Conjunto de medidas para salvar a Lagoa de Piratininga

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Implantação de ciclovias e obras de pavimentação e drenagem são algumas das intervenções programadas


Raiana Collier | O Fluminense

Maltratada por anos, a Lagoa de Piratininga aguarda a entrada em uma nova fase de sua história. Para 2017, está no planejamento uma série de medidas que prometem melhora na conjuntura do entorno, como implantação de ciclovias e obras de pavimentação e drenagem. No ano passado, foi aprovada emenda que dedica R$ 450 mil especificamente para recuperação e estudo do sistema lagunar. Especialistas divergem sobre possíveis soluções definitivas para o sistema lagunar, mas entram em consenso sobre uma urgência: acabar com o depósito de esgoto nas lagoas. 


Especialistas divergem sobre possíveis soluções definitivas para o sistema lagunar, mas entram em consenso sobre a urgência de acabar com o depósito de esgoto | Foto: Evelen Gouvêa

Moradora do entorno da Lagoa de Piratininga, Alzira Paraquett lamenta a situação. Ela reflete o desespero dos moradores do bairro, que assistem a Lagoa definhar ano após ano. “Moro próximo ao DPO e é vergonhoso o que se vê por lá, esgotos na ciclovia, galinheiros gigantescos na orla, mato, entulhos”, comentou.

O biólogo Mário Moscatelli relata que, em sua última visita à região, no ano passado, viu de perto um panorama que vem se perpetuando há anos. “Os problemas históricos da região continuam: esgoto e assoreamento da Lagoa de Piratininga. Infelizmente, em pleno século 21, os problemas do século 20 continuam atingindo a população. Em toda a Região Metropolitana, nós vemos as lagoas sendo transformadas em latrinas”, avaliou.

O especialista aponta que é “fundamental” parar de jogar esgoto nas lagoas e executar um trabalho de desassoreamento visando dar sobrevida ao ecossistema. Ele sugere que seja feita avaliação de todos os estudos já elaborados sobre o assunto. O secretário-executivo de Niterói e engenheiro florestal, Axel Grael, defende que desde que começou-se a fazer um planejamento para estabelecer as prioridades em relação à gestão do sistema lagunar e da bacia hidrográfica em questão, houve um avanço no caminho de um programa de recuperação ambiental para a região. Ele conta, ainda, que o foco principal dessas melhoras está em Piratininga, que apresenta caráter mais emergencial.

Para Axel, a Lagoa de Itaipu passou pelo caos, mas se estabilizou. Na de Piratininga, isso ainda não aconteceu. Ele defende que lá existe uma quantidade maior de lodo (provocado pelo esgoto que, durante anos, foi depositado na Lagoa), agravada por sérios problemas de circulação da água. A oxigenação no interior da Lagoa de Piratininga é um tópico de discussão. Para ele, a falta de oxigênio não é um problema que acontece durante todo o ano. “A Lagoa tem problema de oxigênio em determinados períodos, por volta de maio e junho. Existe uma macroalga chamada ‘Cara’ que cresce muito rápido e em seu próprio processo de fotossíntese solta oxigênio na água. Só que quando ela morre, consome oxigênio. O que estamos planejando é montar uma rotina em que, quando chegar abril, retirarmos a alga. Assim, evitamos o processo de decomposição da alga. O ideal é que a gente consiga mecanizar isso. Teremos que inventar um manejo para resolver os problemas da Lagoa. É preciso ver uma forma de consumir o lodo”, detalhou.

Axel adianta que, essa semana, se reúne com o reitor da Universidade Federal Fluminense, Sidney Mello, para estudar soluções para o sistema lagunar. “O nosso maior problema é que não conhecemos os problemas da Lagoa. Por isso vamos trazer a universidade para nos ajudar. Temos muito mais perguntas do que respostas. Até hoje, muito se falou sobre a Lagoa, mas pouco se fez. E queremos fazer a coisa certa”, contou.

O Subcomitê do Sistema Lagunar de Itaipu/Piratininga (Clip) - que reúne representantes do poder público e da sociedade civil - continua se articulando para melhorar a situação no local. Para esse ano, a verba inicial é de R$ 450 mil que serão dedicados às duas lagoas. O geógrafo Luciano Paez foi escolhido para a gerência do Sistema Lagunar. A engenheira e coordenadora do Clip, Leila Heizer, afirmou que, para 2017, o subcomitê espera melhoras na conjuntura atualmente caótica que cerca a Lagoa. “Estamos com expectativa positiva porque existe uma perspectiva de obras boas para a região. A ciclovia, por exemplo, deve passar pela marginal da Lagoa, e vai funcionar como uma barreira. Isso vai impedir, por exemplo, que construções invadam esse espaço. Também deve colaborar em relação ao lixo. Muita gente deixa, por exemplo, entulho de obras no entorno da Lagoa. Isso deve diminuir”, disse.

Leila faz coro a Axel em relação à necessidade de estudos e implantação de medidas que, de fato, sejam capazes de resolver os problemas do sistema lagunar Itaipu-Piratininga como um todo. “Estamos acompanhando, junto à UFF, estudos para a melhoria da qualidade da água. Queremos buscar tecnologias que realmente funcionem, e não nos interessa só as lagoas limpas, mas também os rios, que são patrimônio inestimável”, detalhou.

Parque Orla - Com perspectiva de começo de obras este ano, o Parque Orla Piratininga - área de lazer náutico, pista de jogging, academias para terceira idade, adequação das ruas no entorno (infraestrutura de acesso), quiosques, banheiros e tratamento paisagístico - deve alterar o panorama no local. A expectativa é que problemas como descarte de lixo em pontos irregulares seja minimizado. “Toda aquela faixa de terra entre a ciclovia e o espelho d’água da Lagoa será o Parque Orla. Hoje, as pessoas vão lá e jogam lixo. Com o Parque, isso vai mudar. Até lá, precisamos contar com a colaboração das pessoas. As equipes da Clin vão lá, tiram, um mês depois está tudo de novo”, lamenta Axel.

O projeto deve exigir investimento de R$ 25 milhões. A Lagoa deve passar a ser pensada como ativo para a economia, utilidade para esportes náuticos e, consequentemente, turismo.


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