Biólogos travam uma verdadeira batalha contra o desequilíbrio ecológico causado pela proliferação de espécies exóticas invasoras em águas brasileiras. Entre elas, estão certos tipos de peixes, plantas aquáticas, como algumas braquiárias e aguapés, cianobactérias e mexilhões dourados, responsáveis por danos ambientais de regiões inteiras e por grandes prejuízos econômicos. Para conter o avanço dessas pragas, que preferem ambientes com água aquecida e se reproduzem ainda mais com o aumento das temperaturas, os pesquisadores contam com trabalhos de prevenção e investem em estudos sobre a ocorrência desses seres na natureza. Espécie invasora ou exótica é aquela que não é natural do ambiente e pode ser prejudicial a ele, alterando as características e o equilíbrio natural de outras comunidades. Como não têm inimigos naturais, como predadores, competidores e parasitas, se reproduzem rapidamente em grandes quantidades.
Barcos pequenos que circulam nos rios no transporte de passageiros ou são usados para pesca esportiva e profissional disseminam a espécie pelos portos menores. O mexilhão pode chegar em forma de larva ou adulto, nos cascos das embarcações, motores e equipamentos de pesca. As aves aquáticas migratórias também podem carregar larvas ou mexilhões jovens nas penas e nos pés. Peixes e alguns crustáceos também colaboram para a dispersão da praga.
Desde 2000, está em curso o estudo Desenvolvimento de metodologias e pesquisas no ecossistema e em plantas de usinas de hidrelétricas para controle de mexilhão-dourado, da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), com a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec). Os pesquisadores descobriram, ao longo desses nove anos, alguns produtos que matam o mexilhão, como cloro, hidróxido de sódio e ozônio. Para prevenir e controlar a praga, está em teste ainda o uso de cobre em algumas tintas e superfícies de embarcações, a limpeza delas, substituição de filtros nas usinas, o aumento da temperatura da água próximo às turbinas (o mexilhão não resiste a mais de 40 graus), o controle da água de lastros e de eclusas (espécie de elevadores para os barcos transporem as barragens).
Em Minas, o principal desafio é impedir que os moluscos ultrapassem a barreira da Usina de São Simão (a maior geradora da Cemig), no Alto Paranaíba, na divisa com o estado de Goiás. No Rio Paraná, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) também sente os efeitos da incrustação do mexilhão. Num trabalho de desinfecção de barcos, a Marinha recomendou que o lastro seja feito em altomar, onde a salinidade é maior e os mexilhões não resistem.
ITAIPU
Na Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, o Limnoperna fortunei não chegou a atingir as máquinas e o trabalho está concentrado no controle e limpeza das tomadas de água por onde o molusco entra. De acordo com o veterinário da usina, Domingo Rodriguez Fernandez, a empresa tem três sistemas e trabalha com apenas dois, o que possibilita fazer a limpeza de um, sem interromper o processo. Itaipu gasta, por ano, cerca de US$ 20 mil e horas extras com a limpeza em toda a usina. "É um problema crônico porque não é possível resolvê-lo, mas que não inviabiliza as atividades desde que haja aumento no controle e no trabalho de manutenção. Depois que chega a uma área, só resta conviver com ele", afirma Domingo.
"Hoje, o maior problema não é com as usinas, mas principalmente ambiental. Descobriu-se que o cloro mata, mas, até chegar à estação de tratamento, a população de mexilhões já entupiu os canos e, para alterar o quadro, gasta-se muito dinheiro. Itaipu e Pantanal são exemplos de reservatórios já infestados", afirma a bióloga da Superintendência de Gestão Ambiental da Cemig Hélen Mota. Segundo ela, a Cemig faz testes com produtos que podem matar o mexilhão e ao mesmo tempo não agredir o meio ambiente. Outro desafio é estudar as formas de controle e a ecologia do molusco, que ainda não são muito conhecidas.