípios com maior e menor risco de serem afetados por mudanças climáticas, um importante instrumento para pesquisa e tomadas de decisão", afirmou.

De acordo com o pesquisador, os trabalhos do grupo são encaminhados diretamente às instâncias governamentais, em especial por meio da Embrapa Informática Agropecuária, instituição coordenadora da sub-rede Agricultura.

Outra frente de atuação da equipe é a SCenAgri (Simulação de Cenários Agrícolas Futuros), que traça prognósticos para as próximas décadas considerando o aumento de temperatura, o regime de chuvas e a demanda climática de cada cultura.

O SCenAgri conta hoje com campos de plantio de 19 culturas, 3.313 estações de chuva com dados diários, 23 modelos globais e três modelos regionais de projeções climáticas.

Também há estudos com injeção de carbono na atmosfera, para verificar a resposta de plantações em uma superfície controlada, e treinamentos com modelos agrometeorológicos para pesquisas em produtividade nas condições atuais e futuras.



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