Reincidente, Vale sente o peso de escrever novo capítulo trágico em Minas Gerais

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Total de mortos em Brumadinho já chega a 37, quase o dobro de Mariana, onde a mineradora ainda responde por crimes na Justiça.

Empresa foi multada em 250 milhões de reais por Ibama e teve 11 bilhões de reais bloqueados


Heloísa Mendonça e Carla Jiménez | El País

Foi difícil para Minas Gerais superar a dor das 19 mortes em Mariana, região metropolitana de Belo Horizonte, quando a barragem se rompeu e a lama de dejetos devastou o local, comprometendo o ecossistema da região até os dias de hoje. Passados três anos, o sentimento de traição volta à baila no Brasil, em especial entre os mineiros. A Vale, mineradora fundada nos anos 1940, foi capaz de permitir que uma tragédia ainda maior que a de novembro de 2015 acontecesse em Brumadinho, com o rompimento da barragem de Feijão. Já são 34 mortes confirmadas. O número certamente irá subir, com a notícia de que a lama de rejeitos da mineradora alcançou um raio considerável. “Certamente há um culpado [pela tragédia de Brumadinho], ou mais de um culpado e o Ministério Público precisa trabalhar de forma adequada, sem espetacularização, na busca dos responsáveis pela tragédia”, disse a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que esteve em Brumadinho neste sábado.

Bombeiros fazem busca entre os escombros deixados pela lama em Brumadinho | A.LACERDA (EFE)

Mais direto, o ministro da Advocacia Geral da União, André Mendonça, colocou no colo da Vale o peso da tragédia. “ Há uma responsabilidade pelo que aconteceu. A responsável por isso, pelo risco do próprio negócio, é a Vale do Rio Doce”, disse Mendonça. O ministro disse esperar o levantamento dos órgãos técnicos que vão verificar a extensão dos danos para saber como serão adotadas as medidas de responsabilidade “civil, administrativa e até mesmo criminal”, completou o ministro. Por ora, a Justiça estadual acolheu o pedido do governo de Minas Gerais e do Ministério Público do Estado de bloquear 6 bilhões de reais da mineradora.

Os custos para a empresa, porém, não se comparam à dor infindável que familiares encararam ao longo do sábado em busca de informações sobre seus entes desaparecidos. Além de funcionários diretos e terceirizados que se encontravam no local na hora que a barragem rompeu, pessoas que viviam no entorno também foram atingidas. Muitos familiares reclamavam do descaso da Vale e do desencontro de informações no local. “O mais angustiante é não ter notícia do meu marido seja ela qual for”, lamentava Lucilene Ferreira na Estação Conhecimento, um espaço da Vale, usado para receber familiares e amigos de pessoas que estão desaparecidas. Ferreira encontrou o nome do companheiro Emerson José Augusto da Silva, que trabalhava como terceirizado da mineradora, em uma lista de pessoas que a empresa não conseguiu fazer contato. Ela reclamava, no entanto, por mais informações: “o que significa isso? Ele ainda pode ser encontrado?”

O sentimento dela era compartilhado por dezenas de pessoas que também acudiram ao local em busca de novidades, mas saíam sem respostas concretas e muitas em prantos. Algumas não achavam o nome do parente em parte alguma. Mariana Dias da Conceição, 28 anos, veio de Barbacena, a 180 km de distância, atrás de informações do irmão, que trabalhava na mina como auxiliar de segurança no momento do rompimento da barragem. Para o seu desespero, no entanto, no início da tarde, ela continuava esperando por uma mínima novidade. Conceição chegou a ser atendida por uma psicóloga voluntária que trabalhava na Estação Conhecimento.

No meio da tarde, era grande o número de voluntários que tentavam ajudar os parentes e amigos de vítimas, muitos em choque com a situação. Havia também guichês onde as famílias podiam conferir as listas de pessoas encontradas e desaparecidas e, também, fornecer dados.

Carine não conseguia notícias da irmã Camila Aparecida da Fonseca Silva, de 16 anos. A jovem trabalha na pousada Nova Instância, em Brumadinho, onde 35 pessoas são dadas como desaparecidas pelos bombeiros. O estabelecimento é um dos mais luxuosos da região e o preferido dos artistas que visitam o museu de Inhotim. “Como ela não era funcionária da Vale eles não estão preocupados. Tem chances de ter alguém lá. Se eles não querem ir lá que libere a família, a gente vai procurar até encontrar”, dizia Carine consternada. “Era o primeiro emprego dela, não tinha nem um mês, e acontece uma coisa dessas”, lamentava a irmã.


Ao longo do dia, era grande o número de voluntários que tentavam ajudar os parentes e amigos de vítimas, muitos em choque com a situação. Havia também guichês onde as famílias podiam conferir as listas de pessoas encontradas e desaparecidas e, também, fornecer dados. As buscas foram interrompidas no final do dia, e serão retomadas a partir das 4 da manhã deste domingo.

O acidente ganhou destaque no mundo todo, e atraiu a solidariedade do premiê israelense Benjamin Netanyahu, que telefonou para o presidente Jair Bolsonaro. “Ofereci ajuda de Israel para a assistência na busca de sobreviventes”, escreveu o premiê no Twitter. Segundo o presidente Bolsonaro, Israel vai emprestar tecnologia avançada para colaborar na busca de desaparecidos.


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