Pesquisadores da Ufes - Universidade Federal do Espírito Santo descobriram um novo e simpático habitante da mata atlântica, batizado por eles de Juliomys ossitenuis. Trata-se de um pequeno roedor de pêlos alaranjados, que vive em árvores nas regiões mais montanhosas do ecossistema.
O bicho foi descrito por uma equipe coordenada pela pesquisadora Leonora Pires Costa e, por enquanto, parece estar presente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, em locais com altitude acima de 800 m. Em média, ele não passa de uns 20 cm de comprimento (incluindo a cauda) e provavelmente se alimenta de frutas – os estudos ainda são preliminares demais para afirmar isso com certeza.
“Isso mostra como ainda sabemos pouco sobre a biodiversidade da mata atlântica e sul-americana, em especial em relação aos pequenos mamíferos”, afirma Costa. “Os novos dados estão aparecendo de forma exponencial.” Ela cita o exemplo dos didelfídeos, a família dos gambás e cuícas: de 1993 para cá, o número de espécies conhecidas do grupo subiu quase 70%.
A primeira pista de que poderia se tratar de um bicho até então desconhecido veio durante os estudos de doutorado de Costa, que foram realizados na Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos). Com a ajuda de seu orientador, James L. Patton, ela estava analisando o DNA do que parecia ser um roedor já conhecido, o Juliomys pictipes, quando deu de cara com algumas seqüências suspeitas, aparentemente bem distintas do padrão dessa espécie.
“A partir daí nós intensificamos a coleta de espécimes e passamos a examinar também detalhes morfológicos desses indivíduos geneticamente diferentes”, conta ela. Um dos traços típicos do Juliomys ossitenuis é o tamanho, mais modesto do que o dos demais membros de seu gênero. Seu crânio e seus ossos também são mais delicados – daí o latim ossitenuis, “ossos delgados”. (A primeira parte do nome homenageia o zoólogo argentino Julio Contreras.)
Teste de DNA - Mas a grande diferença entre o bichinho e seus parentes evolutivos está realmente no DNA. No estudo, publicado na revista científica “Zootaxa”, os pesquisadores usaram um gene das mitocôndrias, as usinas de energia das células, muito útil para medir a variabilidade dentro e fora de uma espécie.
Ao comparar a versão desse gene presente no novo roedor com o de seus primos do gênero Juliomys, os pesquisadores constataram uma diferença em torno de 14%. É bastante significativo, já que o gene, dentro de membros da mesma espécie, não costuma variar mais do que 2,5%. Outros dados genéticos corroboram a análise.
O curioso é que, apesar da diferença genética, o novo roedor parece conviver com seu primo J. pictipes. É difícil dizer como as duas espécies acabaram se diferenciando apesar da proximidade. “É uma pergunta interessante, mas nós ainda não temos muitos dados a esse respeito. Pode ser que seja um contato secundário, ou seja, primeiro as populações se separaram geograficamente e divergiram e só depois voltaram a conviver”, diz a pesquisadora da Ufes.
Embora a existência do bicho num ecossistema tão ameaçado quanto a mata atlântica só tenha sido constatada agora, isso não significa automaticamente que ele esteja sob risco de extinção. Um sinal encorajador é sua presença em matas espalhadas por vários estados do Sudeste. Outro, mais preocupante, é o fato de ele habitar regiões montanhosas – com o aquecimento global a galope, a tendência é que os ambientes mais elevados acabem se modificando, encolhendo o espaço para os bichos que vivem neles, lembra Costa.
O trabalho recebeu apoio financeiro das ONGs Fundação Biodiversitas e WWF-Brasil, da National Geographic Society e do CEPF - Critical Ecosystem Partnership Fund. (Reinaldo José Lopes/ Globo Online)
O bicho foi descrito por uma equipe coordenada pela pesquisadora Leonora Pires Costa e, por enquanto, parece estar presente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, em locais com altitude acima de 800 m. Em média, ele não passa de uns 20 cm de comprimento (incluindo a cauda) e provavelmente se alimenta de frutas – os estudos ainda são preliminares demais para afirmar isso com certeza.
“Isso mostra como ainda sabemos pouco sobre a biodiversidade da mata atlântica e sul-americana, em especial em relação aos pequenos mamíferos”, afirma Costa. “Os novos dados estão aparecendo de forma exponencial.” Ela cita o exemplo dos didelfídeos, a família dos gambás e cuícas: de 1993 para cá, o número de espécies conhecidas do grupo subiu quase 70%.
A primeira pista de que poderia se tratar de um bicho até então desconhecido veio durante os estudos de doutorado de Costa, que foram realizados na Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos). Com a ajuda de seu orientador, James L. Patton, ela estava analisando o DNA do que parecia ser um roedor já conhecido, o Juliomys pictipes, quando deu de cara com algumas seqüências suspeitas, aparentemente bem distintas do padrão dessa espécie.
“A partir daí nós intensificamos a coleta de espécimes e passamos a examinar também detalhes morfológicos desses indivíduos geneticamente diferentes”, conta ela. Um dos traços típicos do Juliomys ossitenuis é o tamanho, mais modesto do que o dos demais membros de seu gênero. Seu crânio e seus ossos também são mais delicados – daí o latim ossitenuis, “ossos delgados”. (A primeira parte do nome homenageia o zoólogo argentino Julio Contreras.)
Teste de DNA - Mas a grande diferença entre o bichinho e seus parentes evolutivos está realmente no DNA. No estudo, publicado na revista científica “Zootaxa”, os pesquisadores usaram um gene das mitocôndrias, as usinas de energia das células, muito útil para medir a variabilidade dentro e fora de uma espécie.
Ao comparar a versão desse gene presente no novo roedor com o de seus primos do gênero Juliomys, os pesquisadores constataram uma diferença em torno de 14%. É bastante significativo, já que o gene, dentro de membros da mesma espécie, não costuma variar mais do que 2,5%. Outros dados genéticos corroboram a análise.
O curioso é que, apesar da diferença genética, o novo roedor parece conviver com seu primo J. pictipes. É difícil dizer como as duas espécies acabaram se diferenciando apesar da proximidade. “É uma pergunta interessante, mas nós ainda não temos muitos dados a esse respeito. Pode ser que seja um contato secundário, ou seja, primeiro as populações se separaram geograficamente e divergiram e só depois voltaram a conviver”, diz a pesquisadora da Ufes.
Embora a existência do bicho num ecossistema tão ameaçado quanto a mata atlântica só tenha sido constatada agora, isso não significa automaticamente que ele esteja sob risco de extinção. Um sinal encorajador é sua presença em matas espalhadas por vários estados do Sudeste. Outro, mais preocupante, é o fato de ele habitar regiões montanhosas – com o aquecimento global a galope, a tendência é que os ambientes mais elevados acabem se modificando, encolhendo o espaço para os bichos que vivem neles, lembra Costa.
O trabalho recebeu apoio financeiro das ONGs Fundação Biodiversitas e WWF-Brasil, da National Geographic Society e do CEPF - Critical Ecosystem Partnership Fund. (Reinaldo José Lopes/ Globo Online)