Espécies invasoras

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Sem inimigos naturais no Brasil, mexilhões-dourados se disseminam de forma rápida, comprometendo o equilíbrio ecológico e causando enorme prejuízo financeiro
 
Estado de Minas

Biólogos travam uma verdadeira batalha contra o desequilíbrio ecológico causado pela proliferação de espécies exóticas invasoras em águas brasileiras. Entre elas, estão certos tipos de peixes, plantas aquáticas, como algumas braquiárias e aguapés, cianobactérias e mexilhões dourados, responsáveis por danos ambientais de regiões inteiras e por grandes prejuízos econômicos. Para conter o avanço dessas pragas, que preferem ambientes com água aquecida e se reproduzem ainda mais com o aumento das temperaturas, os pesquisadores contam com trabalhos de prevenção e investem em estudos sobre a ocorrência desses seres na natureza. Espécie invasora ou exótica é aquela que não é natural do ambiente e pode ser prejudicial a ele, alterando as características e o equilíbrio natural de outras comunidades. Como não têm inimigos naturais, como predadores, competidores e parasitas, se reproduzem rapidamente em grandes quantidades.

Em Minas Gerais, uma das principais espécies exóticas é o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei). É um tipo de molusco originário da Ásia, que chegou às águas brasileiras pela Região Sul.
 
Esse é um exemplar de água doce, natural do Sudeste asiático (Vietnã, Laos, Camboja, parte da China e da Tailândia), e acredita-se que chegou ao Brasil transportado em navios, no início da década de 1990.
 
Atualmente, é considerada uma praga em países como China, Coreia, Japão e Taiwan, causando alterações ambientais e prejuízos econômicos nos locais onde se instalou. No país, em apenas 10 anos, conseguiu se espalhar por quase toda a Bacia do Prata, chegando ao Rio Paraná com densidades que podem superar 120 mil indivíduos por metro cúbico.

Barcos pequenos que circulam nos rios no transporte de passageiros ou são usados para pesca esportiva e profissional disseminam a espécie pelos portos menores. O mexilhão pode chegar em forma de larva ou adulto, nos cascos das embarcações, motores e equipamentos de pesca. As aves aquáticas migratórias também podem carregar larvas ou mexilhões jovens nas penas e nos pés. Peixes e alguns crustáceos também colaboram para a dispersão da praga.

Desde 2000, está em curso o estudo Desenvolvimento de metodologias e pesquisas no ecossistema e em plantas de usinas de hidrelétricas para controle de mexilhão-dourado, da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), com a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec). Os pesquisadores descobriram, ao longo desses nove anos, alguns produtos que matam o mexilhão, como cloro, hidróxido de sódio e ozônio. Para prevenir e controlar a praga, está em teste ainda o uso de cobre em algumas tintas e superfícies de embarcações, a limpeza delas, substituição de filtros nas usinas, o aumento da temperatura da água próximo às turbinas (o mexilhão não resiste a mais de 40 graus), o controle da água de lastros e de eclusas (espécie de elevadores para os barcos transporem as barragens).

Em Minas, o principal desafio é impedir que os moluscos ultrapassem a barreira da Usina de São Simão (a maior geradora da Cemig), no Alto Paranaíba, na divisa com o estado de Goiás. No Rio Paraná, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) também sente os efeitos da incrustação do mexilhão. Num trabalho de desinfecção de barcos, a Marinha recomendou que o lastro seja feito em altomar, onde a salinidade é maior e os mexilhões não resistem.

ITAIPU

Na Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, o Limnoperna fortunei não chegou a atingir as máquinas e o trabalho está concentrado no controle e limpeza das tomadas de água por onde o molusco entra. De acordo com o veterinário da usina, Domingo Rodriguez Fernandez, a empresa tem três sistemas e trabalha com apenas dois, o que possibilita fazer a limpeza de um, sem interromper o processo. Itaipu gasta, por ano, cerca de US$ 20 mil e horas extras com a limpeza em toda a usina. "É um problema crônico porque não é possível resolvê-lo, mas que não inviabiliza as atividades desde que haja aumento no controle e no trabalho de manutenção. Depois que chega a uma área, só resta conviver com ele", afirma Domingo.

"Hoje, o maior problema não é com as usinas, mas principalmente ambiental. Descobriu-se que o cloro mata, mas, até chegar à estação de tratamento, a população de mexilhões já entupiu os canos e, para alterar o quadro, gasta-se muito dinheiro. Itaipu e Pantanal são exemplos de reservatórios já infestados", afirma a bióloga da Superintendência de Gestão Ambiental da Cemig Hélen Mota. Segundo ela, a Cemig faz testes com produtos que podem matar o mexilhão e ao mesmo tempo não agredir o meio ambiente. Outro desafio é estudar as formas de controle e a ecologia do molusco, que ainda não são muito conhecidas.

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