Ainda faltam dois meses para o fechamento dos dados, que, se confirmados, poderão indicar uma redução recorde. Apesar do bom resultado, de agosto de 2009 a maio deste ano foi registrado o corte de 1.567 km² - área maior que a cidade de São Paulo
Marta Salomon / Brasília - O Estado de S.Paulo
Faltando apenas dois meses para o período de coleta de dados da taxa anual de desmatamento, o ritmo de abate de árvores na Amazônia indica uma queda de 47%. A redução é maior que a registrada no ano passado, de 42% - até então um recorde nacional.
A indicação de nova queda aparece nos dados acumulados durante dez meses - entre agosto de 2009 e maio de 2010 - pelo Deter, o sistema de detecção do desmatamento em tempo real. Divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Deter é usado para orientar a ação de fiscais no combate à devastação da Amazônia.
O Deter captou desde agosto passado o corte de 1.567 km² da Floresta Amazônica, área maior do que a cidade de São Paulo. Mas o sistema conta apenas uma parte da história do que acontece na região.
Mais rápido e menos preciso, o Deter não capta desmatamentos em áreas com menos de 50 hectares (meio quilômetro quadrado). Vem daí a principal diferença entre o sistema de detecção do desmatamento em tempo real e o Prodes, que mede a taxa oficial, divulgada ao final de cada ano.
No ano passado, o Prodes mediu redução recorde de 42% no ritmo do desmatamento. A área abatida foi a menor desde o início da série histórica do Inpe, em 1988. Entre agosto de 2008 e julho de 2009 foram devastados 7.464 km² de floresta, ou cerca de cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo. No ano anterior, a Amazônia havia perdido quase 13 mil km² de floresta.
Essa queda recorde foi registrada depois de um ano de interrupção em um período de queda do abate de árvores, que vinha se mantendo desde 2004, e de uma crise no governo. Foi resultado sobretudo do aumento de fiscalização e de medidas como o corte de crédito aos desmatadores e o embargo da produção em áreas de abate ilegal de árvores.
A nova taxa oficial de desmate ainda depende das medições dos satélites em junho e julho, que tradicionalmente apresentam ritmo acelerado de corte de árvores. O período mais complicado na preservação da floresta começa com o fim das chuvas na região e segue até outubro.
Ranking. Em maio, o Inpe registrou 11,4% de desmatamento a menos do que no mesmo mês de 2009, dado que contribuiu para a queda de 47% acumulada desde agosto. O Estado de Mato Grosso lidera mais uma vez o ranking dos desmatadores, seguido pelo Pará.
Contribuiu para o resultado em maio a presença de menos nuvens cobrindo Mato Grosso. As nuvens atrapalham as imagens de satélites e tornam menos precisas as medições.
Leitura dos dados de satélites feita pela ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia também aponta queda em maio, mas aponta para um aumento de 7% no acumulado entre agosto de 2009 e 2010.
Para entender
1. Deter
É um sistema de alerta para auxiliar no controle do desmatamento. Indica áreas de corte raso (completa retirada da floresta) e que foram degradadas. Enxerga desmates maiores que 25 hectares.
2. Prodes
Sistema usado para calcular a taxa anual do desmatamento. Detecta exclusivamente o corte raso em polígonos superiores a 6,25 hectares.
Dados sugerem quebra de padrão
Uma nova queda significativa no ritmo do desmatamento foge às expectativas para 2010, até no próprio governo. Anos eleitorais costumam ser mais complicados, pois a ação dos fiscais fica vulnerável a pressões políticas. A apreensão de uma motosserra pode tirar votos do candidato governista.
Este ano, a luta contra o desmate contou ainda com complicadores como o crescimento econômico, que estimula a busca por mais áreas para a pecuária, e a greve de fiscais do Ibama, que cancelou operações. Mas o principal vilão do desmate tem um novo padrão. Até 2005, a maior parcela da devastação ocorria em grandes áreas. Desde então, vem crescendo o abate em áreas menores, que os satélites do Deter não captam.
Somadas, muitas áreas pequenas devastadas podem fazer com que a queda do desmate, no fim do ano, não seja tão significativa como sugerem os dados divulgados até agora.